"A paragem é feita seguramente para proteger o 'stock'. Temos um longo caminho a percorrer para passar das 100 mil toneladas para as 400 ou 500 mil [toneladas de sardinha disponível] que era aquilo que era razoável que houvesse", afirmou Jorge Miranda durante uma audição parlamentar na Comissão de Agricultura e Mar.

O cientista lembrou ainda os ensinamentos da experiência internacional: "Todos os países que fazem gestão de 'stock' conseguem manter os seus 'stocks' num nível equilibrado (...).Todos os países que fecham os olhos à realidade e deixam explorar até ao fim o recurso enquanto ele existe acabam por ficar sem nenhum recurso e é isso que queremos evitar".

"Pensem no seguinte: o 'stock' nunca esteve tão baixo", disse Jorge Miranda aos deputados, para explicar que qualquer que seja o modelo usado para avaliar a disponibilidade de sardinha, os resultados são os mesmos: "está a subir lentamente, a mortalidade está a descer razoavelmente depressa", mas o 'stock' ainda não recuperou.

O dirigente do IPMA acredita, por isso, que se for adotada "uma atitude sensata e precaucionaria" existe uma forte possibilidade de conseguir recuperar o 'stock' de sardinha, mas "não pode haver flexibilidade" até ser atingido o equilíbrio.

"O nosso interesse é proteger, desenvolver e apoiar o setor", garantiu. "Estamos confiantes de que as medidas que estão a ser tomadas, sendo duras para o setor - e não nos podemos esquecer disto - sejam suficientes para repor as condições de equilíbrio ecológico".

Jorge Miranda salientou que a sardinha é um recurso "razoavelmente vulnerável", já que os 'stocks' evoluem no tempo de forma rápida, ou seja, "com variações muito rápidas de subida e de descida", de acordo com aspetos ainda não totalmente compreendidos pelos cientistas, apesar de a sardinha ser monitorizada em Portugal desde os anos 80.

O 'stock' (ou seja, a massa total de sardinha pescável) considerado adequado ronda as 400 a 500 mil toneladas, mas atualmente não ultrapassa as 150 mil. Em 1994, o 'stock' atingiu um valor recorde de 950 mil toneladas.

"Nos últimos anos, temos vindo a assistir a uma diminuição gradual, mas sistemática desse 'stock'", alertou o cientista, acrescentando que o conhecimento científico ainda "é insuficiente, em particular a identificação dos mecanismos que levam a estas reduções", admitindo-se que estejam relacionados com fatores climáticos.

Há também dados que intrigam os investigadores, como a existência de uma grande quantidade de ovas e uma pequena quantidade de juvenis.

"Não sabemos porquê", reconheceu o especialista do IPMA, apontando entre as causas possíveis a predação de cavalas, cujo 'stock' tem aumentado.