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Jornal pró-democracia de Hong Kong sem conseguir pagar salários

O jornal pró-democracia Apple Daily, em Hong Kong, indicou hoje que não consegue pagar os salários dos jornalistas, depois dos bens do grupo terem sido congelados, o que poderá levar ao encerramento.

Jornal pró-democracia de Hong Kong sem conseguir pagar salários
Notícias ao Minuto

07:20 - 21/06/21 por Lusa

Mundo Hong Kong

O Apple Daily apoiou os protestos antigovernamentais que abalaram o território em 2019.

O proprietário do jornal, Jimmy Lai, está a cumprir atualmente uma pena de vários meses de prisão pela participação naqueles protestos e enfrenta ainda acusações por "conluio com forças estrangeiras", alegadamente por defender sanções contra dirigentes de Pequim e de Hong Kong.

"O nosso problema não é falta de fundos, temos 50 milhões de dólares [42 milhões de euros] no banco", explicou à cadeia de televisão CNN um conselheiro de Lai a viver no estrangeiro, Mark Simon.

"O nosso problema é que o secretário responsável pela Segurança e a Polícia não nos deixa pagar aos jornalistas (...), ao pessoal (...) e fornecedores. Bloquearam as nossas contas", disse.

O congelamento dos bens foi ordenado em 17 de junho, horas depois de a polícia ter efetuado buscas ao jornal e detido cinco pessoas.

Dezoito milhões de dólares de Hong Kong (dois milhões de euros) de bens detidos pelo jornal foram congelados ao abrigo da Lei de Segurança Nacional.

Um responsável da redação indicou à agência de notícias France-Presse que o conselho de administração do jornal deverá reunir-se hoje.

Na quinta-feira, cerca de 500 agentes participaram numa rusga às instalações do jornal, durante a qual foram detidos cinco dirigentes e foi apreendido material jornalístico.

Dois responsáveis do Apple Daily, Ryan Law e Cheung Kim-hung, este último também diretor-geral da empresa-mãe do diário Next Digital, foram detidos e acusados de "conspirar com forças estrangeiras", ao abrigo da lei de segurança nacional imposta no ano passado por Pequim à região semiautónoma.

Três outros responsáveis do jornal foram, entretanto, postos em liberdade sob caução.

De acordo com a polícia local, o Apple Daily publicou "dezenas de artigos", entre os quais uma coluna de opinião assinada pelo proprietário do jornal, uma das figuras mais conhecidas da oposição pró-democracia de Hong Kong, que provariam que o diário conspirou com forças ou elementos estrangeiros.

Organizações não governamentais internacionais como a Amnistia Internacional consideraram rusgas e detenções como um "novo ataque à liberdade de imprensa" na antiga colónia britânica, mas as autoridades locais alegaram que a operação é parte de um "caso de conspiração" e não está relacionada "com o trabalho dos meios de comunicação ou dos jornalistas".

"O trabalho jornalístico normal é realizado com liberdade e respeito pela lei em Hong Kong", disse o secretário da Segurança, John Lee, que deixou um aviso aos jornalistas locais.

"Façam o vosso trabalho jornalístico com a liberdade que desejarem, de acordo com a lei e assumindo que não conspiram ou têm a intenção de violar a lei de Hong Kong, muito menos a lei de segurança nacional", disse.

Um dia depois das rusgas e das detenções, os apoiantes do Apple Daily correram aos quiosques, em muitos casos comprando mais de um exemplar, em solidariedade com o jornal, que imprimiu uma das suas maiores tiragens, mais de meio milhão de exemplares, desde a fundação, em 1995.

Uma proposta de lei de extradição para a China, apresentada pelo Governo de Hong Kong em 2019, desencadeou meses de protestos que abalaram o território semiautónomo.

A proposta acabou por ser retirada, mas Pequim aprovou em 30 de junho de 2020 a lei da segurança nacional para Hong Kong, com penas que podem chegar à prisão perpétua para crimes de secessão, terrorismo ou conluio com forças estrangeiras, levando vários ativistas a refugiar-se no Reino Unido e em Taiwan.

A lei foi criticada pela UE, pelos Estados Unidos e pela ONU por violar o princípio "um país, dois sistemas", acordado na transferência da soberania de Hong Kong, em 1997, garantindo ao território liberdades desconhecidas no resto da China.

Leia Também: Dirigentes do Apple Daily acusados de conspirar com forças estrangeiras

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