Luís Filipe Vieira acredita que o futuro do Benfica está em risco, e, por essa razão, avançou com uma candidatura para voltar à presidência do clube que tão bem conhece.
Em entrevista exclusiva ao Desporto ao Minuto, o antigo líder máximo das águias deixa críticas a Rui Costa e garante contar com José Mourinho, caso seja eleito pelos sócios encarnados, no próximo dia 25 de outubro.
Luís Filipe Vieira promete, ainda, apresentar um "modelo baseado em transparência completa para com os sócios", e destaca a necessidade de se olhar para o Seixal com outros olhos.
Qual a razão para ter apresentado esta candidatura à presidência do Benfica, depois de ter dito que não voltaria ao clube?
Infelizmente, verifiquei que o futuro do clube está ameaçado. Os alarmes dispararam e é preciso voltar, não em nome do passado e de tudo o que fiz, mas em nome do futuro. Para continuarmos a ter futuro. Os últimos anos mostraram que não existe visão estratégica nem capacidade de execução. Vejo um Benfica a perder influência nos centros de decisão. Repare-se: em 2021 o clube tinha estabilidade financeira e um património consolidado. Hoje, temos mais dívidas, infraestruturas degradadas e muitas desilusões recentes a nível desportivo. Sou candidato para, entre outras coisas, evitar que todos estes problemas se transformem numa nova crise tão grave como a de finais dos anos 90, para inverter este fracasso desportivo, para recuperar, mais uma vez, o clube do ponto de vista financeiro, e para dar aos benfiquistas do presente e do futuro um clube que nos orgulhe.
No que a sua candidatura difere das restantes, nomeadamente da de Rui Costa?
A minha candidatura distingue-se em três pontos fundamentais: experiência, visão e método. Primeiro, já demonstrei ao longo de quase duas décadas que tenho capacidade de erguer o Benfica. Construímos o estádio, o Caixa Futebol Campus, o museu, liderámos na negociação dos direitos televisivos e voltaremos a fazê-lo. Fomos o primeiro clube português a ter um canal de televisão, reforçámos o património e devolvemos títulos e credibilidade. Irei apresentar um programa estruturado, com objetivos claros e bem definidos para os próximos quatro anos. Para além disso, tenho pensado um modelo baseado em transparência completa para com os sócios.
Qual seria a primeira medida que implementaria no Benfica caso volte a ser presidente?
Sem dúvida que temos de olhar para as contas e definir um plano de curto e médio prazo que nos permita garantir a sustentabilidade financeira, sem hipotecar a componente desportiva. Creio que essa deve ser a prioridade. Depois, voltar a olhar para o Seixal de forma séria, sob pena de hipotecarmos o futuro do clube.
Nesse sentido, qual o plano para a estrutura do Benfica?
Quero organizar o Benfica como uma verdadeira empresa de topo, como já foi, com uma equipa de gestão profissional, onde cada pessoa sabe bem o que tem de fazer. Vamos ter regras claras, auditorias independentes e usar dados e tecnologia para decidir melhor. Tudo com transparência e foco em resultados, para acabar com a ideia de que o clube depende só da vontade de uma pessoa.
E que modelo desportivo tem pensado implementar caso seja eleito?
Já fomos pioneiros nessa área e temos de voltar a liderar. Temos de acompanhar a evolução tecnológica, de usar mais ciência e mais dados. O Seixal tem de estar ligado à equipa principal, com jovens a subir todos os anos. Vamos ter um centro de inovação, 'scouting' digital em todo o mundo. Temos de fazer rapidamente com que o Benfica seja de novo respeitado em Portugal e no estrangeiro.
Que balanço faz destes quatro anos de presidência de Rui Costa?
Necessariamente, um balanço negativo, demasiado negativo, de outra forma, não seria candidato. O Benfica perdeu capacidade diretiva, perdeu rumo, dividiu os sócios. Os resultados desportivos não correspondem ao investimento feito e houve ausência de liderança forte nos momentos decisivos. Hipotecou-se o futuro por uma mão cheia de nada. O Benfica de hoje vive sem rigor, sem rumo e, o pior de tudo, sem líder.
Existem seis candidatos nestas eleições. Isto é um bom ou mau sinal para o futuro do Benfica?
É sinal de vitalidade democrática. O Benfica é um clube enorme, é normal que, havendo um sentimento geral de que as coisas precisam de mudar, que apareçam pessoas com esse objetivo. Acima de tudo, quem for eleito terá de ter o apoio dos sócios e honrar essa aposta.
Acredita que a existência de debates é algo benéfico para os sócios?
Nesta fase da campanha, com tantos candidatos, não seria saudável. Perderíamos o foco do que é essencial e não seriam discutidas ideias concretas para o futuro do clube. Numa segunda volta, poderá fazer sentido, num modelo que sirva para apresentar projetos e não para ataques pessoais.
Recentemente fez críticas a Pedro Proença. Que relação deve ter o presidente do Benfica com o presidente da FPF?
O presidente do Benfica deve ter com o presidente da FPF uma relação institucional, respeitosa, mas firme. Não admitirei subserviência. Sempre que os interesses do Benfica forem postos em causa, o presidente tem de intervir e defender o clube. A relação deve ser de diálogo e cooperação, mas nunca de submissão. Quero um Benfica respeitado nas instâncias, com voz ativa no futebol português e europeu. O apoio cego com que o Benfica ajudou a eleger Pedro Proença foi um erro que já estamos a pagar. É preciso um líder que se dê ao respeito, e esse líder não é Rui Costa.
Leia AQUI a segunda parte da entrevista a Luís Filipe Vieira.
Nas próximas semanas o Desporto ao Minuto vai publicar as entrevistas com os candidatos à presidência do Benfica, ficando sujeito à disponibilidade dos mesmos. Recorde aqui as entrevistas a João Diogo Manteigas, Cristóvão Carvalho e Martim Mayer.
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