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Trump tornou discurso do Estado da União em comício de recandidatura

O Presidente dos EUA, Donald Trump, utilizou o discurso do Estado da União para lançar a sua recandidatura, apelando à sua base eleitoral e com fortes ataques aos adversários, consideram analistas em declarações hoje à agência Lusa.

Trump tornou discurso do Estado da União em comício de recandidatura
Notícias ao Minuto

17:10 - 06/02/19 por Lusa

Mundo Analistas

Nos longos 81 minutos do discurso do Estado da União, terça-feira à noite, madrugada de hoje em Lisboa, Donald Trump fez vários apelos à colaboração entre os partidos Republicano e Democrata, para "tornar os Estados Unidos fortes", mas, para os analistas contactados pela Lusa, as medidas que apresentou e as promessas feitas criarão ainda mais divisões e atritos.

"Neste cenário, não haverá espaço para grandes acordos entre Democratas e Republicanos", afirmou Nuno Gouveia, consultor político e investigador sobre política norte-americana, que considera que Trump está já a "pensar na sua recandidatura" e transformou o discurso do Estado da União "num comício".

O consultor diz que Trump até "conseguiu um raro momento de paz com os Democratas", quando "obteve o aplauso devido ao crescente papel das mulheres na sociedade americana e no Congresso".

Contudo, diz Nuno Gouveia, "o seu discurso ficou marcado sobretudo por diversos 'tiros' na direção da oposição Democrata", em questões sensíveis como a imigração, a construção do muro ou matérias orçamentais.

Também José Pedro Teixeira Fernandes, investigador do Instituto Português de Relações Internacionais, considera que, com o discurso do Estado da União, dificilmente Donald Trump terá aliciado os Democratas para as suas causas, "nem é previsível que leve a qualquer alteração substantiva das posições conhecidas" da oposição.

"Apesar dos apelos feitos por Donald Trump para serem ultrapassadas as linhas da divisão partidária em vários assuntos da sua agenda política -- desde logo na contenciosa política migratória e na questão do muro na fronteira com o México -- e de ter dado destaque a tema onde pode ser mais fácil dilui-las -- como, por exemplo, a renovação das infraestruturas do país ou o preço dos medicamentos para doenças que afetam setores importantes da população -- as reações iniciais dos Democratas são no sentido de o considerar 'vazio' ou sem propostas adequadas", explica o investigador e docente da Universidade Católica.

Nuno Gouveia diz mesmo que a estratégia do Presidente dos EUA foi provocar os Democratas: "um momento claro de afrontamento aconteceu quando disse que só poderá haver paz e legislação se eles abandonarem as investigações à sua administração, ecoando um pedido semelhantes que Richard Nixon fez em 1974, quando o escândalo Watergate ainda ia no adro".

Germano Almeida, investigador e autor de livros sobre política americana, chega à mesma conclusão e considera que, com a postura revelada neste discurso, Donald Trump parece procurar um impasse político, bloqueando canais de comunicação com o lado Democrata.

"Diria que este foi um discurso de lançamento da sua recandidatura para 2020", conclui Nuno Gouveia, explicando que as palavras de Trump apelam essencialmente à sua base Republicana e "colocando os Democratas como obstrucionistas e defensores do socialismo, utilizando a Venezuela para atacar as forças mais à esquerda do Partido Democrata".

Os analistas contactados pela Lusa não reconhecem nenhuma novidade neste discurso do Estado da União, nem na componente interna, nem externa, referindo que o Presidente preferiu autoelogiar-se e seletivamente fazer um retrato muito positivo da situação do país.

"É de assinalar, ainda assim, um tom relativamente mais contido, para os padrões tradicionais do Presidente", afirmou Teixeira Fernandes, que viu no estilo de Donald Trump alguns sinais de tentar empurrar a responsabilidade da crise à volta da paralisação do governo para o lado Democrata, tentando mostrar que, da sua parte, está aberto ao diálogo e à concertação.

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