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Adesão da Croácia à UE não teve os efeitos esperados pelos pró-europeus

A maioria da população da Croácia mantém o apoio à integração na União Europeia (UE), aprovada em referendo em 22 de janeiro de 2012, mas a adesão não forneceu os resultados esperados pelas forças pró-europeias, disse à Lusa um académico croata.

Adesão da Croácia à UE não teve os efeitos esperados pelos pró-europeus
Notícias ao Minuto

09:42 - 20/01/17 por Lusa

Mundo Académico

"A integração plena da Croácia na UE em 01 de julho de 2013 não forneceu os resultados esperados pelas forças pró-europeias. Em parte, porque o mundo entrou em crise económica, mas os croatas ficaram na generalidade desapontados", assinalou à Lusa Tvrtko Jakovina, 44 anos, professor de História do Mundo do século XX na Faculdade de Humanidades e Ciências Sociais da universidade de Zagreb.

Numa entrevista a propósito dos cinco anos do referendo que ditou a adesão da Croácia à UE, o académico, autor de diversos livros sobre o século XX, incluindo manuais escolares, e colaborador regular de dois diários croatas, explicou que "a UE era encarada de forma muito positiva pelos círculos liberais, (...) mais modernos, e não nacionalistas".

"Mas também o facto de a Sérvia não integrar o clube, enquanto a Croácia se juntava ao clube europeu, foi a razão que implicou o apoio à integração pelos croatas de direita ou pelos círculos nacionalistas", frisou.

Os círculos nacionalistas croatas, associados à direita mais radical, foram assim decisivos para a legitimação da adesão ao clube europeu.

"Discordavam de muitas ideias europeias, defendem fronteiras fechadas, mas o facto de 'sermos diferentes, sermos melhores que os sérvios', tornou-se um forte argumento para os nacionalistas croatas. Por isso, essa ideia foi relativamente apoiada no referendo, e depois. Hoje existem muito poucas forças que se reivindicam anti-UE".

Em 22 de janeiro de 2012, 66,67% dos croatas aprovaram a integração plena na UE (33,33% contra) num referendo com uma taxa de participação de 43,51%. Foi a primeira consulta desde o referendo sobre a independência da Croácia que decorreu em 1991.

Tvrtko Jakovina assinala um "amplo consenso entre a elite política" e a inexistência de sentimento antieuropeu, incluindo entre os nacionalistas de direita.

"Por diferentes razões, a maioria da população apoia a integração, algumas vezes por razões que não emanam dos valores europeus, mas a maioria é pró-europeia".

No entanto, a integração na UE também tem colidido na Croácia com um revivalismo nacionalista, incluindo polémicas reabilitações de figuras associadas ao antigo Estado croata 'ustasha', aliado da Alemanha nazi (1941-1944).

"Durante muitas décadas, a Croácia foi uma sociedade nacionalista e o nacionalismo é uma das principais forças que mobilizam a população, muitas vezes através dos sentimentos nacionalistas mais básicos. Ainda é assim", argumenta o historiador.

"Os croatas são nacionalistas, mas de facto apenas interessados nos últimos 70 anos. Os círculos da direita nacionalista construíram todo o cenário numa total e absoluta negação de tudo o que aconteceu na Jugoslávia [socialista e federal]. Os círculos de direita negam toda essa herança, apesar de os líderes da independência e os líderes do partido tradicional da direita croata [União Democrática Croata, HDZ, no poder] serem todos comunistas, generais ou altos funcionários durante a Jugoslávia federal".

Nesta perspetiva, o professor universitário recorda a "experiência governativa" na Croácia entre janeiro e outubro de 2016, uma coligação HDZ-MOST [Ponte, um partido com ligações à hierarquia da igreja] que integrava elementos com conotações à extrema-direita.

"Era muito semelhante ao Governo de Victor Orban na Hungria ou ao atual Governo na Polónia. Essa experiência falhou, temos agora um novo Governo de direita no poder, mas mais moderado".

A resposta de Bruxelas a esta deriva foi, no entanto, desigual, como tem sucedido face a Budapeste ou Varsóvia.

"Diria que alguns países europeus manifestaram o seu desagrado com os recentes desenvolvimentos na Croácia, por exemplo a França foi muito clara quando proibiu oficialmente o contacto de qualquer responsável francês com o ex-ministro da Cultura [Zlatko Hasanbegovic], que era um neonazi".

No entanto, sublinha a "total incapacidade" demonstrada pela UE em abordar a questão da Hungria e da Polónia. "A Croácia é um pouco mais pequena, mas concluiu-se que, caso um Estado-membro decida não respeitar os valores europeus, obviamente não será penalizado, ninguém pode fazer nada. Esse é o problema para a UE", sustenta.

Numa breve alusão à situação económica e social da ex-república jugoslava desde o processo de adesão, o historiador assinala a oposição "da generalidade dos partidos croatas" às privatizações, em particular nos setores do petróleo e eletricidade.

"As privatizações foram muito negativas na Croácia, muita gente empobreceu e poucas ficaram muito ricas, e no rescaldo existe uma economia que não é eficiente".

A "fuga em massa" da juventude croata para a Irlanda, Alemanha e outros países europeus é outro fator negativo que aponta.

"Existe um enorme problema nas regiões menos desenvolvidas da Croácia, na zona leste do país e no interior da Dalmácia. Os jovens a partirem, problemas com a economia não funcional, uma economia que está na posse do Estado, mas o Estado não está a ser eficaz, esses são os problemas", concluiu.

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