"A escalada da violência por parte dos grupos armados não estatais continuou a provocar novas deslocações, a perturbar os serviços essenciais, a restringir severamente os movimentos, a exacerbar a insegurança alimentar e a impedir a prestação de assistência vital", refere-se no relatório do Escritório das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários (OCHA, na sigal em inglês).
A província de Cabo Delgado, situada no norte do país, rica em gás, enfrenta desde 2017 uma rebelião armada, que provocou milhares de mortos e uma crise humanitária, com mais de um milhão de pessoas deslocadas.
As novas movimentações de extremistas no norte de Moçambique incluem Niassa, província vizinha de Cabo Delgado, onde, desde a sua eclosão em 29 de abril, provocaram pelo menos duas mortes: dois guardas florestais decapitados.
De acordo com o OCHA, em 24 de junho, 568 pessoas, incluindo 324 crianças, fugiram dos ataques de grupos armados na aldeia de Quinto Congresso, no distrito de Macomia, em direção "à já sobrelotada" sede distrital, elevando o número total de deslocados pelo conflito para 48 mil desde um de janeiro, muitos necessitando urgentemente de alimentos, abrigo, bens de primeira necessidade e água potável.
"O conflito continua a ter impacto nas necessidades de proteção das pessoas. No início de 2025, Cabo Delgado viu um aumento de 22% nos casos de violência baseada no género relatados em comparação com 2024, devido à melhoria das denúncias e à crescente consciencialização, mas também ressalta o impacto do conflito específico de género", explica.
O documento acrescenta que o Governo facilitou o regresso das populações às suas zonas de origem nos distritos de Macomia, Metuge e Montepuez, em Cabo Delgado, e recentemente em Mecula, no Niassa, "em grande parte devido à inadequada assistência humanitária e à sobrelotação dos locais de deslocação".
Segundo o OCHA, a população que regressa não encontra nada nas suas áreas de origem, "uma vez que as suas casas, parcelas agrícolas e meios de subsistência foram destruídos e os serviços básicos não foram restaurados", e os que optaram pela reinstalação "verificaram que os locais propostos não dispunham de serviços essenciais".
A agência das Nações Unidas apontou ainda para a persistência das "necessidades e lacunas" pós-ciclone, explicando que, com as restrições de financiamento, as pessoas afetadas pelos três ciclones, que, além da destruição de milhares de casas e infraestruturas, provocaram cerca de 175 mortos, no norte e centro do país, "não receberam assistência adequada".
"As primeiras avaliações realizadas desde março nos distritos de Lalaua e Muecate em Nampula revelaram que um total de 70 mil pessoas foram afetadas pelos ciclones mas não receberam assistência desde março", avança.
Outro problema apontado pelo OCHA refere-se ao declínio em cerca de 26% no financiamento humanitário entre 2024 e 2025, caindo de 74 milhões de dólares (62,8 milhões de euros), para 55 milhões de dólares (46,7 milhões de euros).
"Como resultado, cerca de 260 mil pessoas ficaram sem acesso a serviços de higiene, enquanto 200 mil pessoas continuam sem abrigo adequado (..). Além disso, o programa de recolha de amostras laboratoriais, que servia 25 mil pessoas por mês, principalmente pessoas com VIH e tuberculose, foi abruptamente interrompido", acrescenta.
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