Peça 'A Noite' sobe à cena quinta-feira no Teatro da Trindade
A "liberdade" e a "verdade jornalística" são debatidas na peça "A Noite", de José Saramago, que sobe quinta-feira à cena, no Teatro da Trindade, em Lisboa, disse à Lusa o encenador José Carlos Garcia.
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Cultura Saramago
"Esta é uma peça de grande atualidade, pois coloca, no centro do debate, o que é a verdade jornalística", disse à Lusa José Carlos Garcia, que foi jornalista durante 12 anos.
O encenador disse que a peça nos "questiona também sobre a 'liberdade' que damos como um direito adquirido e que não é assim em todos os países, e até que ponto essa 'liberdade' pode ser manipulada".
"Por outro lado, acrescentou, José Saramago abre a peça com a frase: 'Todos fazemos jornais um dia', de um autor desconhecido, e nada é mais real do que acontece hoje com os blogues, 'sites' e rede sociais na Internet", disse.
"A Noite", escrita em 1979, é a primeira obra dramática do Prémio Nobel, que a dedicou à encenadora Luzia Maria Martins, uma das fundadoras do Teatro Estúdio de Lisboa, que, segundo afirmou, foi a pessoa que o "achou capaz de escrever uma peça".
A noite a que a peça se refere é a de 24 para 25 de Abril de 1974, e a ação passa-se na redação de um jornal, em Lisboa, e o autor, ironicamente, adverte que "qualquer semelhança com personagens da vida real e seus ditos e feitos é pura coincidência". "Evidentemente".
A peça, adaptada por Paulo Sousa Costa, é levada à cena no Trindade pela Yellow Star Company, numa parceria institucional com a Fundação José Saramago, e insere-se nas celebrações dos do 15.º aniversário da atribuição do Prémio Nobel a José Saramago.
A direção musical é de Paulo Brandão e o elenco é constituído por Fábio Alves, Filipe Crawford, Joana Santos, João Lagarto, Paulo Pires, Pedro Lima, Samuel Alves, Sofia Sá da Bandeira e Vítor Norte.
Nesta "noite" em palco, administradores e jornalistas entram em conflito, uns gritam que "a máquina há de parar" e outros defendem que "há de andar".
"O conflito ganha uma dimensão ainda mais dramática quando surge na redação o boato de que poderá estar a acontecer uma revolução na rua. A agitação e o nervosismo crescem no seio do jornal", escreve o Teatro da Trindade em comunicado.
Uns e outros tomam posição sobre a publicação ou não da notícia de que a revolução está nas ruas. "Está instalada uma micro revolução dentro da redação do jornal. A incerteza cresce até que se consiga provar o que poderá estar a acontecer na rua".
Uma das personagens, presente ao longo de toda a ação, é "o contínuo do jornal, Faustino, que sabe mais do que aparenta e tenta manter uma atitude neutra, [mas] vai desconstruir alguns dos conflitos vividos na redação".
"Faustino é coxo de nascença e o seu andar atípico, que lhe dificulta a atarefada profissão de contínuo, visa ironizar sobre o estado do país e a velocidade com que este avança. Faustino, papel desempenhado por Filipe Crawford, simboliza o 'Zé povinho'. Gosta quando o [jornalista Manuel] Torres o chama de Fastino que, segundo diz, era a sua alcunha quando 'jogava futebol', por ser muito rápido".
"A Noite" foi levada a cena pela primeira vez em maio de 1979, pelo Grupo de Teatro de Campolide, com encenação de Joaquim Benite e direção musical de Carlos Paredes. No elenco figuravam então, entre outros, António Assunção.
A peça estará em cena, no Trindade, até 29 de dezembro, e a apresentação do respetivo bilhete equivale a um desconto de 20% no custo da entrada na Casa dos Bicos, sede da Fundação José Saramago.
A entrada normal na Casa dos Bicos, no Campo das Cebolas, em Lisboa, é de três euros, mas desce a dois euros para estudantes. Um grupo com o máximo de 20 pessoas paga 15 euros, com marcação. A entrada é gratuita para crianças até aos 12 anos, para adultos a partir dos 65 e para desempregados.
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