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Benfica - Sporting: um (novo) jogo entre o "silêncio" e a "estratégia"

Jorge Silvério, psicólogo do desporto e ex-provedor do adepto, analisa ao Notícias ao Minuto as recentes polémicas do futebol português.

Benfica - Sporting: um (novo) jogo entre o "silêncio" e a "estratégia"
Notícias ao Minuto

08:00 - 24/10/15 por Sérgio Abrantes

Desporto Jorge Silvério

Este sábado trazemos-lhe uma entrevista com Jorge Silvério, ex-provedor do adepto, doutorado em psicologia do desporto, um homem que vê o desporto do lado de cá, mas que sabe bem, porque também trabalha com atletas, como é estar do lado de lá.

Face às perguntas que o momento impõe, em plena ‘guerra’ de palavras e a horas do dérbi, fomos tentar perceber como olha este estudioso para as mais recentes polémicas. Das declarações de Bruno de Carvalho, à estratégia do Benfica, passando também em revista as ofertas aos árbitros, quem sai a vencer neste dérbi de palavras e o que tem o FC Porto a ganhar com uma posição passiva.

Toda a análise será feita aqui, agora, com as perguntas que todos querem ver respondidas.

Como observou a recente polémica em que Bruno de Carvalho se viu envolvido ao ir ao programa Prolongamento, da TVI? Acha que o dirigente máximo dos ‘leões’ esteve bem?

A ideia com que fiquei foi que Bruno de Carvalho estava de alguma forma a tentar defender o clube, utilizando uma estratégia escolhida pelo Sporting para defender o clube. Normalmente, temos a ideia que aquilo que influencia o jogo se passa dentro do retângulo, durante aqueles noventa minutos. Mas é evidente que o que acontece à volta pode também influenciar o rendimento desportivo dos jogadores. Os jogadores não vivem numa redoma, têm acesso às notícias e aos comentários. É normal, da parte dos clubes, haver este tipo de estratégia, um pouco como os treinadores fazem em conferência de imprensa. Que os meus sejam protegidos e os adversários sejam picados. Isto não é anti-desportivo, faz parte do desporto. Encaro, deste ponto de vista, como normais as declarações do presidente do Sporting.

Como se explica o silêncio do Benfica. Poderão, os jogadores, sentir que foram de certa forma abandonados? Será um admitir de ‘culpas’ no caso das ofertas aos árbitros?

Não me parece que seja assim, até porque os jogadores não foram postos em causa. Quando muito, a instituição Benfica pode sentir-se de alguma forma posta em causa. No entanto, o silêncio é estratégico. O silêncio é também uma estratégia comunicacional e o Benfica está, claramente, a optar por isso. Normalmente o que acontece é que uma parte fala, fala, fala e a outra, ao não interagir, cria uma diminuição do tom e o tema acaba até por desaparecer. O Benfica seguiu esta postura.

Os jogadores também estarão a par desta estratégia e isso faz com que não se sintam sozinhos ou abandonados, sabendo que isto é a estratégia institucional do clube.

Considera que, na sua perspetiva, enquanto psicólogo e ex-provedor do adepto, o tom usado por Bruno de Carvalho, envolvendo-se com um comentador, não acaba por se virar contra o presidente do Sporting e prejudicar a imagem do futebol e das instituições?

Acho que, se houve uma definição estratégica por parte do clube, será uma boa estratégia, e nada haverá a dizer. Do ponto de vista do impacto e da eficácia, eu penso que só conseguiremos ter uma opinião certa sobre isto depois do jogo, ou mesmo no fim do campeonato. Temos uma equipa a defender o título, com a vantagem de ser bicampeã e temos duas equipas, uma que continuou a fazer um grande investimento (FC Porto), depois de uma época em que não ganhou nada, e o Sporting que mudou a sua estratégia e ao mudá-la achou que seria para a instituição a estratégia a seguir.

Não estando por dentro da realidade dos clubes, limito-me a constatar este facto e a perceber que há de facto uma estratégia e tentativa de definição de uma nova política. Não é costume um presidente de um clube fazer isto, mas tendemos a fixar-nos nos resultados, portanto eu diria que ainda está por avaliar se o caminho seguido está certo ou não. Não será certamente no fim do jogo que poderemos avaliar isso. O que está em causa neste momento é o campeonato nacional e no final da época poderemos fazer uma avaliação mais cuidada.

É óbvio que as declarações mais extremadas acabam por ter influência, mas gostava de reforçar que quer o Benfica e o Sporting têm pessoas muito competentes, que, apesar de tudo, fazem o seu papel muito bem. Temos a sensação que os clubes e as direções estão em guerra e não é bem assim. A outros níveis vai havendo comunicação e preparação das coisas.

A arbitragem será condicionada por toda esta polémica?

Do ponto de vista estratégico há uma tentativa da parte do Sporting, e também do Benfica, com o seu silêncio, de tentar condicionar a atuação das equipas de arbitragem. Isto é claramente estratégico. Não estamos a falar de coisas ilegais, de corrupção ou de tentativas de corrupção. Este tipo de procedimento é habitual acontecer. Desta vez foi com a caixa, mas muitas vezes são declarações sobre os árbitros. Portanto, há sempre esta tentativa de condicionamento.

O que tem acontecido é que os árbitros estão, cada vez mais, bem preparados para enfrentar este tipo de pressões. Também os árbitros não vivem numa redoma, leem jornais, saem à rua, falam com os adeptos. Tudo isto pode ser considerado uma pressão ou uma forma de condicionar. Os árbitros têm de estar preparados para isto, e há claramente uma grande mudança na arbitragem. Estão muito melhores e têm agora preparação psicológica que não tinham há uns anos.

Jorge Jesus, quando saiu do Benfica, disse que era o cérebro da estrutura das ‘águias’ e que sem ele o clube não era nada. Rui Vitória teve dificuldades a impor o seu jogo, perdendo mesmo para o Sporting na Supertaça. O cérebro era assim tão determinante ou Vitória já está a dar a volta ao novo contexto em que está inserido?

Acho que foi, novamente, uma estratégia. Cabia ao Benfica tomar decisões e medidas para se defender. Acho que houve um conjunto de condicionantes, até por causa da pré-época que condicionou o Benfica, mas sabemos que hoje todos estão condicionados por fatores económicos.

Estamos a falar de um treinador (Rui Vitória) muito competente e que, ultimamente, tem conseguido bons resultados. Havia seis anos de prática e obviamente que há diferenças. Houve um período de assimilação de ideias e metodologias em que as coisas não funcionaram tão bem.

Antes do dérbi, Jorge Jesus irá certamente lembrar o resultado da Supertaça e Rui Vitória vai dizer que a derrota foi numa altura diferente da época, para uma competição diferente. Vai depender muito de como a mensagem vai ser recebida e que importância vão dar os jogadores a isto. O facto é que, muita vezes, pensamos que os jogadores já esqueceram um resultado, mas os jogadores são humanos e dependerá muito de como isto for preparado junto dos atletas e das mensagens que são passadas para opinião pública que perpassam para os jogadores.

Depois de tantas conquistas de Jesus com o Benfica, pondo-o na rota das grandes conquistas europeias, como acha que os adeptos da Luz vão receber um treinador que agora está a representar o seu maior rival?

Eu diria que vai estar um clima relativamente hostil, em função, sobretudo, da rivalidade entre Benfica e Sporting, mas também do processo de saída de Jorge Jesus. Isto fará com que haja um clima mais adverso para o ex-treinador da Luz.

Ele já veio falar disso, mais uma vez pensando em termos estratégicos, pensando que vai encontrar esse clima, dizendo mesmo que face a contrariedades destas se sente como peixe na água.

E qual é avaliação que faz das duas equipas e dos dois treinadores. Acha que algum deles leva vantagem para o dérbi?

Eu diria que as duas equipas estão muito equilibradas. O Sporting tem a vantagem de ter ganho a Supertaça e pode usar isso como trunfo, de estar à frente na tabela classificativa. O Benfica pode usar a vantagem do fator casa. Eu diria que serão pequenos fatores a influenciar o resultado.

Quanto aos treinadores, o Jorge Jesus encaixou-se bem no Sporting. Os dois clubes são diferentes, têm culturas diferentes, tem dirigentes com culturas diferentes, e Jesus, como pessoa inteligente que é, adaptou-se e encaixou numa nova estrutura e na sua estratégia para este campeonato.

O currículo de Jesus é melhor, neste momento, que o de Rui Vitória, mas também temos a diferença de idades a explicar um pouco isso. São dois excelentes treinadores do futebol português e esta época é muito importante para os dois por razões diferentes. Para Rui Vitória porque chegou pela primeira vez a um grande e é uma época de afirmação. Para Jesus, dadas as circunstâncias da mudança, é também uma temporada de afirmação, para provar que pode ganhar noutro clube que não o Benfica. Só no final do jogo perceberemos quem leva vantagem.

Antes víamos o futebol português muito polarizado entre FC Porto e Benfica. O Sporting veio intrometer-se nesta disputa e gerar um novo ruído comprando uma ‘guerra’ com o Benfica. O FC Porto pode aproveitar esta luta para, no silêncio, com um treinador já adaptado ao futebol português, beneficiar desta discórdia entre ‘águias’ e ‘leões’?

Olhando para a história do futebol português vemos que há sempre dois clubes cujas relações são mais tranquilas e outro lado mais conflituoso. Do ponto de vista de estratégia, faz sentido que quando tenho dois dos meus adversários a desgastarem-se, deixar-me ficar numa posição mais confortável. Penso que é isso que o FC Porto tem feito, aproveitando para ganhar com os problemas entre Sporting e Benfica.

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