Uma informação enviada em 01 de maio aos viajantes pelo Foreign Commonwealth & Development Office (FCDO), responsável pela proteção dos interesses e cidadãos britânicos no exterior, consultada hoje pela Lusa, desaconselha viagens que não sejam essenciais aos distritos de Mecula e Marrupo.
"O FCDO desaconselha todas as viagens, exceto as essenciais, para os distritos de Mecula e Marrupo, na província de Niassa, devido a ataques de grupos com ligações ao extremismo islâmico", lê-se no aviso.
A Polícia da República de Moçambique afirmou em 30 de abril que está a investigar um suposto novo ataque de grupos insurgentes numa coutada de caça desportiva da Reserva Especial do Niassa, vizinha de Cabo Delgado, que terá ocorrido no dia anterior.
"Nós, como comando provincial da PRM de Niassa, tomámos conhecimento deste incidente, porém estamos no terreno como forma de obter mais informações a respeito", disse à Lusa Nelson Carvalho, porta-voz da PRM em Niassa, província vizinha de Cabo Delgado, região que tem sido fustigada por ataques de grupos armados desde 2017.
O acampamento de caça desportiva de Mariri, numa das coutadas da Reserva Especial do Niassa (REN), área com 42 mil quilómetros de terra em oito distritos que abrange também Cabo Delgado, terá sido invadida por homens armados na tarde de terça-feira, divulgou na quarta-feira a comunicação social moçambicana.
Trata-se do segundo caso de alegadas movimentações terroristas na REN, tendo o primeiro sido registado em 24 de abril.
Relatos locais indicam que o grupo, ainda em número indeterminado, entrou numa aldeia da reserva, gerando pânico entre os residentes.
O ministro da Defesa de Moçambique reconheceu, entretanto, a existência de grupos terroristas na reserva.
"Temos conhecimento [...] São terroristas e nós estamos atrás deles", disse Cristóvão Chume, à margem de uma cerimónia de acreditação de adidos de defesa de alguns países, em Maputo.
O Governo norte-americano também alertou nos últimos dias para movimentações de grupos terroristas na Reserva Especial do Niassa, sugerindo aos seus cidadãos que reconsiderem viagens à região.
"O Governo dos EUA recebeu informações de que terroristas atacaram aldeias nos limites da Reserva Especial do Niassa, antes de entrarem na reserva e fazerem reféns num pavilhão de caça particular. As forças de segurança moçambicanas estão engajadas. Fiquem atentos ao aumento da violência nas fronteiras sudeste e leste da Reserva Especial do Niassa", lê-se numa nota dirigida a cidadãos norte-americanos em Moçambique, publicada na página da embaixada dos EUA.
A província de Cabo Delgado, rica em gás, enfrenta desde 2017 uma rebelião armada, que provocou milhares de mortos e uma crise humanitária, com mais de um milhão de pessoas deslocadas.
Só em 2024, pelo menos 349 pessoas morreram em ataques de grupos extremistas islâmicos na província, um aumento de 36% face ao ano anterior, segundo dados divulgados recentemente pelo Centro de Estudos Estratégicos de África, uma instituição académica do Departamento de Defesa do Governo norte-americano que analisa conflitos em África.
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