Protagonistas divididos entre papel do jornalismo e o modelo de negócio
Vários protagonistas da comunicação social e do jornalismo mostraram-se hoje divididos entre a discussão sobre o papel da profissão e seu modelo de negócio, em dois debates que decorreram no Centro Cultural de Belém, em Lisboa.
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Economia Media
O presidente da Associação Portuguesa para o Desenvolvimento das Comunicações (APDC), Rogério Carapuça, afirmou que a "necessidade" de existir um mediador de comunicação é o tema "mais relevante" da discussão em torno do jornalismo, durante um debate no evento "O Futuro do Jornalismo"..
Considerando que a profissão de jornalista "foi ameaçada", Rogério Carapuça disse, durante o debate intitulado "Tecnologia e as Redações -- haverá jornalismo no século XXII?", que o que "está em causa" sobre o jornalismo é "a necessidade ou não de existir um mediador" nos processos de comunicação social.
O antigo diretor executivo da Novabase considerou que há "profissões que estão a ser colocadas em causa porque permitiram uma desintermediação", estando hoje "socialmente desacreditadas", mas que pela sua "natureza emocional" e social, e não "transacional", não vão ser "substituídas facilmente" pelas tecnologias.
Também presente no mesmo debate, o editor-executivo do Expresso Germano Oliveira concordou que a sociedade dá hoje um valor "baixo" aos intermediários e considerou que o jornalista "deve ser um intermediário não no sentido do negócio [jornalístico], mas que recolhe os factos, escreve uma história e a entrega".
Relativamente ao modelo de negócio do jornalismo, António Câmara, professor na Universidade Nova de Lisboa, considerou que a área tem de perceber que está a ser jogado "um jogo em cima do jogo", ou seja, "há o jornalismo e há os portais em cima" dele, numa referência a plataformas como o Google ou o Facebook que, apesar de não serem empresas jornalísticas tradicionais, geram receitas através das visualizações e interações com 'sites' de órgãos de comunicação social.
Já Eduardo Moura, quadro da EDP e ex-jornalista, disse que o negócio do jornalismo tem o "paradoxo" da "informação no sentido de a notícia" dever ser orientada "no sentido livre e gratuito", mas ser "preciso remunerar" quem a fabrica.
Num debate anterior, com o título "A Angústia do Jornalismo: dar aquilo que as pessoas querem, ou aquilo que os jornalistas julgam que elas precisam?", o colunista do Público João Miguel Tavares afirmou que se confunde "o problema do modelo de negócio com o modelo do jornalismo", que o ofício "não precisa" de ser salvo, e que em Portugal há dez anos "não era melhor", mas sim "mais fraco e menos independente".
No entanto, o antigo diretor de programas da RTP Nuno Santos afirmou que o jornalismo "não está fora" da "mutação na indústria" mediática, e que esta mudança pode "parecer uma coisa só de entretenimento e séries, mas não é".
Também presente no debate, a diretora da Visão Mafalda Anjos disse não duvidar "que se faça jornalismo de qualidade", mas tem "dúvidas de que haja quem o pague".
Por sua vez, o repórter do Diário de Notícias Paulo Pena afirmou que o jornalismo "está a fazer muito mais com menos gente", e que "não é verdade" a ideia de alguns gestores "de que menos era melhor".
"A discussão fundamental aqui é saber se o jornalismo faz ou não falta à democracia, e acho que isso não era tão claro há 10, 20 ou 30 anos", uma vez que "o que era garantido deixou de ser", salientou Paulo Pena.
Por sua vez, o fundador do Público Vicente Jorge Silva disse que "há uma dialética" entre o lado do "jornalista na sua cátedra" e o "que as pessoas querem" ler.
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