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Arnaut Moreira: "Ocidente tem medo" e não dá tudo o que Kyiv precisa

O analista militar José Arnaut Moreira considera que os aliados da Ucrânia apostaram no gradualismo no seu apoio e não forneceram tudo o que Kyiv precisa para enfrentar a invasão russa, porque "o Ocidente tem medo do Ocidente".  

Arnaut Moreira: "Ocidente tem medo" e não dá tudo o que Kyiv precisa
Notícias ao Minuto

12:36 - 20/08/23 por Lusa

Mundo Ucrânia/Rússia

Quando se assinala um ano e meio da guerra na Ucrânia, iniciada em 24 de fevereiro de 2022, o major-general do Exército destacou em entrevista à Lusa a "opção política" do Ocidente "em fornecer apenas aquilo que é necessário em cada um dos momentos".

Esta opção, prosseguiu, é difícil de compreender em Kyiv e justifica o avanço lento da contraofensiva ucraniana em curso, ao fim de meses de discussões entre os aliados sobre o envio de equipamentos pesados essenciais, como tanques alemães Leopard2 ou os norte-americanos Abrams, que ainda não chegaram ao terreno, os sistemas modernos de defesa antiaérea ou mais recentemente os caças norte-americanos F-16, que na quinta-feira receberam luz verde de Washington mas só deverão chegar aos céus do país no próximo ano.

Estas discussões levaram a "um enorme atraso" nas entregas, na análise do comentador militar, e permitiram a Moscovo "organizar e estabelecer linhas defensivas consistentes", numa atitude dos aliados de Kyiv do que chama "gradualismo de ir fornecendo apenas pequenos incrementos de capacidade de potencial de combate para não irritar a Federação Russa", nem escalar o conflito para lá das fronteiras da Ucrânia.

"Ou seja, a Ucrânia nunca dispõe do potencial de combate suficiente para realizar grandes manobras, porque não está a ser alimentada para isso", apontou, e, nesse sentido, é injusto acusar o Exército ucraniano de lentidão nas suas operações, "porque não tem capacidade para as conduzir mais depressa".

A montante de tudo isto, "o Ocidente tem medo do Ocidente", destacou, porque não quer desde o início as forças da NATO envolvidas numa confrontação direta com a Federação Russa, que também joga com essas cautelas e usa-as na sua narrativa e nas ações psicológicas dirigidas aos aliados sobre as suas 'linhas vermelhas' em relação ao armamento fornecido a Kyiv, como está a acontecer novamente com os mísseis de longo alcance alemães Taurus.

"O Ocidente não tem confiança no Ocidente", insistiu o major-general, numa situação que persegue os aliados desde o fim da guerra fria, em que "se passa o tempo todo a discutir a segurança da Rússia, quando o que se devia estar a discutir era os problemas da segurança da Europa e os seus interesses", incompatíveis com Moscovo, que "não perde nenhuma oportunidade para ameaçar os seus vizinhos", usando o seu mito de invencibilidade, mas que já enfrenta ataques no seu território.

Nesta fase, na ausência de perspetivas de negociações de paz e em que ambas as partes persistem na opção militar, mesmo que o apoio ocidental desaparecesse ou que os russos tenham dificuldade em repor os seus meios, segundo Arnaut Moreira, isso não seria necessariamente o fim da guerra, porque "há muitas outras formas de conduzir o conflito", que não passam necessariamente pela sua natureza convencional, existindo outras possibilidades do ponto de vista político, económico ou outros.

Se o Presidente russo, Vladimir Putin, pode alimentar esperanças em alterações políticas nos Estados Unidos nas eleições de 2024, que conduzam a uma inversão no apoio à Ucrânia - cenário no qual "sobra para a Europa" - Arnaut Moreira alertou que Kyiv aposta na sua contraofensiva militar e "as guerras são guerras de vontade e o que acontece quando o material falta é que mudam na forma como são exercidas".

No caso da Ucrânia, gerou "ódios insanáveis entre duas nações e dois povos que eram irmãos e ucranianos e russos não vão viver mais em paz, é impossível que isso aconteça".

Mesmo que a guerra fique congelada do ponto de vista convencional, "ela pode desenvolver-se noutros patamares na parte insurrecional, por exemplo, como atentados, perseguições de natureza cultural, linguística ou pressões que são feitas do ponto de vista económico sobre as populações".

O que está a acontecer no Mar Negro parece estar em linha com este pensamento, em que apesar do abandono russo da Iniciativa dos Cereais e dos bombardeamentos intensivos aos portos do sul da Ucrânia, as forças de Kyiv tomaram a iniciativa através de ataques estratégicos com os seus próprios meios, já que os ocidentais vêm acompanhados de "asteriscos", ou seja, sujeitos à condição de não serem usados em solo da Federação Russa, que, por sua vez, se sentia muito confortável com isso.

Depois da anexação da Crimeia, em 2014, segundo o comentador militar, a NATO não deu importância à região e, como não reagiu com a colocação de uma frota no Mar Negro, esse vazio foi ocupado pela Rússia, que entendeu que "era seu e só seu", o que leva a que "quem está a responder a este desafio estratégico é a Ucrânia".

Mas, se a Rússia era "dona e senhora do Mar Negro por ausência da NATO, já não é", analisou, porque Kyiv desenvolveu meios de ataque em profundidade com 'drones' navais com raio de alcance de 800 quilómetros, o que conduziu também à mudança da equação na região e não só.

As embarcações de guerra russas passaram a estar vulneráveis, quando dantes se sentiam seguras para fazer fogo à vontade sobre território ucraniano, mas "todas as marinhas do mundo estão preocupadas com o facto de, de repente, aparecer um conjunto de equipamentos que custam apenas alguns milhares de dólares e que podem afundar, danificar ou tornar inoperacionais navios de superfície" de muito milhões de dólares, numa nova demonstração de Kyiv de travar uma "guerra assimétrica", neste caso, por falta de comparência da NATO.

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