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Os novos perigos do combate a um Estado Islâmico sem califado

Com a perda de Raqa e Mosul, na Síria e no Iraque, o projeto de califado do grupo jihadista Estado Islâmico foi derrotado, mas a organização ainda representa um perigo para o resto do mundo, disse à Lusa uma especialista.

Os novos perigos do combate a um Estado Islâmico sem califado
Notícias ao Minuto

08:12 - 11/11/17 por Lusa

Mundo Especialista

"Os avanços das forças da coligação são encorajadores, mas vencer batalhas e reconquistar território não vai parar o Estado Islâmico (EI). São precisas mudanças gerais nos governos [da região] para o conseguir", salientou Vera Mironova, investigadora do Centro Belfer, da Universidade de Harvard, nos Estados Unidos.

A especialista passou o último ano integrada nas forças militares iraquianas que combatem os jihadistas no Médio Oriente.

Nos últimos quatro anos, também entrevistou dezenas de membros daquela organização e ex-combatentes que regressaram aos seus países de origem na Europa.

"O grupo já não tem um califado, perdeu quase todo o seu território, mas continua a combater, tanto na Síria como no Iraque, com consequências fortes para as populações locais. Uma vitória total é difícil de conseguir. Esta vitória é parcial", garante.

Mironova diz que estes combates devem continuar, até porque os combatentes têm poucas opções.

"O Conselho de Segurança da ONU decidiu, por unanimidade, que todos seriam julgados no Iraque. E no Iraque existe pena de morte. Por isso eles têm de tomar a decisão entre continuar a combater, e muito provavelmente morrer a fazê-lo, ou ser apanhado pelos iraquianos e ser condenado à morte", explica.

Em 2014, o grupo controlava uma população de 7 a 8 milhões de pessoas, poços de petróleo e refinarias, arsenais de armas e outro equipamento militar, argumentos que o tornavam um instrumento de jihad (guerra santa) inédito.

Em julho, perdeu Mosul, no Iraque, que tinha sido a sua capital, e no mês passado perdeu Raqa, na Síria. Desde 2014, cerca de 60 mil dos seus combatentes morreram, de acordo com as forças armadas dos EUA.

Uma pesquisa também mostra que a distribuição de informação do grupo, uma das suas grandes ferramentas de propaganda, caiu dois terços desde a queda de Mosul e terminou completamente a meio de setembro.

"Ainda existem grandes pacotes de resistência, mas agora o mais provável é o regresso do EI aos seus movimentos de insurreição, que tinha antes dos ganhos territoriais de 2014", explica Mironova.

A especialista diz que, sem território e sem tudo o que antes conseguia oferecer aos seus combatentes, os líderes do EI contam agora com ataques terroristas para mobilizar e radicalizar outros muçulmanos, uma estratégia que já tem usado.

O diretor do MI5, Andrew Parker, alertou há poucas semanas para um possível "aumento dramático" de terrorismo islâmico, sobretudo devido ao possível regresso de 850 britânicos, mas disse que esses regressos ainda não eram significativos.

"Não acredito que os combatentes estrangeiros que regressem sejam um grande perigo. Estive com eles nos últimos anos. Vêm desiludidos, lutaram e viram que não vale a pena. Acho que o maior perigo reside naqueles que nunca chegaram a partir e que se continuaram a radicalizar nos seus países", explica Mironova.

A Europa tem tido dificuldades em seguir todos os homens e mulheres que regressam, mas nenhum dos ataques que tiveram lugar nos últimos foram realizados por um destes combatentes retornados.

A possibilidade mais real neste momento, diz a investigadora de Harvard, é o EI "continuar a inspirar outras pessoas a cometer as atrocidades que cometeu nos últimos anos."

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