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Autorretratos inéditos de Paula Rego após queda expostos no Reino Unido

Uma série de autorretratos inéditos produzidos após uma queda que lhe feriu a testa fazem parte de uma nova grande exposição de Paula Rego numa galeria britânica, que inclui também telas inspiradas num livro de Hélia Correia.

Autorretratos inéditos de Paula Rego após queda expostos no Reino Unido
Notícias ao Minuto

12:37 - 10/10/17 por Lusa

Cultura Exposição

A exposição, que abre ao público a 21 de outubro na galeria Jerwood Gallery, em Hastings, será a primeira a mostrar os cinco desenhos que a pintora portuguesa realizou após uma queda em janeiro deste ano.

Rego, de 82 anos, embateu com a cara num pavimento de cimento, resultando num golpe profundo na testa que precisou de ser suturado no hospital.

Todavia, poucos dias depois, a artista retomou o trabalho e começou a retratar-se a si própria no seu estado contundido, acrescentando uma nova dimensão aos quadros produzidos.

Paula Rego tem poucos autorretratos na sua obra, mas lembra-se de, certa vez, se ter feito representar usando uma máscara de macaco, algo mesmo assim invulgar.

"Eu nunca pinto autorretratos, prefiro pintar outras pessoas. Pintei-me com as feridas porque era interessante, deu-me uma razão para pintar um autorretrato. [O curador da exposição] Colin Wiggins gostou deles e levou-os do meu estúdio. Não tinha nenhuma razão para não os mostrar", disse à agência Lusa.

A exposição, que permanece até 07 de janeiro de 2018, vai também apresentar o trabalho mais recente da pintora, uma série de quatro telas inspiradas nas histórias do livro de Hélia Correia intitulado "Bastardia", vencedor do Prémio Máxima de Literatura em 2006.

A artista considera a narrativa "maravilhosa", começando pelo primeiro capítulo, que relata "o que as sereias fazem às pessoas".

"Eu sabia que podia usá-lo para fazer trabalho. Uma das personagens, uma menina, é violada. A avó dela fica tão transtornada que quer morrer, mas não consegue, e um menino cresce a pensar que o pai dele é o mar. No final, o céu é azul, o mar é azul e o menino é azul porque está morto. Maravilhoso", exaltou.

A exposição foi programada por Colin Wiggins, que trabalhou nos museus Britânico e National Gallery, e abrange 28 anos da carreira de Paula Rego, incluindo gravuras, desenhos, pastéis e pinturas.

Entre os trabalhos já conhecidos estão quadros das séries 'A Relíquia', 'O Último Rei de Portugal' e 'Primo Basílio', desenhos das séries sobre depressão, litografas de 'Jane Eyre', 'Peter Pan' e 'Nursery Rhymes', bem como alguns dos bonecos que faz em têxtil para servirem de modelos para as suas pinturas.

Wiggins disse à Lusa ter ficado fascinado quando descobriu os desenhos: "A minha reação inicial foi ficar em frente deles com a boca aberta e dizer: 'O que raio é isto?'".

Ao escutar a história da queda e de como Paula Rego escarafunchava os pontos, prolongando a recuperação e também a oportunidade para se pintar a si mesma naquele estado, o curador da exposição admite ter hesitado em pedir, mas Paula Rego não hesitou pareceu preocupada em mostrar os desenhos.

"Perguntei a Paula se, ao fazer esses trabalhos, ela estava, até certo ponto zangada com o declínio inevitável que todos vamos enfrentar se vivermos tempo suficiente. A resposta da Paula ao que eu pensava ser uma questão séria foi simplesmente rir e dizer 'Oh não, eu só achei interessante ver como é que eu estava!'", contou.

A Jerwood Gallery completou este ano cinco anos de atividade num edifício situado na orla marítima da cidade costeira de Hastings, onde tem uma coleção de arte do século XX e promove exposições de artistas contemporâneos, estabelecidos ou emergentes.

Para financiar esta grande retrospetiva da obra de Paula Rego, recorreu a uma campanha de financiamento coletivo na Internet ('crowdfunding') que superou a meta de angariar 25 mil libras (28 mil euros).

Paula Rego vive e trabalha em Londres, para onde se mudou com 17 anos para estudar na Slade School of Fine Art.

Em 2010 foi distinguida pela rainha Isabel II com o grau de Oficial da Ordem do Império Britânico pela sua contribuição para as artes.

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