Brasil: Destituição de Dilma seria "um drama"
O conselheiro de Estado Eduardo Lourenço disse hoje à Lusa esperar que a Presidente do Brasil, Dilma Rousseff, não seja destituída, considerando que tal seria "um drama" de que aquele país não precisa.
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"É um drama, não só para o Brasil, mas para os povos de língua portuguesa. Esperemos que esta crise não seja tão dramática como parece querer ser", afirmou, questionado pela Lusa sobre o processo de destituição da chefe de Estado brasileira, à margem da conferência "Pensamentos e Escritos (Pós-)Coloniais", que decorreu hoje em Lisboa.
O ensaísta disse desejar que o processo, atualmente em curso, não culmine no afastamento de Dilma Rousseff, o que considerou "seria um drama para o Brasil e o Brasil não precisa desse drama suplementar".
O Senado brasileiro vai começar a analisar o processo de destituição contra a Presidente na próxima segunda-feira, depois de, no passado domingo, a Câmara dos Deputados ter votado a favor da continuidade do processo que pode levar à perda de mandato de Dilma Rousseff, acusada de manobras fiscais na apresentação de contas da sua gestão entre 2014 e 2015.
Eduardo Lourenço foi um dos oradores da conferência, ao lado de outro conselheiro de Estado, Adriano Moreira, do sociólogo e historiador José-Augusto França, do poeta Helder Macedo e do professor de História João Paulo Oliveira e Costa.
No debate, Adriano Moreira defendeu que a criação da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) representa uma singularidade da colonização portuguesa.
"De todos os componentes do império euromundista, a única parcela que criou uma CPLP chama-se Portugal. Mais nenhuma foi capaz de fazer isto. Portugal tem janelas de oportunidade e uma delas é a CPLP. A outra é a língua", sublinhou.
Hélder Macedo apresentou uma visão mais pessimista da organização: "O Brasil não nos ajuda. Os angolanos querem fazer alianças com o Brasil contra nós. É precário. Não basta dizer que a língua portuguesa é uma língua universal. Será se o Brasil quiser. Se o Brasil se afundar, com esta miséria que está a acontecer, qual CPLP?", declarou. Adriano Moreira respondeu-lhe: "Temos tempo".
O poeta considerou que a colonização não enriqueceu nem Lisboa nem as colónias, que apenas "serviram as elites tradicionalmente parasitárias em Portugal e criaram novas elites parasitárias nas colónias", enquanto o povo ficou excluído.
"O que está a acontecer agora em Angola é uma oligarquia imitada da oligarquia portuguesa. É admissível que um país com aquela riqueza mande vir o FMI? É inacreditável, estão a aplicar o mesmo modelo que nós", criticou.
Eduardo Lourenço considerou que a guerra colonial e o processo de descolonização houve uma "situação criticável, difícil de suportar", mas "tudo se passou à portuguesa: sofrer e não dar conta de nada, varrer para debaixo do tapete".
Hoje, há "uma coisa extraordinária", registou: "Os nossos antigos adversários, que nos combatiam, vão à televisão discutir connosco o que se passou. Nunca se viu".
"Colonizámos mal, mas a colónia de São Tomé e Príncipe deu o último nobre à monarquia, de Valle Flôr. Descolonizámos pior, mas Moçambique passou a fazer parte da Commonwealth. E Angola produziu a mulher dita a mais rica de África. Em Macau os jogos de azar rendem quatro vezes mais que em Las Vegas", afirmou José-Augusto França.
Durante o debate, foi unânime a ideia de que Portugal não deve sentir culpa pelo período colonial.
"A culpabilização é uma fuga à responsabilidade do presente", sublinhou Hélder Macedo.
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