Teatro Nacional São João recebe estreia da tragédia 'O Mal-Entendido'
A peça "O Mal-Entendido", de Albert Camus, encenada por Nikolaus Habjan, que conta a história de um filho que, retornando a casa, quer ser reconhecido pela família, estreou hoje no Teatro Nacional São João, no Porto.
© Global Imagens
Cultura Porto
"Jan volta a para sua casa depois de 20 anos de ausência e pretende ser reconhecido pela sua irmã e pela sua mãe. O 'mal-entendido' acontece quando ele não é reconhecido e acaba por ser morto por elas. Jan é envenenado e depois puxado para água, afogando-se", disse o encenador, Nikolaus Habjan, em declarações aos jornalistas após o ensaio completo para a imprensa.
O encenador revela ainda que o espetáculo é muito "aberto a interpretação" da audiência e, por isso, cabe ao público decidir se Martha, a sua irmã, acaba por o reconhecer ou não.
A produção austríaca passa-se numa casa habitada por três atores que manipulam marionetas em tamanho real e, segundo o encenador, "todas as personagens são personagens principais" pois todas carregam "uma forma de culpa".
Para o encenador, a peça tem "muitos pontos" que poderiam levar a um final feliz e é esse aspeto que a torna tão "bruta", percebendo-se, no entanto, "desde a primeira frase que se trata de uma tragédia".
O encenador recordou que na época em que a peça foi escrita, em 1941, na França ocupada pela II Guerra Mundial, foi também mal-entendida e encarada como "depressiva" e "negativa", mas Camus deixou algumas palavras no início do texto que permitem que a peça seja entendida corretamente.
"Camus escreveu (...) que este não é um lugar escuro, é um apelo para se dizer o que se quer. Se queres alguma coisa, diz. Não esperes, não te sentes e esperes que alguém reconheça as tuas necessidades. Se tu precisas de alguma coisa, di-la", disse o encenador, considerando esta como a "grande mensagem" do espetáculo.
Nikolaus Habjan explicou que escolheu encenar o espetáculo com marionetas pois estas permitem "trazer um ótimo foco para o texto", atuando como uma "lupa" sobre ele.
"As marionetas oferecem uma clareza enorme que não seria possível com atores, porque as marionetas não são reais. E, primeiro, a audiência tem de aceitar estas marionetas como seres humanos e esta mudança na receção permite que o texto vá diretamente para o teu cérebro", explicou.
Além disso, e ao contrário do que acontece com os atores, através das marionetas é possível criar "dois mundos", com vários "níveis e camadas" nas personagens.
"Quando Jan volta para casa, usando a falsa identidade para não ser reconhecido, ele tira a marioneta da sua mala e aí ele entra no mundo da mãe e da irmã. Isto só é possível com marionetas", disse.
O encenador recorreu ainda ao momento da morte de Jan, quando este perde a consciência e retira a mão da marioneta, para explicar a dualidade interpretada pelo ator e pela marioneta.
"Tu sabes que a marioneta está morta, não há mais conexão, a marioneta não se mexe mais. E, a partir daí, ele revela a sua identidade e diz à mãe quem realmente é. Mas a mãe não o consegue ouvir porque é uma marioneta. Isto é muito complexo".
O espetáculo, que parte da obra de Albert Camus, conta com encenação, marionetas e interpretação do austríaco Nikolaus Habjan.
"O Mal-Entendido" é uma produção Schauspielhaus Graz, tendo sido apresentado no Volkstheater Wien, o segundo maior teatro de Viena.
A peça, interpretada em alemão e para maiores de 12 anos, estreia-se na quinta-feira, pelas 21:00, podendo depois ser vista na sexta às 21:00, no sábado, às 19:00, e no domingo, às 16:00.
Descarregue a nossa App gratuita.
Oitavo ano consecutivo Escolha do Consumidor para Imprensa Online e eleito o produto do ano 2024.
* Estudo da e Netsonda, nov. e dez. 2023 produtodoano- pt.com