Eleições antecipadas na Irlanda do Norte consideradas as mais importantes
As eleições legislativas que se realizam na Irlanda do Norte na quinta-feira foram classificadas "as mais importantes desta geração" por colocarem em risco a estabilidade dos últimos anos graças à partilha de poder entre católicos e protestantes.
© Reuters
Mundo Geração
A primeira-ministra cessante do governo autónomo e líder do Partido Democrático Unionista (DUP), Arlene Foster, enfatizou a relevância deste escrutínio por recear que o principal partido rival, o Sinn Féin), consiga arrecadar a maioria dos votos e assumir o comando do executivo.
"Todos os votos vão contar", escreveu num artigo publicado no jornal Belfast Telegraph, apelando ao voto útil dos unionistas, aqueles que defendem a permanência da Irlanda do Norte no Reino Unido e normalmente identificados como protestantes.
As eleições foram convocadas apenas 10 meses após as últimas eleições, em maio de 2016, quando o DUP arrecadou 29% dos votos, conquistando 38 dos 108 assentos na Assembleia, contra os 24% do SF, equivalentes a 28 deputados.
O resultado manteve o modelo do governo autónomo dos últimos dez anos: o DUP ganhou o direito a nomear o chefe do executivo e o lugar de número dois foi ocupado pelo Sinn Féin, braço político do extinto Exercito Republicano Irlandês (IRA, na sigla em inglês) e que representa os interesses católicos irlandeses na aspiração de integração na República da Irlanda.
A partilha do poder foi determinada pelo chamado Acordo de Belfast, ou Acordo de Sexta-Feira Santa, no âmbito do Acordo de Paz de 1998 que estipulou que os dois postos seriam distribuídos pelos dois partidos mais votados.
Porém, as eleições foram forçadas porque o vice primeiro-ministro Martin McGuinness, ex-líder do Sinn Féin, demitiu-se, em divergência com Foster, a quem imputa responsabilidades nas alegadas irregularidades de um programa de incentivo às empresas para o uso de energias renováveis.
Porém, as diferenças entre os dois partidos são mais extensas e analistas têm aludido ao oportunismo político dos nacionalistas irlandeses, que reivindicam a união com a República da Irlanda.
Os unionistas fizeram campanha a favor do 'Brexit', opõem-se ao casamento homossexual e a uma lei que promova o ensino do gaélico irlandês, causas apadrinhadas pelo Sinn Féin, que é um acérrimo defensor da permanência na União Europeia.
As eleições antecipadas foram também uma oportunidade para renovar a liderança dos nacionalistas republicanos, que viram a ministra da saúde Michelle O'Neill substituir na liderança Martin McGuinness, uma figura histórica no movimento que alegou problemas de saúde para se retirar.
McGuinness, que esteve em funções 10 anos, é também conhecido por ter sido um dos líderes do IRA, organização responsável por vários atentados e protagonista da violência que dominou a região durante três décadas.
Nas eleições serão eleitos 90 deputados da Assembleia da Irlanda do Norte, menos 18 do que em 2016, uma medida destinada a reduzir custos e que poderá ter algum impacto no resultado final.
Além do Sinn Féin e do Partido Democrático Unionista, concorrem o Partido Unionista do Ulster, liderado por Mike Nesbitt, e o Partido Social Democrata e Trabalhista, liderado por Colum Eastwood, e a Aliança, encabeçado por Naomi Long.
Participam ainda outros partidos mais pequenos e candidatos independentes, que poderão beneficiar do sistema de eleição proporcional, que é diferente do voto de maioria simples usado nas eleições nacionais britânicas.
Após a eleição, os dois principais partidos terão de chegar a acordo para formar governo, o que poderá ser complicado se o Sinn Féin e o DUP mantiverem o 'status quo', evidenciando a divisão histórica na sociedade norte-irlandesa que durante 30 anos alimentou um conflito no qual morreram cerca de 3.500 pessoas.
Apesar de o cessar-fogo ser respeitado com exceção de apenas alguns grupos dissidentes, as comunidades católicas e protestantes continuam divididas, com proeminência para alguns muros construídos na capital, Belfast, para evitar confrontos e que ainda se mantêm de pé.
A nova líder do Sinn Féin, Michelle O'Neill, já avisou que não aceitará formar governo enquanto não for esclarecido o papel de Arlene Foster no descarrilamento do programa de energia em vários milhões de euros.
O ministro para a Irlanda do Norte, James Brokenshire, alertou para o risco de as incompatibilidades se agudizarem, impossibilitando a formação de um governo de coligação, o que, em último caso, poderia levar ao retorno da autoridade sobre Belfast para Londres.
"Esta eleição pode acentuar divisões e ameaçar a continuidade das instituições autónomas", alertou.
Os resultados oficiais só são esperados a meio do dia de sábado.
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