Milhares de jovens - homens e mulheres - reuniram-se para um festival de música de fim de semana num vasto campo no sul de Israel, perto da fronteira de Gaza, para dançar sem qualquer preocupação.
Contudo, o festival de música ao ar livre Tribe of Nova ficará na história de Israel como o pior massacre civil do país.
Na madrugada de sábado, Maya Alper estava parada no fundo do bar com equipas de voluntários que recolhiam o lixo e distribuíam doses de vodca gratuitas para os festivaleiros que reutilizavam os copos.
Pouco depois das 06:00 (hora local), quando amanhecia, sirenes de ataque aéreo cortaram a música enquanto foguetes voavam por cima das pessoas.
Alper, 25 anos, entrou no carro e correu para a estrada principal, mas deparou-se com uma multidão de participantes do festival, gritando para os motoristas darem meia-volta, quando se ouviam disparos, que soavam a fogo de artifício.
Homens e mulheres em pânico que cambaleavam pela estrada caíam no chão em poças de sangue.
Dezenas de militantes do Hamas que tinham atravessado a barreira de separação com Israel, fortemente fortificada, vindos da Faixa de Gaza abriram fogo contra jovens israelitas que se tinham reunido para uma noite alegre de música eletrónica.
Alguns participantes estavam bêbados ou drogados, aumentando a confusão e o terror.
"Estávamos a esconder-nos e a fugir num campo aberto, o pior lugar onde se poderia estar naquela situação", disse Arik Nani, de Tel Aviv, que foi à festa para comemorar o seu 26.º aniversário.
Enquanto choviam foguetes, os festivaleiros disseram que os militantes convergiram para o campo aberto enquanto outros esperavam perto de abrigos antiaéreos, disparando sobre pessoas que procuravam refúgio.
As comunidades israelitas em ambos os lados do recinto do festival também foram atacadas, com homens armados do Hamas a raptar dezenas de homens, mulheres e crianças -- incluindo idosos e deficientes -- e matando dezenas de outras pessoas no ataque surpresa sem precedentes.
O número de vítimas do festival apenas ficou claro na manhã de hoje, quando o serviço de resgate de Israel revelou que os paramédicos recuperaram pelo menos 260 corpos.
Os organizadores do festival disseram que ainda estão a ajudar as forças de segurança israelitas a localizar os participantes que ainda estão desaparecidos.
O número de mortos pode aumentar à medida que as equipas continuam a limpar a área do festival.
Enquanto a carnificina se desenrolava diante de si, Alper puxou alguns foliões desorientados para dentro do seu carro e acelerou na direção oposta.
Um deles disse que tinha perdido a mulher no caos e Alper teve de impedi-lo de sair do carro para encontrá-la.
Outra pessoa disse que tinha acabado de ver homens armados do Hamas atirarem e matarem a sua melhor amiga; outra murmurava sem parar: "Vamos morrer".
Nenhum lugar era seguro: o estrondo das explosões, os gritos e os tiros de armas automáticas pareciam mais próximos à medida que ela conduzia quando um homem a poucos metros de distância gritou "Deus é grande!", levando Alper e os seus novos companheiros a sair do carro e a correr por campos abertos em direção para trás de uns arbustos.
Alper sentiu uma bala a passar perto da orelha esquerda, ciente de que os homens armados a ultrapassariam, obrigando-a a mergulhar ainda mais nos arbustos.
Durante mais de seis horas, Alper -- e milhares de outros participantes do concerto -- esconderam-se sem ajuda do Exército israelita enquanto militantes do Hamas disparavam armas automáticas e atiravam granadas.
Instrutora de tanques do Exército israelita, Alper sabia que estava segura quando ouviu um tipo diferente de explosão -- o som de um tanque do Exército israelita, que a socorreu.
Alper disse que o Exército israelita, que chegara para combater os militantes do Hamas no kibutz de Be'eri, perto da fronteira com Gaza, não sabia o que fazer com ela.
Naquele momento, uma camioneta cheia de cidadãos palestinos de Israel parou: os homens da cidade beduína de Rahat vasculhavam a área para ajudar a resgatar os sobreviventes israelitas, ajudando Alper a entrar no carro, levando-a até a um posto de polícia, onde ela acabou a chorar nos braços do pai, que a tinha vindo procurar.
"Isto não é apenas guerra. Isto é um inferno", disse Alper, recordando os acontecimentos da madrugada de sábado.
Leia Também: AO MINUTO: "Cerco total" em Gaza; UE convoca reunião de emergência