Peritos da ONU preocupados com aumento de tráfico para exploração sexual
Peritos das Nações Unidas manifestaram hoje preocupação com o aumento de relatos de tráfico de pessoas para fins de exploração e escravatura sexual, casamentos infantis e recrutamento de jovens para a guerra no Sudão.
© Omer Erdem/Anadolu Agency via Getty Images
Mundo Sudão
"Estamos chocados com os relatos de mulheres e raparigas vendidas em mercados de escravos em áreas controladas pelas Forças de Apoio Rápido [RSF, na sigla em francês] e outros grupos armados, no Darfur do Norte", declararam os peritos da ONU, citados num comunicado.
Os especialistas alertaram também para o aumento do número de casamentos infantis, precoces e forçados, alegadamente em resultado da separação das famílias, e da violência baseada no género, incluindo violações e gravidezes indesejadas.
"Apesar dos avisos anteriores às autoridades sudanesas e aos representantes das RSF, continuamos a receber relatos de recrutamento de crianças para participarem ativamente nas hostilidades, incluindo a partir de um país vizinho", afirmaram.
De acordo com os especialistas, o recrutamento infantil para qualquer forma de exploração, nomeadamente para funções de combate, é uma violação "enorme dos direitos humanos", um crime grave e uma violação do direito internacional humanitário.
Os roubos contínuos e os ataques às agências da ONU foram outra das preocupações levantadas, pois estes "são fundamentais para prestar ajuda humanitária a uma população muito necessitada".
"A capacidade das organizações humanitárias para prestar auxílio tem sido limitada depois de terem sido forçadas a terminar alguns apoios devido aos escritórios roubados ou destruídos", declararam.
Os peritos indicaram que as agências humanitárias e a sociedade civil têm tido dificuldades em operar e aceder às áreas afetadas pelo conflito, que eclodiu em abril de 2023, porque há "interferência contínua".
"Recebemos relatórios que indicam o controlo por parte dos grupos armados sobre a liberdade de circulação, incluindo a liberdade de as organizações de ajuda viajarem e chegarem às comunidades afetadas", referiram, apelando ainda à "responsabilização e à investigação efetiva das violações dos direitos humanos internacionais e do direito humanitário".
Os peritos demonstraram ainda consternação com o possível impacto negativo do encerramento da missão da ONU no Sudão, num "contexto de violência e insegurança contínuas", mas frisaram que têm estado em contacto com as RSF e as autoridades sudanesas.
O Sudão tem lutado com as devastadoras consequências políticas, de segurança e humanitárias dos combates que eclodiram em 15 de abril em Cartum e arredores, na sequência de divergências entre o exército e as RSF sobre a integração deste grupo paramilitar nas forças armadas, o que fez descarrilar o processo de transição que se seguiu ao derrube do antigo Presidente Omar Hassan al-Bashir, após 30 anos no poder.
Atualmente, esta nação africana tem a maior crise de deslocados do mundo. Segundo a ONU, já são mais de nove milhões de pessoas.
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