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"Não me acobardei mas cheguei a temer ficar gravemente ferido"

O dirigente leonino fala do presente e do futuro do clube. Mas também da sua recente presença no Estádio da Luz para um jogo da Seleção, uma visita que teve os seus dissabores.

"Não me acobardei mas cheguei a temer ficar gravemente ferido"
Notícias ao Minuto

04/04/17 por Pedro Filipe Pina

Desporto Marta Soares

Jaime Marta Soares é um histórico na política autárquica portuguesa e um dos bombeiros mais conhecidos do país. Mas em tempos mais recentes é a sua faceta de dirigente do Sporting que tem chamado mais à atenção.

Entre as eleições no Sporting e o jogo da Seleção, onde adeptos afetos aos encarnados ameaçaram o dirigente, o Notícias ao Minuto falou com o presidente da Mesa da Assembleia-geral leonina sobre as eleições, Bruno Carvalho e as críticas de que foi alvo por Pedro Madeira Rodrigues.

Antes de publicarmos esta entrevista voltámos a falar com o dirigente sobre o que se passou na sua recente visita ao Estádio da Luz, para um jogo da Seleção, onde foi recebido com insultos por adeptos. Aqui fica o relato de Marta Soares e a opinião do dirigente sobre a atualidade leonina.

No dia do Portugal-Hungria, no Estádio da Luz, foi notícia ter sido insultado e ameaçado por adeptos afetos ao Benfica. Que se passou?

Tive de passar naquela zona para ir ao quiosque da Federação Portuguesa de Futebol (FPF) porque ainda não tinha em meu poder os convites. Entrei descontraído, para assistir a um jogo da Seleção, a representar o Sporting a convite da FPF. Já depois de passar junto à estátua do Eusébio, sou intercetado por um conjunto de indivíduos com palavras do vocabulário mais execrável que se possa imaginar, de uma baixeza impressionante. Eram dezenas de indivíduos que estavam junto ao acesso das claques do Benfica e tinham insígnias que dava para ver a que clube pertenciam.

Só não fui agredido porque em frações de segundo me vi rodeado de políciasAproximaram-se com nítida vontade de me agredir e só não fui agredido porque em frações de segundo me vi rodeado de polícias, que me conduziram a uma zona mais segura. A polícia colocou-me imediatamente dentro das grades de proteção e estive durante minutos rodeado de elementos da PSP, que me acompanharam à tribuna e por isso nada mais se passou. Não me acobardei mas cheguei a temer que pudesse ficar gravemente ferido. Foi uma coisa inacreditável, que poderia ser muito grave, não fosse a eficácia da polícia, a quem ficarei grato eternamente.

Nas eleições do Sporting votaram 18.755 sócios, um número recorde. Foi um sucesso?

Há uma correção a fazer. Esses são os votos que entraram nas urnas mas há aqui o problema do voto por correspondência. Houve votos que não pudemos contar por questões técnicas, como o reconhecimento da assinatura ou um papel de identificação. Não foram contabilizados mas interessa saber quem quis participar. Faltou a formalidade mas são votos que o sócio enviou e que estamos a contar.

Os resultados oficiais só chegaram de madrugada. Houve dificuldades na contagem?

Não houve nenhuma reclamação, não houve recontagem, não houve situação nenhuma anómala. Às 21h30, quando fui o último a votar, podia chegar lá acima à sala de coordenação, carregar no botão, que a password era eu que a tinha, fechada num cofre, e um minuto depois nós tínhamos a votação.

Quis garantir intencionalmente esse suspense porque senão no dia seguinte ainda ali estávamosOptou por esperar?

Quisemos aguardar pela contagem de todos os votos. Tivemos de contar quase quatro mil votos à mão: tirá-los de dentro do envelope e colocá-los em recipientes diferentes: da mesa da assembleia-geral, do conselho diretivo, do conselho fiscal e do conselho leonino. Foram aqueles quatro mil multiplicados por quatro.

É um trabalho moroso, estiveram mais de 60 pessoas aquelas horas todas para se conseguir contar tudo. Mas com aquela diferença tão grande de votos, as pessoas ainda perdiam o entusiasmo de contar os votos e iam-se embora [risos].

Acabou por manter o suspense.

Quis garantir intencionalmente esse suspense porque senão no dia seguinte ainda ali estávamos. Aquilo era uma sondagem em que não havia dúvidas e não eram esses quatro mil votos que iam fazer a diferença. Fiquei até mal visto, que disse que às 22h estava pronto e cada minuto era um suplício. Tem de se procurar um sistema para evitar esta situação. Mas nestes quatro anos estou confiante que vamos ultrapassar essa dificuldade.

Se calhar Pedro Madeira Rodrigues estava a olhar-se ao espelho e a ver-me a mim como ele seria capaz de fazerDurante a campanha o candidato Pedro Madeira Rodrigues chegou a acusá-lo de imparcialidade. Sentiu a sua posição afetada?

Sentiria se tivesse problemas de consciência ou de honra. Se calhar estava-se a olhar ao espelho e a ver-me a mim como ele seria capaz de fazer. Mas eu e a minha equipa estivemos sempre equidistantes, rigorosos, e eles [listas candidatas] sabiam de tudo, de todo o processo eleitoral. Tudo era escalpelizado e ninguém me está a ver a induzir os funcionários em aldrabices. A minha vida fala por mim. Isso foi uma falsa questão. Claro que até me senti importante, que era um alvo a abater. Talvez Madeira Rodrigues já pensasse que não ia ganhar em confronto com Bruno de Carvalho mas ia tentar ter a mesa [da Assembleia-geral]. Mas também se enganaram porque os sportinguistas não foram em promessas fáceis e preferiram o seguro ao duvidoso.

Acabou agora um primeiro ciclo de quatro anos. É um Sporting diferente, este?

Acredito que seja diferente. Em quatro anos fizeram-se muitas coisas bem e felizmente tantas foram que levaram os sócios a votar de uma forma esmagadora em Bruno de Carvalho. E, pelo que conheço de Bruno de Carvalho, acho que fizeram muito bem, que foi a melhor opção que podiam fazer e não vejo no horizonte sportinguista quem pudesse fazer melhor.

Mas também houve objetivos que não foram alcançados.

Tivemos o azar de não ter ganho o campeonato do ano passado. As coisas seriam diferentes. Mas repare-se que o Sporting não ganha o campeonato e os sócios vieram e bateram recordes. Imagine-se se estivéssemos noutras condições, Bruno de Carvalho tinha 100%. Não teria sequer rival nem ninguém iria candidatar-se. Mas ainda bem que vieram, que se tiraram as dúvidas. De resto, claro que também se aprende com os erros, que ninguém é perfeito. Temos um exemplo de competência demonstrado. Estou convencido de que, corrigindo as pequenas falhas, neste segundo mandato as coisas serão melhores.

Estou absolutamente convencido de que só nos falta aquele cliquezito na equipa principal de futebolEstão altas, as expectativas, para os próximos quatro anos?

As expectativas estão muito altas e estou convencido de que não serão goradas, que se a equipa, e toda a estrutura, estiver coesa como esteve no mandato anterior - e acho que está mais forte, mais consolidada -, será mais fácil ultrapassar as dificuldades e os resultados com certeza vão aparecer. O Sporting não é só futebol, é o clube mais eclético, tem 50 modalidades, estamos a ganhar na maior parte dessas modalidades e estou absolutamente convencido de que só nos falta aquele cliquezito na equipa principal de futebol.

Ao contrário do que alguns possam pensar, Bruno de Carvalho é um homem bomNuma entrevista em 2016 descreveu Bruno de Carvalho como um "jovem irreverente e polémico mas de convicções sérias e com honestidade naquilo que faz". Mantém esta posição?

Reafirmo. O Bruno de Carvalho é exatamente isso mas acrescentava uma coisa: ao contrário do que alguns possam pensar é um homem bom. O Sporting não é só a parte do desporto, é a cultura que se desenvolve. Veja-se a Fundação, veja-se os atletas com necessidades especiais. O Sporting tem uma dimensão extraordinária. Vejo o carinho e a humildade e amor que Bruno Carvalho dedica a estes atletas, como os trata como parte da sua vida. Isto é de um homem de sentimentos, de convicções e de grande amor pelas pessoas.

É uma questão que se tem de imagem, de Bruno Carvalho ser confrontacional, ou há aqui também uma postura estratégica?

Bruno de Carvalho é um estratega e não dá ponto sem nó. Às vezes ele próprio chama para si situações complicadas, de as pessoas o entenderem mal ou acharem que é belicoso por ser belicoso. Muitas vezes ele prefere ficar com o odioso, entre aspas, da questão, do que deixar outros do clube serem atacados. Ele dá o peito às balas para proteger a instituição.

Foi a Eduardo Barroso que sucedeu no Sporting, um sportinguista bem conhecido da massa adepta. Que balanço faz do seu próprio trabalho nestes quatro anos?

Isso obriga-me a uma resposta que não seria fácil, se me pusesse aqui a falar de mim. Era o pior que podia fazer. Deixo os sócios falarem por mim e, ao fim destes quatro anos, e os sócios podiam ter feito outras opções - e acho que a dada altura eu fui quase tão atacado quanto Bruno de Carvalho - se os sócios não me vissem a mim como um homem com valores para ser seu representante, não tinham votado em mim. Com certeza que não foi pelos meus lindos olhos. Se os sócios entenderam que me deviam também reeleger, eles saberão por que o fizeram. De resto, o que disse sempre e continuo a dizer, é que quero dar o melhor que posso e sei pelo Sporting e que os sócios encontrem na mesa da Assembleia-Geral acolhimento às suas ideias. Os sócios é que são a alma mater do Sporting e o meu orgulho é que tenham confiança em mim.

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