"A suspensão das atividades da [agência norte-americana] USAID foi prejudicial para o setor dos direitos humanos da Ucrânia porque muito trabalho sobre a documentação e análise de atrocidades relacionadas com conflitos foi financiado por programas da USAID", afirmou hoje num evento organizado em Londres pelo centro de estudos britânico Chatham House.
O Presidente norte-americano, Donald Trump, anunciou o congelamento de quase toda a ajuda externa dos EUA e o desmantelamento da Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (USAID), que tinha um orçamento de dezenas de milhares de milhões de dólares.
O distanciamento em relação às instituições multilaterais internacionais, como a retirada do Conselho de Direitos Humanos da ONU e as sanções da administração Trump contra o Tribunal Penal Internacional e o seu procurador principal, Karim Khan, também tiveram impacto, acrescentou Busol.
Outro problema foi a suspensão do financiamento à universidade de Yale para o projeto de monitorização das cerca de 20 mil crianças ucranianas levadas para a Rússia, que afetou o arquivo digital.
"O impacto foi imenso, e certos tipos de trabalho não podem ser efetuados sem financiamento. Se certos trabalhos analíticos, análises ilegais, podem ser feitos de forma voluntária, para garantir carros e gasolina para ir aos territórios recentemente desocupados e falar com os sobreviventes, é necessário dinheiro", explicou a advogada.
Busol mostrou esperança de que os países europeus e outros parceiros possam preencher o vazio deixado pelos EUA e apoiem as organizações não-governamentais que têm feito o trabalho da documentação de crimes de guerra.
No evento, intitulado "A luta pela justiça na Ucrânia - Uma avaliação dos crimes da Rússia e das opções de responsabilização", foi analisada a dimensão da violência sexual relacionada com o conflito.
Um relatório publicado em março pela Comissão Internacional Independente de Inquérito sobre a Ucrânia concluiu que a violência sexual tem sido sistematicamente utilizada pelas autoridades russas como método de tortura em locais de detenção de prisioneiros de guerra, incluindo em homens.
Segundo Busol, mais de 600 pessoas solicitaram reparações urgentes enquanto vítimas, a maioria das quais homens, revelou Busol.
Charu Lata-Hogg, fundadora e diretora executiva do Projeto Todos os Sobreviventes, disse que a violência sexual contra homens é diversa, incluindo "mutilação genital, castração, ameaça de mutilação genital, violação, ameaças de violação, nudez forçada, eletrocussão dos órgãos genitais, espancamento dos órgãos genitais, etc.".
"Porque não se trata apenas de um impacto numa pessoa, a pessoa que está à frente e que está a ser espancada até à morte. Tem impacto no homem, tem impacto na sua companheira, na sua família e, através disso, tem impacto na geração seguinte e destrói a comunidade", avisou.
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