Hong Kong: Estudantes exigem demissão de chefe do executivo
Os estudantes de Hong Kong fizeram hoje um ultimato ao chefe do executivo local, Leung Chun-Ying, exigindo que se demita até quinta-feira, sob pena de ocuparem edifícios governamentais, excluindo serviços sociais ou de saúde.
© Reuters
Mundo Síntese
Este ultimato surge após dois meses de protestos, iniciados a 01 de julho -- data em que se assinala a transferência da soberania de Hong Kong do Reino Unido para a China - com a marcha anual pela democracia, que este ano reuniu centenas de milhares de pessoas nas ruas daquela Região Administrativa Especial chinesa.
O principal mote da marcha foi a reivindicação da democracia plena em Hong Kong e de menos interferência nos assuntos locais por parte de Pequim, através de uma reforma eleitoral que consagre o sufrágio universal.
O protesto seguiu-se à publicação do "Livro Branco" de Hong Kong, em que o Governo central chinês reafirma o seu controlo e soberania sobre o território, e ao encerramento da votação num referendo informal de dez dias sobre a reforma democrática, que contou com a participação de mais de 780 mil residentes de Hong Kong, quase um quarto dos 3,47 milhões de eleitores registados em 2012.
O referendo, que pedia aos residentes da antiga colónia britânica para escolherem um de três métodos de eleição do próximo chefe do Governo, em 2017, foi lançado pelo movimento pró-democrata "Occupy Central", nome do distrito financeiro de Hong Kong.
O chefe do Governo de Hong Kong é escolhido por um colégio eleitoral formado por 1.200 membros, representativos dos diversos setores da sociedade, dominado por elites pró-Pequim.
O aumento do descontentamento para um nível sem precedentes traduziu-se, a 22 de setembro, num boicote de uma semana às aulas por milhares de estudantes de mais de 25 universidades e institutos, ao qual se juntaram, dias depois, cerca de mil estudantes do ensino secundário local.
A agitação estudantil surgiu uma semana depois de mais de 1.500 ativistas terem marchado pelas ruas de Hong Kong vestidos de preto, com enormes faixas e cartazes, por um sufrágio universal genuíno, no primeiro grande protesto desde que a Assembleia Nacional Popular decidiu, a 31 de agosto, que os aspirantes ao cargo vão precisar do apoio de mais de 50% de um comité de nomeação para concorrer à eleição e que apenas dois ou três serão selecionados.
Pequim prometeu deixar os residentes de Hong Kong escolherem o seu próximo líder em 2017 por voto direto - metodologia que colocaria fim ao atual sistema de eleição do chefe do executivo, assente no tal comité eleitoral de 1.200 pessoas - mas com a condição de que os candidatos sejam aprovados por um comité de nomeação, algo que os pró-democratas contestam, alegando que assim só os candidatos pró-Pequim terão luz verde.
Ou seja, a população de Hong Kong exercerá o seu direito de voto mas só depois daquilo a que os democratas chamam 'triagem'.
Hong Kong beneficia de liberdades não garantidas no interior da China, incluindo liberdade de expressão e o direito ao protesto, mas o medo de que que estas liberdades estejam a ser postas em causa tem vindo a aumentar.
A reforma proposta por Pequim terá de ser ainda submetida ao Conselho Legislativo de Hong Kong (LegCo, parlamento) e aprovada por dois terços dos 70 deputados, sendo que 27, do campo pró-democrata, anunciaram ter-se unido num compromisso pelo veto.
O passado fim-de-semana foi marcado por incidentes, com os protestos a saldarem-se, no sábado, em distúrbios junto à sede do Governo, com 34 feridos e mais de 70 detenções, e no domingo, no arranque antecipado da campanha de desobediência civil do grupo Occupy Central, cujo início estava só previsto para hoje, Dia Nacional da China, e de que resultou já a detenção de cinco figuras pró-democratas, incluindo três deputados, num protesto junto ao complexo governamental.
Os manifestantes, que saíram hoje novamente à rua aos milhares, contam com o apoio de voluntários que lhes levam alimentos, água e máscaras para fazer frente ao gás lacrimogéneo, permitindo assim que prossigam com aquele que se começa a chamar "o protesto dos guarda-chuvas", numa referência ao uso dos mesmos como 'escudo' face ao lançamento de gás pimenta.
Depois de jovens macaenses se terem juntado aos protestos pelo sufrágio universal em Hong Kong, o académico Larry So disse à Lusa que tal participação "vai ter reflexos" no território, estando o seu Governo atento aos movimentos pró-democracia que agitam a região vizinha.
"Alguns jovens de Macau, sobretudo os mais envolvidos com associações pró-democracia, estão a participar ativamente nos protestos em Hong Kong e a apoiar estes movimentos. E muitos deles vão trazer essa experiência para Macau", sustentou o professor do Instituto Politécnico de Macau.
"Eles [jovens de Macau] estão a aprender com a experiência. No próximo mandato de Fernando Chui Sai On [reeleito em agosto chefe do executivo macaense] algo vai passar-se, mas claro que não com a mesma dimensão registada em Hong Kong", observou o académico natural da antiga colónia britânica e que reside em Macau há mais de uma década.
Para o académico, o Governo de Macau também está atento às movimentações na região vizinha: "Por isso é que eles não gostam de deixar entrar os ativistas de Hong Kong quando há manifestações em Macau, como no 1.º de Maio ou no 1.º de Outubro. É por isso que os colocam na 'lista negra' e os impedem de passar a fronteira", defendeu.
Para o ativista de Macau Jason Chao, que tem estado a acompanhar 'in loco' os protestos mas apenas como 'observador', como frisou, "a luta pela democracia em Hong Kong é muito importante para Macau porque, de certa forma, está a guiar o caminho para a democratização e reforma política no território". "Macau partilha o mesmo sistema político e vai seguir, mais ou menos, as mesmas pisadas de Hong Kong", argumentou.
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