"Agora, depende realmente do Presidente Zelensky para que isso seja feito. E também diria que os países europeus precisam de se envolver um pouco, mas isso depende do Presidente Zelensky", declarou, sem concretizar, o líder da Casa Branca em entrevista ao canal norte-americano Fox News, concedida pouco antes de partir do Alasca.
Os líderes dos Estados Unidos e da Rússia reuniram-se na sexta-feira na Base Aérea de Elmendorf-Richardson, nos arredores de Anchorage, que, apesar dos elogios aos progressos por ambas as partes, não produziu nenhum anúncio em relação a uma solução para o conflito na Ucrânia, que era o foco do encontro.
No final de uma cimeira de quase três horas, Putin e Trump realizaram uma conferência de imprensa conjunta, mas não aceitaram perguntas sobre as discussões, para as quais Zelensky não foi convidado.
Apesar de não o ter mencionado nas declarações aos jornalistas junto de Putin, o Presidente norte-americano disse na entrevista à Fox News que espera que um encontro dos líderes ucraniano e russo possa acontecer e que talvez se junte a eles.
No final da curta conferência de imprensa, Trump sugeriu que esperava rever o Presidente russo "muito em breve", ao que Putin respondeu, em inglês, "da próxima vez em Moscovo", num tom descontraído.
"Imagino que isso possa acontecer", retorquiu o líder norte-americano, à frente de um cenário azul com a inscrição "Em Busca da Paz".
À estação televisiva norte-americana próxima da Casa Branca, Donald Trump recusou-se a partilhar o que tinha acertado com o homólogo russo e os assuntos ainda pendentes, insistindo que "não é um acordo fechado".
Anteriormente, o Presidente dos Estados Unidos tinha-se referido em Anchorage a uma reunião "extremamente produtiva" e que faltavam apenas alguns pontos a acertar, sendo um deles "provavelmente o mais importante", sem adiantar pormenores, apenas acrescentando: "Ainda não chegámos lá, mas temos boas hipóteses de lá chegar".
Na entrevista, realizada na mesma sala onde se reuniu com o homólogo russo, Trump disse esperar que alguém tornará publico o que separa ainda as partes, mas que não será por ele que essa informação será divulgada, expressando apenas que acredita que também Putin quer um acordo alcançado.
O Presidente norte-americano lamentou as oportunidades que os Estados Unidos estão a perder nas relações com a Rússia, como o petróleo, gás natural e minerais raros, devido à invasão russa da Ucrânia, iniciada por Putin em fevereiro de 2022, mas que mais uma vez imputou ao seu antecessor na Casa Branca, Joe Biden.
Por outro lado, referiu que muitos pontos foram negociados na sexta-feira "em nome da Ucrânia" e também da NATO, e que Washington "está a lidar muito bem" com as lideranças de vários "grandes países europeus", depois de contactos desenvolvidos a dois dias da cimeira, por iniciativa do chanceler alemão, Friedrich Merz, e aos quais prometeu telefonar no seguimento da cimeira no Alasca.
Nas declarações à imprensa, Putin sublinhou que estão reunidas todas as condições para que os dois dirigentes ponham fim ao conflito na Ucrânia "o mais rapidamente possível" e apelou a Kiev e aos países europeus para que aceitem as conclusões da cimeira "com um espírito construtivo".
Pediu também que se abstenham de "provocações ou intrigas de bastidores" que minem os progressos alcançados.
Como uma das raras novidades da reunião, o Presidente russo disse concordar com Trump em relação a garantias de segurança exigidas por Kiev como condição para a paz.
"Estamos prontos para trabalhar nisso", observou, mais uma vez sem pormenores.
O líder do Kremlin disse que a Rússia está "sinceramente interessada em terminar" a guerra, mas esclareceu, como já fez em numerosas ocasiões, que a solução do conflito deve ser "sólida e duradoura", eliminando o que Moscovo designa como causas profundas, em alusão à neutralidade de Kiev, à sua desmilitarização e rejeição do processo de adesão à NATO.
"Putin chegou cerca das 11:00 de sexta-feira no Alasca (20:00 em Lisboa) à Base Aérea de Elmendorf-Richardson, onde foi recebido pelo homólogo norte-americano, que bateu palmas na sua direção e com quem trocou um longo aperto de mão, e também com uma exibição aérea de aviões militares modernos dos Estados Unidos, antes de seguirem juntos na mesma limusine.
Foi o primeiro encontro dos dois presidentes desde 2018 e que marcou o regresso de Vladimir Putin aos Estados Unidos, após dez anos de ausência, bem como a um grande palco diplomático, apesar de procurado pelo Tribunal Penal Internacional por crimes de guerra, e de relações suspensas entre Washington e Moscovo a partir da invasão russa da Ucrânia.
Ao contrário do programado, a reunião a sós dos líderes da Rússia e Estados Unidos foi entretanto alargada aos chefes das diplomacias de Washington e Moscovo, Marco Rubio e Sergei Lavrov respetivamente, bem como ao enviado especial da Casa Branca Steve Witcoff e ao conselheiro do Kremlin Yuri Ushakov.
O grande ausente no Alasca foi o Presidente ucraniano, que não estava convidado para a cimeira e advertiu ao longo da passada semana que qualquer decisão tomada sem a participação da Ucrânia "nasce morta".
Ao mesmo tempo, exigiu um cessar-fogo, até agora recusado por Moscovo, como ponto de partida para um acordo de paz, mas na cimeira de sexta-feira não foi anunciada nenhuma trégua.
[Notícia atualizada às 06h15]
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