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"Costa e Marcelo parecem o 'Roque e a Amiga'. Veremos daqui a uns tempos"

Sabido que defende mais políticas de Direita do que de Esquerda, Moura Guedes não tem problemas em admitir que Costa “tem um jeitão para a política”, mas não dá nota positiva ao Governo. Sobre a sua relação com Marcelo, tem algumas coisas a dizer.

"Costa e Marcelo parecem o 'Roque e a Amiga'. Veremos daqui a uns tempos"
Notícias ao Minuto

15/02/17 por Inês Esparteiro Araújo e Andrea Pinto

Política Moura Guedes

Se por um lado António Costa “tem um jeitão para a política”, Passos Coelho não tem sabido liderar a oposição. Quem o diz é Manuela Moura Guedes, antiga deputada que ainda não esqueceu o “animal político” de Paulo Portas, com quem diz estar “desiludida”. Já Marcelo Rebelo de Sousa, diz, mais parece um "Messias". 

Que avaliação faz do trabalho deste Governo?

O António Costa tem um ‘jeitão’ para a política. Um tipo que consegue aquilo que ele conseguiu, é de se lhe tirar o chapéu. Enquanto na campanha e como candidato foi péssimo, agora… Não sei se é pelo apoio do Marcelo, visto que os dois parecem o ‘Roque e a Amiga’. Está a ter muito bom desempenho com o povo, da maneira como responde. Já politicamente, as coisas que faz… Vamos ver daqui a uns tempos.

Nós estamos com os juros muito altos, o país não tem dinheiro, o dinheiro não é elástico, estamos com uma dívida como não tivemos até aqui, somos o segundo país com a dívida mais alta. Pior só a Grécia e esta está com um crescimento económico melhor do que o nosso. Os portugueses pagam cerca de 50 milhões de euros por dia.

Passos ficou agarrado à ideia de 'Eu é que devia estar aí'. Há que abrir os olhos das pessoas porque aquilo que foi a mudança de austeridade, não o éContentamos-nos com umas coisinhas e vivemos felizes porque também a imprensa não é tão crítica com a este Governo como era com o outro. A imprensa tem este complexo de Esquerda que faz com que as coisas sejam desta maneira. De qualquer forma, quanto à oposição também não se pode dizer que Passos Coelho tenha sido um às no volante até aqui.

Significa isso que Passos Coelho não terá hipóteses nas próximas eleições?

Não sei, não faço ideia. Ele não soube encaixar na oposição.

O que é que lhe falta?

Falta saber gerir o lugar de oposição. Ficou agarrado à ideia 'Eu é que devia estar aí' e não fala muito para as pessoas. Há que abrir os olhos das pessoas porque aquilo que foi a mudança de austeridade, não o é. Por exemplo, as pensões, dão de um lado e tiram do outro. Mas ninguém fala disso. A ideia que se tem é de que a austeridade acabou. Acabou como? As pessoas estão a viver melhor? E o país, está melhor? Com os juros desta forma? Com uma dívida que está muito maior?

Em relação, por exemplo, ao aumento do salário mínimo, é mais justo que ele seja aumentado. Temos um salário mínimo miserável. Pessoas a viver com aquele dinheiro é uma coisa miserável. Passos Coelho dizer que foi uma medida populista é um disparate total. Populista pôr as pessoas a ganhar 567 euros por mês, para viver? Para serem retribuídos por um trabalho de um mês? É não saber o que está a dizer. É por isso que eu acho que há coisas que não entendo na oposição.

Acha que faz falta alguém como o Paulo Portas na oposição?

Eu já não penso no Paulo Portas. A partir do momento em que abandona a política e vai trabalhar para o ramo empresarial, não há-de voltar a fazer política. A mim desiludiu-me um bocado, confesso. Eu abandonei o Parlamento e renunciei ao meu cargo de deputada por causa dele.

Esperava mais?

Esperava. Podia sair, mas não desta forma. Consigo perceber que as pessoas queiram fazer dinheiro, mas isto foi demasiado. 

Mas acha que alguém como ele que seria capaz de fazer frente a António Costa?

Não sei, provavelmente. Ele sempre foi um animal político. Mas eu não gosto de falar de ‘ses’.

Avançou-se recentemente com a notícia de que Passos Coelho teria feito um convite a José Eduardo Moniz, seu marido, para ser candidato à Câmara Municipal de Lisboa. Confirma esse convite?

Não vou falar sobre outras pessoas. Não confirmo nada.

Mas ficaria feliz se isso acontecesse?

Eu orgulho-me imenso da carreira do meu marido e das qualidades que ele tem que são muito boas. Ele tem provado que tem imensas qualidades para liderar qualquer projeto. Ele pôs uma televisão que estava falida e à beira de fechar como líder e a dar muito dinheiro. De tal forma que foi vendida com muito lucro em 2005. Foi ele que, obviamente com uma grande equipa da qual tenho orgulho de ter feito parte, construiu um projeto que tinha pés e cabeça e que tinha resultado. Ele tem mais do que qualidade para estar à frente de qualquer projeto.

Não estamos perante um Papa e aquilo às vezes confunde-se com o Papa Marcelo.Olhando agora para fora de Portugal, o que pensa do resultado das eleições nos EUA?

É espantoso que um homem como aquele [Donald Trump] seja eleito e isso põe-nos a pensar sobre as eleições por voto popular. A forma como estes homens têm de manipular e encher a cabeça das pessoas. É tão inconcebível que aquele país tenha eleito o Obama que foi, na minha opinião, um tipo fantástico, e que depois venha um outro a seguir que é um verdadeiro troglodita. O Obama diminuiu o desemprego, apanhou aquele país na maior crise desde os anos 20, conseguiu um crescimento económico maior do que o previsto, tinha um programa de saúde que dava acesso, pelo menos, a 20 milhões de americanos, falou sobre minorias, direitos civis, liberdades e vem agora este restringir os direitos à saúde. 

Essa comparação que fez pode, no caso português, assemelhar-se com a passagem de Cavaco para Marcelo, mas num sentido oposto? Uma mudança que deu um novo ânimo ao povo português?

A Presidência é a Presidência, não estamos perante um Papa e aquilo às vezes confunde-se com o Papa Marcelo. Ele tem funções próprias de Presidente, é um cargo político, um órgão de soberania. Foi eleito com a ajuda de um partido político, o PSD, e com a estrutura toda do PSD a trabalhar em grande para a sua eleição. Não foi uma coisa que brotou do chão. É bom que as pessoas vejam que isto é uma personagem política, não é um Messias. Qualquer comparação com o antecessor é melhor, mas podíamos ficar ali no meio, com uma coisa equilibrada. Corremos o risco de, daqui a uns tempos, lhe serem exigidas responsabilidades por tanto dizer que está tudo tão bem, de estar a criar um sentimento de que o país está na melhor das situações. Tem de ser responsabilizado, não só o Governo mas ele também. Aqui não é tudo cor de rosa como um palácio. Parece que estamos num conto de fadas o que não é a realidade.

*Pode ler a primeira parte desta entrevista aqui.

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