A coordenadora do Ensino do Português no país, Regina Duarte, adiantou que o projeto surgiu de uma colaboração bem sucedida com a organização Native Scientist, que tem levado investigadores portugueses às salas de aulas.

"Durante estas visitas, discutimos a possibilidade de haver material que pudesse dar sequência àquele trabalho, para que não ficasse por ali o que se podia fazer. Os manuais escolares apresentam textos e atividades sempre em contextos simulados, pouco naturais e pouco variados", disse à agência Lusa.

O resultado foi a recolha de dez testemunhos de cientistas que trabalham em países como Reino Unido, Portugal, mas também Austrália ou África do Sul, em áreas distintas como a biologia, física, astronomia ou engenharia civil.

"São pequenos textos biográficos, mas com conteúdo. Falam de onde os investigadores vêm, mas também do que fazem. O objetivo é que não só conheçam as pessoas, mas que aprendam algo. Por exemplo, um microbiologista vai ensinar sobre bactérias", afirmou à Lusa uma das fundadoras da Native Scientist, Tatiana Correia.

O público alvo são crianças com idades entre os oito e 12 anos que aprendem português no estrangeiro, estimulando o uso da língua dos pais e promovendo figuras inspiradoras a nível pessoal e profissional.

Este é, por enquanto, um projeto piloto, existindo a ambição de desenvolver outro tipo de recursos, como uma aplicação para dispositivos móveis e produzir vídeos nos respetivos locais de trabalho de alguns destes cientistas.

No final do ano deverá ser produzido um livro em suporte físico, mas o material ficará também disponível no sítio http://nativebooks.strikingly.com.

A Native Scientist foi formada em 2012 para combater a exclusão social das comunidades bilingues no Reino Unido, procurando estimular o interesse pelas ciências e pelas línguas maternas através da interação com cientistas.

Até agora já realizou 16 visitas a 330 alunos, envolvendo 90 voluntários, dos quais 35 cientistas. Começou por trabalhar com crianças portuguesas em Inglaterra, mas já alargou as atividades a crianças espanholas e francesas.

Brevemente, vai iniciar ações com crianças portuguesas na Escócia e França e pretende chegar também ao Luxemburgo.

Regina Duarte afirma que as visitas realizadas em Inglaterra têm sido "muito bem sucedidas, a várias dimensões", pois põe os alunos em contacto com "pessoas que falam português e que fazem trabalhos fascinantes", desde trabalhar em telescópios espaciais a curar doenças do cérebro.

Os alunos, acrescentou a responsável, "também alargam o vocabulário em português, porque estão a falar sobre ciência e sobre áreas específicas, com palavras que não usariam habitualmente na aula de português, para além de alargarem o conhecimento sobre o mundo".

A rede de ensino de português no Reino Unido tem atualmente 3.100 alunos distribuídos por 56 escolas.