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Casa da Música recebe estreia ibérica de sinfonia de Charles Ives

A Sinfonia n.º 4 do compositor norte-americano Charles Ives (1874-1954), para orquestra, piano e coro, terá estreia ibérica no sábado pela Orquestra Sinfónica do Porto com o Coral de Letras e o solista Paulo Álvares, na Casa da Música.

Casa da Música recebe estreia ibérica de sinfonia de Charles Ives
Notícias ao Minuto

18:00 - 08/03/19 por Lusa

Cultura Espetáculo

O pianista brasileiro e o coro da Faculdade de Letras da Universidade do Porto juntam-se ao agrupamento residente da Casa da Música para interpretar a estreia ibérica da obra de um dos grandes nomes da música dos Estados Unidos, pelas 18:00 de sábado.

Num ano em que o tema da instituição é o Novo Mundo, virado para a música criada na América do Norte, o programa inclui ainda 'The Unanswered Question', uma das suas obras mais famosas, que só foi tocada em 1946, muitos anos depois da altura em que a terá composto.

Antes, a Sinfónica estreia em Portugal a peça 'My Father Knew Charles Ives' ('O Meu Pai Conheceu Charles Ives', em tradução livre), do norte-americano John Adams, que tem em Ives uma das grandes influências.

O diretor artístico da Casa da Música, António Jorge Pacheco, explicou à Lusa que esta é "uma ocasião imperdível" e um dos grandes concertos do ano para aquela instituição, pelas particularidades da quarta sinfonia, que combina vários grupos dentro da mesma orquestra, a tocar a ritmos diferentes, e uma "parte para solista de extrema dificuldade, para um virtuoso", além de um coro alinhado com "a tradição americana de canto em comunidade", em detrimento de um agrupamento profissional.

"Há público que vem de Espanha para este concerto, porque esta obra nunca foi tocada no espaço ibérico. O Ives era um compositor com muitas particularidades, uma vez que o pai era músico e maestro de filarmónicas. Desde muito novo que ouvia desfiles com várias bandas e ouvia sons a virem de muitos sítios, em simultâneo", conta o diretor artístico.

Essa influência acabou por marcar a sua obra, e esta quarta sinfonia, escrita entre as décadas de 1910 e 1920, em particular, com um grupo na ponte técnica da Sala Suggia, próximo do teto, outro num dos camarotes, e o próprio palco "dividido com vários grupos a tocar a ritmos diferentes", com três maestros -- o maestro titular, Baldur Brönnimann, Raquel Couto e Cláudio Ferreira.

"Têm ensaiado os três sem a orquestra, até, porque a coordenação para este trabalho é muito exigente, e isto faz parte do segredo da performance", aponta António Jorge Pacheco.

'My Father Knew Charles Ives', a peça de John Adams escolhida para o programa, apresenta os pontos de contacto entre Ives e o pai do norte-americano -- embora nunca se tenham conhecido, como o título sugere, ambos tinham sido músicos, e Ives já tinha aprendido com o pai, cresceram a ouvir um misto de música popular e clássica e tinham proximidades filosóficas.

Datada de 2003, é simultaneamente uma autobiografia e uma homenagem ao compositor que mais influenciou a sua carreira, dividido em três movimentos que são três locais importantes para Adams.

Em 'A Barreira Invisível', filme de guerra realizado por Terence Malick, John Adams, responsável pela banda sonora, utiliza 'The Unanswered Question', interpretado pela Orquestra de St. Luke, numa das muitas aproximações a Ives ao longo da carreira.

Sobre a obra de John Adams, António Jorge Pacheco descreve-a como "absolutamente típica da linguagem deste compositor", tendo tido a garantia de que nunca tinha sido tocada em Portugal.

Inserida no que se chama de movimento de "música minimal repetitiva", o diretor artístico considera que Adams "ultrapassa muito essa classificação tão rígida, vai para além disso", e apesar de uma obra "ritmicamente bastante difícil", 'My Father Knew Charles Ives' será "reconhecível aos primeiros acordes por quem o conhece".

Nascido em 1874, Ives foi "rapidamente muito apreciado" e tornou-se num dos primeiros nomes do chamado 'Novo Mundo' a ter aclamação na Europa, apesar de ter "pouco conhecimento do que se passava no continente europeu, como o movimento atonal", e acabou por "ele próprio fazer a revolução à sua maneira".

Apesar do reconhecimento, o compositor modernista não foi considerado em vida como foi abraçado após a morte, em 1954, e a combinação entre música popular e outras tradições da juventude, da igreja da infância à experiência no basebol, já na universidade, marcam um percurso que combina o experimentalismo com uma série de inovações que vieram a marcar a música do século XX.

Esta estreia estava pensada para acontecer "o quanto antes", confessa o diretor artístico, para poder enquadrar a programação de um ano dedicado ao continente norte-americano, assim "recentrando a atenção num dos temas principais da temporada".

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