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Eleições. Imprensa turca exprime fratura de um país dividido no rescaldo

Os 'media' turcos, à semelhança do país, dividiram-se na análise aos resultados das presidenciais e legislativas de domingo e que revelam a clivagem entre nacionalismo, religião, república e laicidade.

Eleições. Imprensa turca exprime fratura de um país dividido no rescaldo
Notícias ao Minuto

13:04 - 15/05/23 por Lusa

Mundo Turquia/Eleições

Os jornais diários hoje nas bancas exemplificam a dicotomia: o Sabah (Manhã), pró-governamental, diz em manchete que "A Nação voltou de novo a confiar em Erdogan, aponta os "jogos sujos dos governos ocidentais", num elogio ao Presidente cessante, Recep Tayyip Erdogan, que se apresenta a um terceiro mandato, "as ameaças do PKK e do HDP", numa referência às organizações a minoria curda, ou "as operações de perceção" movidas pelos setores da oposição.

"O mesmo filme de sempre", expressa por sua vez o Sozcu (Porta-voz), considerado próximo do principal partido da oposição CHP e do seu candidato presidencial, Kemal Kiliçdaroglu, pelo facto de o Governo e o AKP "terem tentado manipular os resultados eleitorais" e ainda a surpresa nas legislativas do Partido de Ação Nacionalista (MHP, extrema-direita), que com 10,2 por cento garantia mais três deputados, com 21 lugares.

O Hurriyet (Liberdade), o mais tradicional diário turco a agora considerado próximo do AKP, destaca que as eleições presidenciais "não conseguiram terminar com uma só votação", que a chave da segunda volta dependerá do terceiro candidato, o nacionalista de direita Sinan Ogan, e ainda a vitória da coligação governamental nas legislativas.

Bir Gun (Um dia), próximo da oposição, diz em manchete "Primeiro agitámos e depois vamos destruir", ao perspetivarem a vitória de Kiliçdaroglu numa segunda volta, e apela: "Não nos rendamos", com uma incisiva denúncia às alegadas manipulações das forças que ocupam o poder.

Na noite eleitoral de domingo, na sede central do Partido Republicano do Povo (CHP), um destacado edifício de 12 andares, instalava-se a desilusão à medida que eram divulgados os resultados, visível na expressão do candidato presidencial e líder do partido, Kemal Kiliçdaroglu, quando surgiu pela primeira vez no anfiteatro da sede do partido, cerca da meia-noite, para anunciar que ainda era possível a vitória à primeira volta.

Ao longe, o eco de tambores revelava as celebrações que começavam a decorrer na sede do Partido da Justiça e do Desenvolvimento (AKP), situada a poucos quilómetros, ou ativistas do partido de Erdogan que passavam frente à sede do rival com sonoras buzinadelas.

As declarações iniciais estiveram a cargo os presidentes das câmaras de Ancara e Istambul, Mansur Yavas e Ekrem Imamoglu, que derrotaram os candidatos do AKP nas municipais de 2019 nas principais cidades do país.

Ao tom triunfalista, com denúncias de manipulações dos resultados, sucedeu na sua segunda aparição uma declaração mais contida, onde já foi admitida uma segunda volta, uma declaração que não terá agradado ao chefe da oposição.

O desfecho acabou por ser confirmado pelo próprio Kiliçdaroglu, quando pelas três da manhã (hora local) surgiu acompanhado pelos líderes da "Mesa dos Seis", a heteróclita coligação a oposição que junta seis partidos, do CHP social-democrata, de centro-esquerda e nacionalista, a formações da direita nacionalista laica, em particular o Partido do Bem (YiY, da Meral Aksener -- a única que exibia um sorriso na declaração final -- , e uma formação islamista.

Com mais de 99% os votos contados e num cenário de forte polarização o Presidente Recep Tayyip Erdogan que concorre a um terceiro mandato estava creditado com 49,4% dos votos, ainda insuficientes para garantir os 50% + 1, necessários para evitar uma segunda volta.

Apesar da visível desilusão por um resultado abaixo das expectativas, a oposição poderá forçar Erdogan, e pela primeira vez, a esgrimir uma segunda volta, após as vitórias por mais de 50% do Presidente cessante -- primeiro-ministro entre 2003 e 2014 -- nas presidenciais que decorreram nesse ano, e em 2018.

Neste aspeto, os votos da diáspora turca, mais de três milhões inscritos e com uma afluência recorde, serão decisivos para decidir o resultado final destas das eleições legislativas e presidenciais, com uma taxa de participação que rondou os 88% e com resultados finais a serem anunciados na sexta-feira pelo Conselho supremo eleitoral (YSK).

Já o votos os jovens, com mais de cinco milhões de novos eleitores inscritos, parece não ter sido determinante para um impulso à candidatura do líder do CHP.

"Não entendo como é possível que Sinan Ogan se mantenha desde o início da contagem mais de 5% dos votos, é muito estranho", desabafava já depois da meia-noite uma jornalista de um 'media' independente, numa referência à mais uma surpresa eleitoral protagonizada por este candidato da direita ultranacionalista e que poderá ser determinante no desfecho de uma eventual segunda volta.

E neste aspeto, os prognósticos da generalidade das sondagens não coincidiram com os resultados provisórios já anunciados.

Os resultados das legislativas também confirmam uma vitória folgada da Aliança Popular liderada pelo AKP de Erdogan (49,4%) e que lhe permite renovar a maioria no Parlamento, com a Aliança da Nação que agrupa seis partidos onde se destaca o CHP, a obter 35,1%.

A Aliança Trabalho de Liberdade (EvO), com predominância do Partido da Esquerda Verde (YSP, sucessor do HDP pró-curdo) que aglutina diversas forças da esquerda turca e defensora dos direitos na minoria curda, obtém 10,5% dos votos expressos.

A Turquia, um país muçulmano onde a personalização da vida política se sobrepôs as ideologias, permanece profundamente fraturada.

Leia Também: União Europeia saúda "forte participação" dos eleitores na Turquia

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