As eleições no Sporting estão agendadas para o próximo dia 8 de setembro. Sete candidatos preenchem o boletim de voto: Frederico Varandas, João Benedito, José Maria Ricciardi, Rui Jorge Rego, Dias Ferreira, Pedro Madeira Rodrigues e Fernando Tavares Pereira. Este último, encabeça a Lista G, e parte para este ato eleitoral com o lema "Unidos Venceremos".
Tavares Pereira concedeu uma entrevista ao Desporto ao Minuto, onde sublinhou por diversas vezes a palavra "responsabilidade". Confia que vai vencer as eleições, mantém a promessa de ser um líder sem remuneração, condena o "abandono" a que foi deixada a Academia de Alcochete e revela: "outros locais estão a ser estudados".
Tem apenas a quarta classe, mas ninguém lhe "dá lições de vida. Os outros candidatos fizeram um curso superior, mas a nível de conhecimento não superam os meus 44 anos de trabalho".
É dono de um império, gerindo negócios nas áreas de metalomecânica, construção civil, inspeção automóvel, agricultura, saúde, turismo e hotelaria. Porque é que os sócios do Sporting têm de votar em si no dia 8 de setembro, preterindo os restantes seis candidatos?
A minha candidatura ao Sporting tem uma relevância muito grande. Porquê? Porque eu já fui convidado para ir para o clube por duas vezes (2011 e 2013) e podia ter dito que sim, mas estaria a enganar as pessoas. Eu tenho uma noção de responsabilidade muito grande e sabia que não teria tempo para desempenhar as funções e decidi não enganar os sportinguistas, não me candidatando. Desta vez, o Sporting precisa de mim, tal como o pão que se come dia após dia, porque a minha experiência de vida é uma experiência de luta, de trabalho e de muita serenidade, de muita responsabilidade e de não virar as costas aos problemas. Quando alguém o cria ninguém o quer resolver, mas eu não. Se o problema vem criado, eu quero resolve-lo e pensar bem no futuro. Eu faço falta no Sporting e não vejo nenhum outro candidato capaz de presidir aos destinos do clube. Eu quero unir a família sportinguista, que está desunida há muitos anos e o futebol é o reflexo disso.
Considera-se um dos elos mais fracos destas eleições?
Não me considero, até porque tenho o currículo mais forte e recheado do que qualquer um dos outros, porque a minha vida sempre foi carregada de trabalho, de responsabilidade e de conhecimento de causa. Olhando para mim, olhando para os outros, só não me conhece quem não quer, porque eu ando em Lisboa a trabalhar há 44 anos e às vezes digo ‘em 10 pessoas há um amigo que me conhece’.
A câmara de Alcochete não disponibiliza os serviços necessários à Academia e nós pagamos quase 200 mil euros por ano em transportes públicosAo longo da história, o Sporting apresentou presidentes com qualificações bastante distintas. Para si, qual é o perfil certo da pessoa que deve liderar os destinos do emblema de Alvalade?
Em primeiro lugar, deve ter responsabilidade, depois ter conhecimento do que é uma empresa, depois ter a responsabilidade de escolher pessoas com competência para todos os departamentos do clube, afim de conseguir as mais-valias e os melhores resultados possíveis. E o presidente eleito tem de saber o que quer. O Sporting está a passar uma crise, porque não tem tido pessoas capazes em vários departamentos. Resultados? Quase zero. Responsabilidade? Quase zero. Academia? Caiu. O Sporting não pode ser gerido por pessoas que não tenham responsabilidade própria. Uma empresa só tem viabilidade se tiver resultados, se não tiver não tem viabilidade. E qual é a viabilidade que o Sporting tem? O clube vive com o apoio de todos e com alguns contratos que foi fazendo, e é assim que vai vivendo, mas não pode viver assim muito mais tempo, porque essas mais valias podem desaparecer a qualquer momento. Primeiro tem de se pensar no Sporting e em fazer melhor que os outros. Os outros candidatos também estudaram e trabalham nas suas respetivas áreas. Os meus estudos fizeram-se na escola da vida [candidato tem apenas a quarta classe]. Os outros candidatos fizeram um curso superior, mas a nível de conhecimento não superam os meus 44 anos de trabalho.
Eu faço falta no Sporting e não vejo nenhum outro candidato capaz de presidir os destinos do clubeJá referiu anteriormente que a prioridade é “arrumar a casa” e, até lá, não irá receber o vencimento destinado ao presidente do clube. Mantém essa ideia?
Eu vou servir o Sporting, não me vou servir a mim. Eu não quero qualquer tipo de vencimento, porque aquilo que o Sporting precisa neste momento é ter uma solidez financeira e organizada e é o que nós queremos fazer. Nós queremos organizar o clube e ser vencedores, não tenho a mínima dúvida que o Sporting mais tarde me vai agradecer. Não é agradecer, é dizer obrigado por termos ganho títulos.
João Benedito é o único candidato que já foi atleta do Sporting. Isso é uma vantagem, ou a idade do antigo guardião de futsal dos leões é uma contrapartida?
Aquilo que ele fez, fez bem, e é um bom homem para o departamento das modalidades. Agora, para gerir os destinos do clube, tenho sérias dúvidas que o consiga. Ele é um homem educado e sabe aquilo que faz na sua área, na área das modalidades. Eu gostava de contar com ele no departamento das modalidades e digo isso sem qualquer problema. Os sete candidatos dão sete pessoas competentes e isso é importante. A minha lista é de fora para dentro e não me importo de englobar todos, porque todos têm os seus méritos nas suas respetivas áreas.
Ando em Lisboa a trabalhar há 44 anos e às vezes digo ‘em 10 pessoas há um amigo que me conhece’A situação financeira do clube já foi explanada por todos os candidatos. José Maria Ricciardi ‘pintou’ um cenário negro das contas do Sporting, já os adversários ‘desmentem’ o antigo banqueiro e dizem que a situação não é assim tão complicado. Em que ponto do ‘barómetro’ se encontra?
Primeiro é preciso ver para crer. A situação do Sporting obviamente não é fácil: com um passivo de 457 milhões de euros, com pagamentos a curto prazo de 30 milhões de euros e mais 70 milhões de despesas correntes. Eu penso que nem tudo foi mal feito, como, por exemplo, o contrato com a NOS. É óbvio que vamos ter de fazer um certo esforço e disponibilizar capital para satisfazer determinadas dívidas, mas nós não temos necessidade de estar a vender o Sporting, não temos de necessidade de entregar o Sporting a um grupo. Aquilo que temos de fazer é o melhor possível a nível da realização de capital, porque o capital existe e é preciso fazer um contrato com uma empresa nacional ou internacional, e deixar de colocar o dinheiro nas mãos da SAD. É preciso ter cuidado com quem gere o Sporting para que o dinheiro não desapareça rapidamente, sem termos a situação interna dos custos controlada.
Que garantias financeiras pode dar aos sócios e adeptos do Sporting, no que diz respeito a parcerias e acordos?
Não temos acordos com ninguém. Nós temos tudo estudado para que, na altura própria, o Sporting não fique em incumprimento com ninguém, portanto, não temos grandes grupos, temos as pessoas e as empresas à responsabilidade que nós temos. Não vemos vender capital da SAD, vamos tentar recupera-lo. Vamos ter um controlo muito financeiro. O Sporting tem 28 milhões de euros de provisões e nós temos de limitar ao máximo este tipo de situações.
Eu vou servir o Sporting, não me vou servir a mimE quando fala em ‘limitar’, esse verbo também se aplica às modalidades do Sporting, já que nos últimos anos foi realizado um largo investimento no que respeita a contratações e vencimentos?
Nós estamos a fazer neste momento um estudo sobe as modalidades e quando esse estudo estiver concluído será mais fácil poder responder a essa questão. Temos noção de que nos últimos anos houve prejuízo, não tanto como se pensa, já que também foram geradas fontes de receita com as modalidades. Por isso, é necessário fazer contas e ter a responsabilidade daquilo que se diz para não estar a correr o risco de dizer que aquilo que foi realizado no passado foi mal feito.
Quer chegar ao Sporting com o Lema “Unir o Sporting”, sabendo que ao longo de décadas o Sporting foi apresentando divisões cada vez mais acentuadas, surgindo a partir daqui designações como “barões, viscondes e sportingados”. Como pensa fazer a tão aclamada “unificação”?
Se for analisar a minha vida pessoal e laboral, saberá que eu tenho essa capacidade de unir as pessoas e uno as pessoas como? Com a minha forma de estar, com clareza, com transparência, com responsabilidade que, em minha opinião, é o que tem faltado ao Sporting. Eu acho que nós temos de incutir aquilo que aprendemos, e, tendo educação e respeito, não tenho a mínima dúvida que vamos conseguir fazer com que estejamos mais unidos e que a família sportinguista se ‘sente à mesma mesa’. Eu dou-me com todos: com os ‘barões’, os ‘viscondes’ e os ‘croquetes’, a única coisa que não tolero são as faltas de respeito. Quem disser que não precisa do apoio de todos, está enganado. Nós precisamos do apoio de todos os sportinguistas e precisamos de ouvir a todos.
É preciso ter cuidado com quem gere o Sporting para que o dinheiro não desapareça rapidamenteQuer unir todos os sportinguistas quando aos olhos de muitos há um que tenta separar os demais. Falo de Bruno de Carvalho, um homem que está proibido de entrar em Alvalade. Se for eleito, essa proibição termina? E o antigo presidente do clube será apenas mais um sportinguista?
São todos sportinguistas, mas há problemas na justiça e é a justiça que vai resolver, não eu. Tanto Bruno de Carvalho, como qualquer outro sócio é bem-vindo a Alvalade. Eu nunca falei muito sobre isto. Na minha opinião, são os sócios que têm de julgar os anteriores presidentes e, quiçá, eu venha a ser julgado no futuro, mas eu espero que não seja.
Seria tudo mais fácil se fosse permitido a Bruno de Carvalho ir a votos no próximo dia 8 de setembro?
Somos um país democrático. Se a justiça assim o disser, não tenho nada a opor. Aceito de bom grado qualquer candidato, só não nos podemos sobrepor sobre a lei. Se a lei disser que sim, aonde é que está o problema de ele ser candidato? Nem teria qualquer problema em debater com ele.
Se não fosse a votos, ia dar um passeio nesse diaJá referiu que a sua aposta recai em José Peseiro e na atual equipa técnica, devendo manter-se o voto de confiança que foi entregue pela atual SAD. Todavia, se o voto de confiança se perder quem seria o seu treinador e que tipo de treinador gostaria de ter no Sporting?
Eu poderia ter muitos nomes, mas não tenho nomes nenhuns. Porquê? Porque quero a estabilidade do Sporting e a situação do clube está frágil. Se este foi o treinador escolhido e se conseguiu bons resultados, qual é o problema de o querer manter? Nós precisamos de paz no Sporting, e essa paz é que vai trazer bons resultados. Se ele tiver resultados, Peseiro fica, caso contrário pensaremos noutras alternativas. Eu a única coisa que quero neste momento é um Alcochete a trabalhar bem e muito melhor do que a situação atual. Maior e com mais trabalho, porque de há 8/10 anos para cá Alcochete acabou. Há algo que está mal em Alcochete e é preciso de voltar a criar grandes glórias lá. A câmara de Alcochete não disponibiliza os serviços necessários à Academia e nós pagamos quase 200 mil euros por ano em transportes públicos, reservados para as camadas jovens. E o que é que isso quer dizer? A Academia é um bem para Alcochete, mas se não forem oferecidas contrapartidas nós temos outras soluções.
Eu dou-me com todos: com os ‘barões’, os ‘viscondes’ e os ‘croquetes’, a única coisa que não tolero são as faltas de respeitoMas pensa ter a Academia noutro local?
Loures, Odivelas, Sintra, Oeiras, por exemplo. A Academia de Alcochete precisa de ser reformulada e ter um espaço dedicado às antigas glórias do Sporting, após se reformarem, ter um espaço dedicado para os clubes estrangeiros estagiarem, caso pretendam. Mas os jovens em Alcochete precisam de ter melhores condições e, quiçá, ficarem mais próximos de Lisboa.
Mas a questão é que o metro quadrado em Lisboa está ao preço do ‘diamante’...
Sim, mas para nos mudarmos as câmaras têm de disponibilizar os terrenos. Não existe outra hipótese. Em contrapartida, nós oferecemos uma escola com projeção, com viabilidade. Porque é muito importante a imagem que se cria. Oeiras desenvolveu-se bastante, porque chamou grandes empresas para lá, o que permitiu ao município crescer bastante. Posso garantir que a Academia de Alcochete manter-se-á, mas provavelmente com muito menos atividade. O Sporting tem de viver da sua Academia.
São os sócios que têm de julgar os anteriores presidentes, e quiçá eu venha a ser julgado no futuroQue relação procura ter com os seus eternos rivais?
Tendo a minha casa arrumada, eu tenho tempo para tudo. Queremos fazer mais e melhor do que os outros para sermos vencedores. Eu dou-me bem com todos, mas continuo a gostar mais do meu Sporting. O FC Porto e o Benfica não podem ser menosprezados, e o Sporting tem de estar atento ao que eles fazem. Más relações? Isso não dignifica o clube, temos de ser educados. Eu conheço 50% dos clubes dos emblemas profissionais e vou continuar a falar com eles.
Se no dia 8 de setembro não pudesse votar em si, em quem votaria?
Não votaria em nenhum. Eu falo com todos, mas não me identifico com nenhuma das outras candidaturas. Se não fosse a votos, ia dar um passeio nesse dia.
Que mensagem final gostaria de deixar aos sócios do Sporting para o próximo virar de página do clube, marcado para o dia 8 de setembro.
Quero tornar o Sporting numa grande família outra vez. Não dar ‘tiros’ nos pés, não tratar mal quem quer que seja, porque o Sporting, neste momento, tem de ter o apoio de tudo e de todos, porque já chega, já basta de problemas. A imagem já foi tão abalada que isto é o que peço a todos os sportinguistas. Eu não tenho Comissão de Honra e a razão é simples. Porque a minha Comissão de Honra é composta por todos os sportinguistas. Nas eleições agendadas para 8 de setembro é preciso dar início ao fim do passado. E espero ser o vencedor desta grande batalha. A minha Lista é a G, G de grande.