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Manifestações no Parlamento assustam mas também servem para espantar solidão

Os bairros em torno da Assembleia da República têm sido "fustigados" com manifestações quase diárias. Há moradores que, já fartos, se isolam em casa, mas também há quem aproveite as contestações para espantar a solidão.

Manifestações no Parlamento assustam mas também servem para espantar solidão
Notícias ao Minuto

08:00 - 06/12/12 por Lusa

País Moradores

O largo em frente à escadaria do parlamento transformou-se no principal palco de contestação nacional: nos dois últimos meses, houve pelo menos 24 dias em que a praça acolheu contestações, vigílias, acampamentos, conferências de imprensa e até cercos, segundo um levantamento feito pela Lusa.

Muitos manifestantes desceram pela Rua de São Bento, desfilando por baixo da janela de Maria Fernanda de Sá, de 82 anos. Do 4º andar do centenário prédio de azulejos azuis e brancos, avista-se a entrada lateral do parlamento e o novo edifício da Assembleia. Nos dias de manifestação, Maria Fernanda não sai de casa.

"Tenho medo. É uma seita brava. São uns malcriados", desabafa a senhora baixinha de cabelos brancos. Lá em baixo, a rua parece próxima. Quando há contestações, as portadas brancas e verdes da sua casa são encerradas.

Nesses dias, também as portas da vizinha de baixo se fecham. No início, Rosalina Rocha ainda espreitava para tentar perceber quem eram e o que reivindicavam. Mas com o aumento das manifestações, passou a aferrolhar as portadas das três divisões da casa que dão para a Rua de S. Bento, em Lisboa.

Rosalina garante que as concentrações não a atemorizam, mas deixam-na ansiosa: "Não fazem mal a ninguém nem incomodam, mas complica-me com os nervos vê-los a manifestarem-se cheios de razão e os políticos não os ouvirem", diz.

Defensora das manifestações, imagina que se não tivesse 79 anos também ia para a rua protestar contra a situação dos reformados e dos pensionistas.

No bairro "há cada vez mais pessoas com dificuldades que têm engrossado as manifestações", diz o presidente da Junta de Freguesia de Santos-O-Velho, Luís Monteiro, lembrando que ali vivem "moradores de uma classe média, que deixou de existir".

"Esta zona tem sido fustigada com muitas manifestações, que passaram a ser quase diárias. Penso que em 2013 ainda se vão agravar", alerta Luís Monteiro.

Para Helena Pessoa a previsão do autarca tem um lado positivo: as manifestações são uma distracção para a reformada de 84 anos. É da sua varanda, no 3º andar, que assiste a tudo. Ou quase tudo. "Quando foi aquela manifestação com violência, eu não consegui ver, porque daqui não se vê o fim da escadaria onde tudo aconteceu", recorda, lamentando que o ângulo de visão da sua varanda não seja o melhor. Apesar de viver a poucos metros do parlamento, foi pela televisão que assistiu às imagens de violência entre manifestantes e polícias, a 14 de Novembro.

Helena gosta dos protestos porque lhe quebram a rotina: "De manhã arrumo a casa e depois fico livre. Se houver uma manifestação, venho para aqui e sempre vai passando o tempo. E há cada vez mais".

Segundo um levantamento feito pela agenda da Lusa, no primeiro semestre, as manifestações rondaram as três ou quatro por mês. Depois das férias, as contestações foram aumentando, passando de cinco em Setembro, para 12 em Outubro e 11 em Novembro.

Depois de um início de ano marcado por protestos às alterações ao Código de Trabalho, registaram-se 20 ‘protestos anti-relvas’, que começaram com as críticas à licenciatura do ministro.

As concentrações contra o Orçamento do Estado e a revolta dos estivadores encheram o Largo, onde até acamparam artistas. Os estudantes exigiram mais ensino, os inquilinos contestaram as leis do arrendamento e dos despejos e os representantes da hotelaria o aumento do IVA. A "crise no sector" juntou produtores de leite e agricultores e a 15 de Outubro deu-se um "Cerco a S. Bento", por causa do OE. Duas semanas depois, pais e filhos foram chamados para montar soldadinhos de plástico a sitiar a AR.

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