A declaração do líder do Kremlin, na sexta-feira em conferência de imprensa conjunta sem direito a perguntas, repetiu um argumento usado numerosas vezes por Trump, antes e depois do seu regresso à presidência norte-americana, em janeiro passado, imputando a invasão russa da Ucrânia, iniciada três anos antes, ao seu antecessor democrata, Joe Biden.
"Estou bastante seguro de que teria sido o caso. E posso confirmá-lo", comentou Vladimir Putin ao lado de Donald Trump.
O Presidente russo manifestou confiança de que os dois dirigentes construíram "uma relação muito boa, profissional e de confiança" e, desse modo, tem "todas as razões" para acreditar num "fim mais rápido e melhor para o conflito na Ucrânia".
O líder norte-americano referiu-se frequentemente ao conflito na Ucrânia como a "guerra de Biden" e sugeriu que o antigo Presidente dos Estados Unidos não era respeitado nem na Rússia nem na NATO.
Além disso, o político republicano prometera acabar com a guerra em 24 horas se voltasse à Sala Oval, mas, oito meses depois, ainda não alcançou esse objetivo, nem a cimeira no Alasca, na sexta-feira, produziu anúncios concretos sobre o fim das hostilidades, nem um cessar-fogo temporário, como exige Kyiv como um primeiro passo para um acordo abrangente.
Numa entrevista à cadeia televisiva Fox News, na mesma sala onde acabara de ser reunir durante cerca de três horas com Putin, Donald Trump mostrou-se "muito feliz" por ouvir o homólogo russo fazer eco do que vem dizendo há muito tempo sobre o papel de Biden no conflito, mas escusou-se a comentar o que o terá levado a fazê-lo nesta altura.
Na mesma entrevista ao canal próximo da Casa Branca, concedida pouco antes de abandonar Anchorage, o Presidente norte-americano não revelou detalhes das discussões com Putin, limitando-se a observar que ainda não há "acordo fechado" e que o fim do conflito depende agora do Presidente ucraniano.
"Agora, depende realmente do Presidente Zelensky para que isso seja feito. E também diria que os países europeus precisam de se envolver um pouco, mas isso depende do Presidente Zelensky", declarou, sem concretizar.
Anteriormente, o Presidente dos Estados Unidos tinha-se referido em Anchorage a uma reunião "extremamente produtiva" e que faltavam apenas alguns pontos a acertar, sendo um deles "provavelmente o mais importante", sem adiantar pormenores, apenas acrescentando: "Ainda não chegámos lá, mas temos boas hipóteses de lá chegar".
Nas declarações à Fox News, o Presidente norte-americano disse também concordar "em grande medida" com Putin sobre uma troca de terras entre a Ucrânia e a Rússia, no âmbito de um futuro acordo de paz entre os dois países, uma ideia até agora rejeitada por Kyiv.
Entre as razões de Zelensky para não chegar a acordo, Trump sugeriu que a Ucrânia recebeu financiamento significativo da Europa e dos Estados Unidos durante o conflito e voltou a visar o seu antecessor.
"Biden distribuiu dinheiro como se fosse um doce, e a Europa deu-lhe muito dinheiro", observou, sem sinalizar se haverá mudanças no apoio militar de Washington a Kyiv, que desde a última cimeira da NATO, em junho, tem sido financiado por um programa de aliados europeus.
Os líderes dos Estados Unidos e da Rússia reuniram-se na sexta-feira na Base Aérea de Elmendorf-Richardson, nos arredores de Anchorage, que, apesar dos elogios aos progressos por ambas as partes, não produziu nenhum anúncio em relação a uma solução para o conflito na Ucrânia, que era o foco do encontro mas para o qual não foi convidado Zelensky.
Apesar de não o ter mencionado nas declarações aos jornalistas junto de Putin, o Presidente norte-americano disse na entrevista à Fox News que espera que um encontro dos líderes ucraniano e russo possa acontecer e que talvez se junte a eles.
Na curta conferência de imprensa, Putin deixou a sugestão de que uma futura reunião possa acontecer em Moscovo, o que Trump não descartou, mas nenhum deles mencionou o nome do Presidente ucraniano.
Como uma das raras novidades da reunião, o Presidente russo disse concordar com Trump em relação a garantias de segurança exigidas por Kyiv como condição para a paz.
"Estamos prontos para trabalhar nisso", observou Putin, mais uma vez sem pormenores.
O líder do Kremlin disse que a Rússia está "sinceramente interessada em terminar" a guerra, mas esclareceu, como já fez em numerosas ocasiões, que a solução do conflito deve ser "sólida e duradoura", eliminando o que Moscovo designa como causas profundas, em alusão à neutralidade de Kyiv, à sua desmilitarização e rejeição do processo de adesão à NATO.
Vladimir Putin teve uma calorosa receção de Donald Trump na base aérea, que incluiu uma demonstração aérea de aviões militares modernos norte-americanos, antes de seguirem juntos para os trabalhos da cimeira na limusine presidencial norte-americana, conhecida como "a besta".
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