"Não nos retiraremos do Donbass", afirmou o Presidente ucraniano à imprensa, acreditando que, se este território, onde se situa o centro industrial da Ucrânia, caísse sob o controlo de Moscovo, serviria de trampolim para o Kremlin lançar uma "futura ofensiva" contra o resto do país.
A declaração de Zelensky surge em vésperas do encontro, na sexta-feira no Alasca, entre o Presidente russo, Vladimir Putin, e o homólogo norte-americano, Donald Trump, que já indicou que em cima da mesa deverá constar uma proposta de troca de territórios, numa tentativa de colocar fim ao conflito iniciado em fevereiro de 2022.
O líder ucraniano indicou que as autoridades norte-americanas lhe transmitiram que Moscovo pretende os restantes 9.000 quilómetros quadrados de Donetsk que permanecem sob controlo das forças de Kyiv e que correspondem à região onde decorrem os combates mais intensos do conflito.
Hoje, o Presidente ucraniano, que não foi convidado para se juntar à reunião de Trump e Putin, referiu-se à cimeira no Alasca como "uma vitória" para o Kremlin (presidência russa).
"Primeiro, ele [Putin] terá uma reunião em solo americano, o que considero uma vitória pessoal", observou Zelensky, acrescentando que o encontro retira o Presidente russo do seu "isolamento" e adia possíveis novas sanções de Washington a Moscovo.
Antecedendo a reunião, grupos de soldados russos avançaram cerca de 10 quilómetros em certos setores da frente no leste do país, segundo o líder ucraniano, avisando que estas unidades seriam "destruídas", apesar dos receios de um grande avanço.
Estes grupos "não têm equipamento [pesado], apenas as suas armas de mão. Alguns foram destruídos, outros foram feitos prisioneiros. Vamos encontrar os restantes e destruí-los em breve", vaticinou.
Zelensky relaciona estes ataques como a tentativa do Kremlin de criar a narrativa de que "a Rússia está a avançar e a Ucrânia está a perder", como forma de condicionar as negociações sobre o conflito.
Nesse sentido, disse também que as forças russas estão a preparar "novas operações ofensivas" em três setores da frente, em Zaporijia e Novopavlivka, no sul do país, e Pokrovsk, na região de Donetsk.
Nos últimos dias, os presidentes russo e ucraniano têm desenvolvido múltiplos contactos diplomáticos, tendo hoje Zelensky falado com o homólogo turco, Recep Tayyip Erdogan, que se disponibilizou para acolher uma cimeira de líderes sobre o conflito na Ucrânia.
Nos seus três encontros realizados em Istambul, em maio, junho e julho deste ano, as delegações de Kyiv e Moscovo avançaram em alguns aspetos humanitários, sobretudo num acordo para a troca de prisioneiros, mas não se registaram progressos quanto a um cessar-fogo.
Na segunda-feira, os chefes da diplomacia da União Europeia reuniram-se de urgência, tendo a alta-representante para os Negócios Estrangeiros e Política Europeia, Kaja kallas, expressado apoio à iniciativa de Washington, embora advertindo que "pressionar a Rússia é a maneira de acabar com esta guerra e evitar outra agressão russa na Europa".
No mesmo dia, o chanceler alemão, Friedrich Merz, convidou os presidentes dos Estados Unidos e da Ucrânia, o secretário-geral da NATO e vários líderes europeus para uma reunião virtual a decorrer na quarta-feira, dois dias antes da cimeira entre Trump e Putin.
Em conferência de imprensa na segunda-feira na Casa Branca (presidência norte-americana), Trump indicou que espera uma reunião construtiva com Putin, ao mesmo tempo que manifestou desagrado com a persistente recusa de Zelensky em ceder território à Rússia.
O Presidente norte-americano insistiu que o acordo em preparação para o conflito na Ucrânia envolve cedências de território, apesar das objeções colocadas pelo homólogo ucraniano e pelas limitações constitucionais no seu país.
"Quer dizer, ele obteve permissão para entrar em guerra e matar toda a gente. Mas precisa de permissão para fazer uma troca de território?", questionou Trump, advertindo: "Porque haverá trocas de território".
Do mesmo modo, o líder da Casa Branca afirmou que pretende devoluções à Ucrânia de território ocupado pela Rússia desde o início da invasão, em fevereiro de 2022, o que também tem merecido a recusa do Kremlin.
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