"Caminhámos para a falência sem um 'ai' de um político"
No seu habitual comentário na TVI 24, Henrique Medina Carreira voltou esta semana à temática da despesa pública. Defendendo maior fiscalização dos dinheiros públicos, o antigo ministro alegou que o problema português está intrinsecamente ligado ao aumento das prestações e salários pagos pelo Estado e disse que raramente viu um político capaz de dizer não ao aumento da despesa.
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Economia Medina Carreira
“A crise de 2011 trouxe uma coisa que em Portugal já não acontecia há 120 anos: a bancarrota. Há causas que são muito marcantes. (...) Uma das coisas que as pessoas não percebem muito bem é que os governos não são governos como há 20 anos. Foram perdendo poderes fundamentais e hoje não têm quase poder nenhum”, começou por referir Henrique Medina Carreira no seu comentário semanal na estação de Queluz.
Elencando depois o que chamou um conjunto de “pormenores” que marcam a atualidade portuguesa, entre eles “a pobreza, a imigração forçada, o endividamento brutal do país [ou] insuficiência para manter o Estado", o antigo ministro das Finanças lamentou que o discurso político em Portugal seja feito sempre a pensar em eleições, sendo, neste âmbito, feitas promessas difíceis de cumprir.
“Os que se perfilam para as próximas eleições também já começaram com a sua máquina de aldrabice. O próprio governo já está a marcar passo nisto. Os impostos são o exemplo. A intenção é chegar ao ouvido dos cidadãos com um discurso que ‘eu sou pela baixa dos impostos’”, atirou Medina Carreira, explicando depois que “isto dificulta [a credibilidade da vida política] porque chegamos à altura e não acontece nada.”
Posteriormente, referindo dados avulsos sobre os anos de 2000 a 2010, o antigo governante dá exemplos do crescimento do produto e da despesa. Nesta década “o produto nominal, com inflação, subiu 36%; os impostos 43%; a despesa total 68% e; as despesas com pessoal e prestações sociais 76%”, atirou, acrescentando que esta situação era, na sua opinião, “insustentável”.
“O ritmo do crescimento pessoal mais prestações - aquilo que é grande dificuldade do ajustamento - cresceu mais do dobro do produto. Os impostos se tivessem acompanhado isto podiam colmatar este problema. Isto é uma progressão absolutamente insustentável. A crise antecipou e agravou, mas o problema já estava identificado. A crise [de 2008] veio ajudar à asneira”, afirmou Medina Carreira em declarações na TVI 24.
Referindo-se ao período de 2008 e 2009, altura da reeleição de José Sócrates, Henrique Medina Carreira chama atenção para as políticas seguidas e os gastos realizados. “O que aconteceu foi que, por motivações eleitorais, sob o pretexto da orientação da UE, se gastou dinheiro. Fizeram políticas completamente desastradas. Aumentaram despesa com pessoal e prestações e agora não dá para voltar atrás”, completou
Sobre este tema, numa altura em que o Governo liderado por Pedro Passos Coelho se vê pressionado a custar na despesa para estabilizar as contas públicas, Medina Carreira lamenta que na altura em que se começaram a avolumar problemas ninguém tenha dito nada ou alertado para a situação insustentável que se vivia em Portugal.
“Impressiona-me. Não se vê um político no ativo que afirme que uma despesa não deva ser executada. Caminhámos para a falência sem um ai de nenhum político, um deputado, um ministro”, referiu a propósito do período anterior ao pedido de assistência externa, que culminou com a entrada da troika em Portugal.
Com esta ideia como pano de fundo, o antigo ministro, que teve a seu cargo a pasta das Finanças, lembra que no período do escudo era possível desvalorizar a moeda, situação que, considera, “compensava as asneiras”, lembrando que, após a adesão à União Europeia, “os fundos europeus foram uma das nossas desgraças. Durante 10 ou 15 anos pudemos fazer todas as loucuras”, referiu.
Atendendo a toda a problemática do Estado Social, Henrique Medina Carreira assumiu que quando ouve um político falar deste tema fica “preocupado”, isto porque diz que quando se começa a debater este tema se sabe “que se estão a comprar uns milhões de portugueses. Não tem escrúpulo. Sabem que não há dinheiro mas prometem coisas”.
Por fim, em tom elogioso, numa altura em que se começa a preparar o período eleitoral, Medina Carreira destaca a postura da ministra das Finanças, Maria Luís Albuquerque. “A ministra das finanças é a única pessoa responsável da cena pública que vale a pena seguir. É a única pessoa com a cabeça no lugar. E agora que vamos a caminho das eleições anda tudo meio ‘bêbado’…”, referiu para terminar.
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