Foi presidente da Câmara Municipal do Porto entre 1999 e 2002, pelo Partido Socialista. Antes, enquanto assessor, liderou a estratégia técnica e política de transportes para a cidade e colaborou na conceção da rede do Metro do Porto. Voltou a candidatar-se em 2013, mas perdeu para Rui Moreira. Agora, Nuno Cardoso candidata-se como independente pelo movimento 'Porto Primeiro'.
Numa sondagem efetuada pela Multidados no final de julho, surge mesmo como um dos nomes mais mencionados pelos portuenses quando questionados sobre quem consideram ser o melhor candidato à câmara, a par de Pedro Duarde e Manuel Pizarro.
Do serviço de transporte escolar aos autocarros a cada 5 minutos, Nuno Cardoso apresenta várias soluções para os problemas de mobilidade na cidade. Para resolver o drama da habitação, pretende criar uma "cooperativa de interesse público". Tentámos perceber o que é que Nuno Cardoso propõe, passados mais de 20 anos, para voltar a revolucionar a cidade do Porto.
Ao fim de 24 anos sinto que a cidade perdeu gás, perdeu velocidade. Acho que deveríamos estar num outro patamar
Já foi assessor, vice-presidente e até mesmo presidente da Câmara do Porto. Foi, inclusive, um dos grandes impulsionadores, digamos assim, do projeto do Metro do Porto. O que é que o leva a concorrer de novo à Câmara?
Leva-me a concorrer e o facto de eu ter participado em tudo isso que disse. A minha marca na cidade é significativa. Também estive na solução do problema da água da região. Fui o primeiro presidente das Águas do Douro e Paiva, que estabeleceu toda a nova rede de abastecimento de água aos municípios, desde Felgueiras até Ovar (passando naturalmente pelo Porto). Portanto, a minha pegada é muito grande e a minha capacidade de execução de projetos utópicos também é muito grande.
Efetivamente, liderei em termos técnicos e estratégicos a implementação do projeto do Metro do Porto, antes de haver empresa, quando era apenas uma ideia utópica que quase ninguém na cidade do Porto acreditava. Estamos a falar de 1990 e toda uma estratégia desenvolvida por mim passou por começar a fazer um primeiro projeto e fazer uma grande exposição pública que obrigou, em agosto de 1993, o governo de Cavaco de Silva a criar a empresa Metro do Porto.
Tenho, de facto, uma pegada enorme na cidade. Eu só estive quatro anos na política. Depois, em 2001, fui dedicar-me à minha família e voltei à vida privada, de engenharia e de assessorias.
E, portanto, ao fim de 24 anos sinto que a cidade perdeu gás, perdeu velocidade. Acho que deveríamos estar num outro patamar de desenvolvimento. Há imensos problemas de habitação, de mobilidade e de falta de economia. Nós não conseguimos empregar os muitíssimos licenciados que todos os anos acabam os estudos na Universidade do Porto. Esse é o meu desígnio: quero que o Porto volte a ter uma economia pujante, que consiga atrair e fixar os nossos jovens e, ao mesmo tempo, resolver naturalmente o problema da habitação e o problema da mobilidade da cidade.
Começou por apresentar-se como um candidato por um movimento independente, mas, entretanto, o Nós, cidadãos! e o Partido Popular Monárquico formalizaram uma coligação para concorrer às autárquicas do Porto com a denominação 'Porto Primeiro - Nuno Cardoso'. Perde, assim, o estatuto de independente?
Não, isso é apenas um sofismo. Isto é porque o jogo está viciado, o jogo está viciado pelos partidos. É super difícil e quase aleatório conseguirmos fazer uma candidatura como lista de cidadãos eleitores, que é assim que se chama na lei: lista de cidadãos eleitores. E, quando nos apercebemos de todas as dificuldades, fomos criando um segundo caminho, que era, no fundo, o apoio de partidos que gostam da democracia e que gostam que o jogo democrático seja um jogo equilibrado e justo e, portanto, fornecem-nos apenas o suporte da candidatura, não influenciando em nada - nem sequer nomearam qualquer elemento nas nossas listas. Nós somos os mesmos e sempre cidadãos, mulheres e homens livres e independentes.
Ou seja, mantém exatamente a mesma lista que tinha quando apresentou a candidatura?
Sim, o projeto é absolutamente o mesmo. O facto de dois partidos nos darem esse suporte é apenas um suporte logístico, porque efetivamente não interferiram no programa eleitoral, nem tão pouco com proposta de candidatos. Somos absolutamente os mesmos. Só que, para jogarmos o jogo que os partidos jogam, que é um jogo muito mais fácil e mais económico... Porque, repare, a lista de cidadãos eleitores paga IVA. Tudo o que for consumido e gasto paga IVA. Os partidos não pagam, nem as coligações. Só aí estamos a falar de 23% de custos a mais, que é absolutamente injusto. Além de que é tudo muito aleatório. Veja, por exemplo, há um candidato no Porto que diz que tem as 4 mil assinaturas, tal como nós temos - só que depois optamos pela segunda via. O outro candidato acaba por estar na pendência de ficar fora. Está neste momento com o recurso contra o Tribunal Constitucional, a ver se é incluído ainda no pleito eleitoral. E, portanto, era essa dúvida que devia subsistir se nós fôssemos por aí.
Nós, como estamos com muita vontade de servir esta cidade, não desejamos correr o risco de poder ficar fora, depois do tanto de dedicação e do tanto de trabalho que temos tido.
Vamos lançar um grande programa para garantir que uma parte significativa das 20 mil casas devolutas entrem no mercado de arrendamento a preços acessíveis
Na apresentação da sua candidatura, apontou como prioridade as áreas da habitação, do emprego, da segurança, da mobilidade e do envelhecimento da população. O que é que propõe nestas áreas, em particular a questão da habitação e da mobilidade, que são das que mais preocupam os portugueses?
Na habitação queremos ser mesmo muito revolucionários. Nós, para já, vamos lançar um grande programa para garantir que uma parte significativa das 20 mil casas devolutas entrem no mercado de arrendamento a preços acessíveis. Iremos fazer uma 'task force' municipal para contactar os proprietários dessas casas e fazermos com que haja um contrato entre a Câmara e os proprietários, por forma a conseguirmos rapidamente pôr [no mercado] muita casa que está construída, mas que precisa de obra. Portanto, esse é o primeiro objetivo. Ninguém entende que há 20 mil casas devolutas e, portanto, há que estabelecer contratos e sensibilizar os proprietários para as porem no mercado.
Depois, vamos fazer o maior programa de relançamento das cooperativas de habitação. Se o problema da habitação é grave - e é muito grave - nós só conseguimos resolvê-lo se mobilizarmos toda a sociedade nesse problema, na resolução desse problema. E, portanto, não pode ser a Câmara, com a sua capacidade, que é sempre limitada, a resolvê-lo. A Câmara poderá fazer mil ou duas mil casas em quatro anos, não faz mais do que isso. Agora, a Câmara poderá apoiar muitas cooperativas, e é isso que vamos fazer. Vamos fazer uma cooperativa de interesse público, e essa cooperativa de interesse público vai funcionar como uma grande incubadora de cooperativas. Vai dar formação aos grupos de cidadãos que se querem constituir em cooperativa, dá formação para eles se constituírem na cooperativa, e depois todo o apoio técnico, quer de engenharias, quer da área financeira, por forma a que o projeto vá por diante. A Câmara irá também dar terrenos e imóveis para os projetos se concretizarem. E, por último, poderá ser o avalista dos empréstimos, de forma a que o empréstimo que a cooperativa obtenha venha com os juros mais baixos possível, porque tem a Câmara como avalista.
Vamos apoiar todas as cooperativas e, desde já, lanço o repto aos cidadãos do Porto para que se organizem, porque nós, a Câmara, com base na cooperativa de interesse público, poderá apoiar 10, 100, 200, as que vierem a acontecer, serão todas igualmente apoiadas, de forma muito transparente e muito empenhada, pela Câmara do Porto e pela cooperativa de interesse público.
O Metro implantou-se na cidade e os STCP não alteraram a sua rede, continuam a ser concorrentes. Isso é um absurdo
Tem feito críticas ao processo de implementação do MetroBus na cidade do Porto. O que é que teria feito diferente?
É uma questão física. Nós não podemos, numa avenida que não tem dimensão, querer fazer uma coisa que depois não cabe. O problema do MetroBus na Avenida da Boavista é que, efetivamente, a avenida não tem a largura suficiente que permita ficar com aquele canal exclusivo para o transporte público, sendo que todos os outros autocarros vão continuar a andar nas outras duas vias de circulação. O absurdo é esse, é que ninguém percebe que vai continuar a haver mais autocarros na Avenida da Boavista fora do corredor do que há dentro do corredor. Por causa da opção de terem feito o corredor com as estações centrais, o que obriga a que os autocarros tenham portas do lado esquerdo - apesar de a maior parte dos veículos só ter portas do lado direito. É um absurdo, mas o grande problema está no facto de não haver largura suficiente. Em toda a cidade do Porto nós não temos largura suficiente para ter dois canais dedicados ao transporte público.
Por isso é que nós enterramos o Metro na cidade do Porto. Na altura, em 1996-97, quando discutíamos isso com a Câmara de Gaia, por exemplo, o Nuno Portas defendia que o Metro podia ser todo à superfície. E eu defendia que o Metro, na zona central, tinha de ser enterrado, sob pena de estarmos a fazer um projeto que depois era um equívoco porque não ia resolver o problema da mobilidade das pessoas. Gastava-se o dinheiro e depois o Metro não funcionaria.
Acabámos por seguir a minha opção no Porto: o Metro foi sempre enterrado no Porto e em Gaia é à superfície. E veja que, naturalmente, fica muito bem, as pessoas gostam de andar no Metro à superfície, só que depois a cidade não funciona, causa muitos outros problemas. Aqui no Porto, como lhe estava a dizer, nós temos de continuar a estender a rede do Metro, mas terá sempre, obrigatoriamente, de ser enterrado. Não há outra forma, não temos corredores, não temos avenidas com largura suficiente para elevar à superfície.
Na primeira fase, nós optámos por canais ferroviários, que já existiam, nomeadamente a Linha da Póvoa. Utilizámos esses canais e fizemos o que eram linhas novas, tudo enterrado, mas as linhas de Metro para a zona ocidental da cidade, quer seja através da zona do Campo Alegre, quer seja pela zona da Avenida Boavista, terão de ser enterradas. E nós vamos continuar a pugnar por ter mais rede de Metro na cidade.
Agora, em termos de propostas, no curto prazo, queremos fazer uma coisa que nunca foi feita, que foi compatibilizar a rede dos STCP com a rede do Metro. O Metro implantou-se na cidade e os STCP não alteraram a sua rede, ou seja, continuam a ser concorrentes. Isso é um absurdo. Nós queremos fazer uma rede de alta capacidade de mobilidade com as linhas, uma boa rede de cobertura da cidade - e quando falo da cidade, é da cidade-região. Não podemos só pensar na mobilidade do Porto. Tudo tem de ser pensado em termos do grande Porto.
Temos de chegar a uma paragem e, de 5 em 5 minutos, estar a passar um autocarro
A ideia aqui, então, seria fazer uma articulação melhor entre a rede do STCP com a rede do Metro do Porto.
Exatamente. Nas zonas e nos canais onde não há metro, nós temos de pôr a rede STCP a funcionar com uma intensidade do tipo do metro. O que é absolutamente determinante para que as pessoas mudem de modo de transporte tem a ver com o serviço, a qualidade do serviço. E a qualidade do serviço mede-se muito com a disponibilidade do transporte. A frequência é decisiva.
Portanto, nós temos de chegar a uma paragem e, de 5 em 5 minutos, nessas linhas principais, tem de estar a passar um autocarro. De outra forma, ninguém muda do automóvel para o autocarro. A disponibilidade de veículos de transporte público é fundamental.
E é por isso que o metro é muito atrativo, porque nós, em qualquer linha de metro, em qualquer cidade do mundo, sabemos que a frequência do metro é sempre cinco minutos ou menos de frequência. Ou seja, nós entramos numa estação e sabemos que de imediato estamos a apanhar o veículo para o nosso destino. Temos de reproduzir isso no Porto com base no metro e complementarmente nas carreiras, nas linhas dos STCP. Isso é decisivo.
Também queremos fazer uma coisa que é óbvia hoje. Em tempo de aulas, a cidade piora tremendamente em termos de mobilidade, porque cada escola é um ponto de conflito tremendo com a entrada e a saída dos alunos. Nós vamos estabelecer um serviço de transporte escolar municipal de forma a terminar com esse caos que é o transporte para as escolas. Com isso, temos múltiplos benefícios, como podem imaginar, que é, desde logo, um benefício para os pais e para os avós que vivem no stress de levar as crianças à escola e aos horários da escola e das atividades extraescolares, etc. Isso nós vamos suprir com o transporte escolar, dando uma muito maior qualidade de vida às famílias. Por outro lado, até uma das coisas mais interessantes e importantes é que damos autonomia à criança. E a criança cresce quando, em vez de vir com os papás ou com os avós para a escola, vem de forma autónoma no seu autocarro escolar com os seus amigos.
Queremos, por outro lado, promover, de facto, uma cultura de transporte público para o futuro. Nós temos transporte escolar nos municípios mais pequenos do país e, nomeadamente, nos do Interior, mas na cidade não existe, o que é um absurdo, não é? E nós temos que suprir isso. É que toda a gente sabe que, quando entramos de férias, a cidade funciona. Portanto, a cidade funciona pessimamente durante o período de aulas por causa dos conflitos provocados pelas escolas. Assim, a introdução do transporte escolar é uma revolução na cidade em termos da mobilidade, da qualidade de vida das famílias e da autonomia dos miúdos.
Ainda nesta área da mobilidade, uma das bandeiras que tem defendido é a requalificação da Via de Cintura Interna (VCI) devido, precisamente, aos problemas de congestionamento de trânsito. Qual é o projeto para esta área da cidade?
Em termos de mobilidade rodoviária, temos um tremendo problema que é a Via de Cintura Interna. A estratégia e a função que a VCI desempenha na cidade fui eu que estabeleci. Quando cheguei à Câmara como assessor do Presidente da Câmara para a mobilidade, nós só tínhamos a Ponte da Arrábida, o Nó do Campo Alegre e, depois, a autoestrada passava pela Avenida Boavista - e não contactava, não havia nós de ligação - e terminava numa rotunda com a entrada para a cidade do Porto e com saída para Matosinhos através da Via Rápida de Matosinhos. Era só isso que existia. Havia o projeto de construção da Via de Cintura Interna por parte do Estado, mas era uma autoestrada que se ia fazer só de ligações regionais, sem ligações à cidade.
Consegui subverter tudo isso e fiz com que a VCI fosse, de facto, um grande articulador urbano, promovendo todas as ligações possíveis, todos os nós possíveis no seu trajeto com a cidade. O primeiro foi logo aquelas ligações na Avenida da Boavista que fui eu que desenhei e que implementámos e, depois, à medida que a VCI ia sendo construída, nós sempre exigimos o máximo de ligações à cidade. Complementarmente com isso, fizemos túneis, também todos desenhados por mim - em termos de estratégia; de projeto, claro que não. E, portanto, são sempre túneis de saída de cidade: os túneis do Campo Alegre, os túneis de Faria de Guimarães, os túneis de Ceuta, o túnel, depois, na zona de Fernão de Magalhães - são tudo túneis que permitem transpor o tráfego de forma rápida entre o centro e a VCI. Foi essa a estratégia que implementámos. O que acontece é que, nessa altura, o tráfego era muito menor e estava por fazer, portanto, a circular externa do Porto, que deveria ter como função desviar o tráfego de atravessamento da cidade do Porto. Por exemplo, uma viagem que nasce em Braga e que vai para Lisboa, não faz qualquer sentido passar pela VCI. Por isso é que se desenhou a chamada CREP, a Circular Regional Exterior do Porto, para desviar o tráfego. Acontece que essa CREP não está a funcionar porque, por um lado, foi mal desenhada pelo Estado - os técnicos do Grande Porto defendiam uma circular mais apertada, tanto é que a travessia do Douro fosse na zona da Foz do Sousa, muito mais próxima do centro do Porto - e aquilo que foi decidido em Lisboa levaram-nos a ponte para cima de Crestuma. Portanto, é uma circular muito alargada, o percurso é enorme. E, por outro lado, meteram portagens. Conclusão: ninguém desvia pela CREP numa viagem para Braga-Lisboa, porque vai pagar portagens e andar mais quilómetros, é absolutamente irracional. Portanto, toda a gente atravessa através da VCI.
O povo já está demasiado sobrecarregado com portagens e com impostos
Pode ser uma solução implementar portagens também na VCI?
Não, isso de maneira nenhuma. Sou absolutamente contra. O povo já está demasiado sobrecarregado com portagens e com impostos. Nós somos completamente contra portagens na VCI, isso é mesmo um absurdo. O que nós queremos é lutar pela despenalização das portagens na CREP e no IP4. De Matosinhos até Valongo, não haver portagens, de forma que a articulação dos fluxos a norte se dê, mas não na VCI. A VCI é mesmo um cinturão da cidade do Porto, apenas.
Agora, em relação à Circunvalação, é um absurdo porque ao fim de 24 anos, que foi o tempo desde que eu deixei os destinos da cidade, não se pregou um prego na Circunvalação. Por acaso, tenho de fazer um parênteses: conseguiram fazer um passeio ao pé do hospital da CUF, hospital esse esteve 20 anos a funcionar e as pessoas entravam e saíam sem passeio. Portanto, para uma via rural, onde havia uma berma com águas a céu aberto, uma valeta de águas fluviais, nem passeio tinha. Fizeram há dois ou três meses um passeio nessa zona.
Portanto, aquilo que deve ser a grande avenida de ligação entre as cidades, continua a não ser. As cidades abdicaram de intervir porque, como aquilo é do Estado, não intervêm. Mas nós vamos querer intervir. Os cidadãos são munícipes do Porto, da Maia, de Gondomar e de Matosinhos. E, portanto, o facto de aquela via não ser responsabilidade dos municípios, isso não justifica porque quem vive e quem utiliza são os nossos munícipes. Nós queremos dar qualidade àquele espaço, queremos pôr aí também um elétrico à superfície no canal central e, portanto, transformar aquilo num grande 'boulevard', numa grande avenida de interligação dos municípios.
Um dos projetos que mais polémica tem gerado nos últimos tempos no Porto é o projeto urbanístico da Avenida Nun' Álvares, por causa da altura das construções. Qual é a posição de Nuno Cardoso quanto a este projeto e a ideia de transformar a escala urbana da cidade de uma forma tão drástica?
Quando saí da câmara, tinha um projeto e um plano. Só não avançou a avenida porque os proprietários não cederam os terrenos. Eu cheguei a falar com duas famílias, que eram as famílias que tinham mais propriedades no canal, mas eles não cederam e, naturalmente, a câmara não podia avançar com a obra, porque todo o processo iria demorar muito tempo e tinha muito custo e eu também já estava a terminar o meu mandato. Mas o nosso plano era exatamente manter o perfil de ocupação que existe na zona, que é o perfil das vivendas da Marechal Gomes da Costa. Era isso que estava previsto. Depois de mim, o plano foi alterado pelo dr. Rui Rio, já com prédios de rés-de-chão e três e rés-de-chão e quatro. E, por último, agora somos confrontados com este plano. O que é que lhe posso dizer sobre isso? Acho, naturalmente, que é uma rutura de escala que não se consegue justificar. Os prédios maiores que existem são, na Quinta da Ervilha, prédios com rés-de-chão e oito, portanto, 9 pisos. Penso que tudo o que seja muito mais do que isso, não é compatível.
A mim preocupa-me também o facto de se terem dividido em três zonas a implementação do projeto. Isto pode levar a que, no fundo, aquilo que é a mais-valia, em termos da cidade, que é criar uma avenida toda e ela ao mesmo tempo. E eu via sempre essa avenida como uma avenida que vai reestruturar a mobilidade da Foz. Para mim, essa avenida servia para desviar o tráfego que hoje passa na Avenida do Brasil e de de Montevideu. Eu quero fazer com que a avenida, a frente marítima, seja, de facto, uma zona muito pacata, uma zona de praia, e, portanto, quero tirar o máximo de trânsito possível da marginal.
É fundamental que a Avenida Nun' Álvares possa ter capacidade para tratar esses fluxos. Na marginal, eu quero meter o elétrico, que ficou por fazer. Repara, o elétrico ficou no Passeio Alegre. Os carris que existem nunca foram usados. Eu ainda tive a oportunidade de por carris no Castelo de Queijo e na frente do Parque da Cidade, no viaduto. O Viaduto do Parque da Cidade tinha carril para os elétricos e a rotunda da anémona também. Depois veio o Rui Rio e tirou o carril do viaduto por causa das corridas de automóveis. E passaram-se 24 anos e deixaram o elétricozinho ali parado no Passeio Alegre e nunca completaram esse projeto. E, por outro lado, andam sempre com os veículos que são históricos, de museu. É evidente que o meu projeto pressupunha comprarmos veículos novos.Aquilo não é um brinquedo de museu. Aquilo é um meio de transporte, tem que ter veículos novos, veículos modernos.
Era preciso ter veículos novos também, porque o objetivo era fazer com que as pessoas pudessem andar neste circuito com grande facilidade. Para mim, qualquer pessoa que estava na Baixa, na zona de Santa Catarina, e quisesse ir para Cedofeita, apanhava tranquilamente o elétrico e ia para outra zona da Baixa, mas tudo isto ficou assim um bocadinho à desgarrada, não é? As pessoas não deram continuidade aos projetos.
Mas, isto para dizer que, na Circunvalação, faz sentido termos elétricos, mas elétricos novos, com certeza, não é o elétrico histórico que depois dá os problemas que tivemos aí, infelizmente, em Lisboa. Quando exploramos veículos com mais de 100 anos, temos de ter muito cuidado. Não podemos fazer uma exploração cá intensiva, como se estava a fazer.
Nós estamos cansados dos políticos que temos, que nunca são responsáveis por nada
Uma sondagem do ICS/ISCTE para o Expresso e para a SIC, em julho, coloca Manuel Pizarro na frente na corrida à Câmara do Porto. Como vê estes resultados?
Isso é uma grande mentira, essa sondagem. Se for ver, validaram 30% dos inquéritos. Eu nunca vi sondagens com 30% de inquéritos validados. A minha sondagem é completamente diferente. Nós temos sondagens em que estamos à frente do Pizarro. De facto, quem está à frente é o Pedro Duarte, mas eu estou à frente do Pizarro. Isso dói muito ao poder instituído. Está na entidade reguladora, foi complicado a entidade reguladora aceitar publicá-la porque exigiu à equipa técnica mais e mais coisas. A manipulação chega a este ponto.
Isto para dizer que, de facto, a receção popular é muito, muito, muito boa. Nós somos um grupo de pessoas, efetivamente, independente e livre. E já há muito pouca liberdade neste país. Porque, naturalmente, as pessoas dependem do seu emprego, têm a sua família para cuidar. E nós estamos subjugados por partidos e por pessoas, líderes de partidos, que brincam com as pessoas e com as fragilidades das pessoas. E, portanto, é muito difícil, porque, para termos liberdade, temos de ter uma certa autonomia económica. Não há outra forma. Quando não temos essa autonomia económica, estamos muito coarctados em termos de liberdade.
O que quero deixar claro é que nós vimos para servir. Nessa liberdade, nós só respondemos mesmo ao portuense e ao Porto. E, como vimos para servir, já ganhámos. Nós estamos muito tranquilos, o povo irá decidir e decidirá bem. Se nos der a honra de nos mandatar para os representarmos... que é outra palavra de que já ninguém fala. Os eleitos são representantes do povo. Não são donos de coisa nenhuma. O representante do povo está obrigado a servir. Acima de tudo tem de servir e prestar contas. E nós estamos cansados dos políticos que temos, que nunca são responsáveis por nada. Se reparar, nós tivemos o Costa a governar oito anos o país, foi sempre dizendo que os problemas vinham de trás. Agora temos o Montenegro que também já está na mesma linha: os problemas vêm de trás. Quer dizer, eles são eleitos, sempre vão prometendo ao povo que vão resolver os problemas, mas depois chegam lá e dizem que não conseguem porque os problemas vêm de trás. É isto que nós temos e é por isso que, de facto, o povo está cansado disto. O povo está cansado disto e depois mete-se em qualquer projeto alternativo que lhe apareça à frente e que não são os melhores. Mas, pronto, nós vimos para servir o Porto e os portuenses. E isto está tudo em aberto. Há muitas propostas, felizmente, acho que o Porto merece tantos candidatos. Até lá, este mês vai ser importante, nós estamos no terreno e vamos fazer o melhor possível e vamos até ao fim.
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