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Têm dupla nacionalidade e são candidatos a autarquias de Norte a Sul

Por todo o país há cidadãos candidatos às próximas eleições autárquicas que são oriundos de outras nações, e que pretendem "pôr a render" as suas experiências e "emprestar" multiculturalidade às autarquias portuguesas.

Têm dupla nacionalidade e são candidatos a autarquias de Norte a Sul
Notícias ao Minuto

09:21 - 18/09/17 por Lusa

Política Eleições

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A agência Lusa falou com alguns candidatos às eleições locais de 01 de outubro que possuem dupla nacionalidade.

Natural de Cabo Verde, Mário de Carvalho, de 48 anos, chegou a Lisboa em 1991, com o objetivo de estudar, concluindo a formação superior em Ciência Política e Direito.

O cabeça de lista à Câmara Municipal da Amadora pelo partido 'Nós, Cidadãos!' sempre viveu no município da periferia de Lisboa e desde cedo envolveu-se no movimento associativo, no meio académico e entre a comunidade do seu país de origem, fazendo parte da direção da Associação Cabo-verdiana de Lisboa.

"O que me dá uma perspetiva diferente de ver os problemas das pessoas é o meu percurso de vida por si só", apontou Mário de Carvalho, destacando a importância do trajeto associativo.

Enquanto candidato com dupla nacionalidade aposta na "mais-valia" da diversidade e multiculturalidade das 55 nacionalidades representadas no município, focado em "fazer da Amadora um polo multicultural da lusofonia", com o desenvolvimento de indústrias criativas na área da cultura, e a concretização do projeto da Casa de África.

"A educação é um grande pilar para que em determinado momento as pessoas não possam ser vistas como diferentes devido à cor da pele e outra cultura, outra nacionalidade, mas sim por terem capacidades e serem competentes, pela meritocracia", advogou.

A residir no concelho de Évora há 27 anos, "cerca de 20" dos quais já passados a morar na aldeia de São Miguel de Machede, a belga Florence Melen é cabeça de lista a esta junta de freguesia, pela CDU, nas eleições que se avizinham, tal como já tinha acontecido em 2013.

"É a segunda vez que sou cabeça de lista, além de ter integrado a lista da CDU em diversas eleições anteriores, sempre à junta de freguesia, e é um pouco inerente ao meu trabalho", como coordenadora-geral da associação de desenvolvimento rural Trilho, de São Miguel de Machede, disse a candidata, de 47 anos (tirava aqui).

Florence, de 47 anos, realçou que quer aproveitar a política para "fazer mais" pela terra onde vive.

No distrito de Lisboa, Safaa Dib é a cabeça de lista à Câmara de Oeiras pelo partido Livre. Nasceu no Dubai (Emirados Árabes Unidos), onde foi registada na embaixada do Líbano, país de origem dos pais, que a trouxeram com 2 anos para Lisboa, em 1985.

Safaa Dib, de 34 anos, cresceu na capital portuguesa, formou-se em Línguas e Literaturas Modernas e, após trabalhar dois anos na Embaixada do Irão, é diretora editorial de um grupo livreiro em Oeiras.

Envolvida em movimentos de esquerda, a candidata ingressou em 2014 no Livre, integrando as candidaturas desse ano às eleições europeias e às legislativas de 2015.

A cidadã com dupla nacionalidade admitiu que as pessoas demonstram "muita curiosidade" pela origem do seu nome, salientando que teve "educação árabe em casa e uma educação portuguesa fora de casa", com as amizades feitas na escola.

Apesar de haver características portuguesas com as quais não se identifica, Safaa Dib concedeu que isso lhe permite observar as situações de uma forma "mais distante" e "menos emocional".

"Nunca senti à minha volta sentimentos de xenofobia, de agressividade ou de rejeição, mas isso pode variar do meio social de cada um", afirmou.

Para Safaa Dib, as culturas libanesa e portuguesa possuem afinidades, como a família em torno da mesa, a hospitalidade e a paixão pelo azeite e vinho, entendendo que a participação de estrangeiros nas autárquicas deve ser vista à luz da máxima "pensar global e agir local".

"O Livre lutou muito por incentivar essas populações [imigrantes] a votarem e a exercerem os seus direitos cívicos e se eu, como candidata com passado de estrangeira multicultural, puder passar essa mensagem, tanto melhor", frisou.

Mais a norte, também com dupla nacionalidade, Andrzej Kowalski, polaco de 65 anos, há quatro décadas a viver em Portugal, é o candidato do BE à Câmara de Leiria, cargo a que concorre pela primeira vez.

Independente, o candidato apresentou-se antes pelas listas do BE a uma junta de freguesia do concelho de Leiria e foi mandatário em eleições anteriores.

"Quero ter uma participação ativa quer na vida profissional como na vida cívica. Houve um grupo de pessoas independentes que começou a trabalhar naquilo que pode ser um projeto para modificar a nossa vida", disse.

Natural do Bangladesh, Md Shah Alam ocupa o 11.º lugar da lista do candidato do PS à Câmara do Porto.

A residir no Porto há mais de duas décadas, Md Shah Alam é dirigente da Associação dos Comerciantes de Bangladesh e representante da Comunidade de Estrangeiros no Porto, o que, na sua perspetiva, "reforça as obrigações morais e sociais" que presta, "não apenas como empresário, como também como cidadão".

Shah Alam justifica ter aceitado o desafio para integrar a candidatura com a "forte ligação com a sociedade portuense" e os problemas com que se cruza "diariamente na cidade, como cidadão e comerciante".

Alecsander Pereira é o cabeça-de-lista do CDS-PP à Junta da União de Freguesias de Santa Maria da Feira, Travanca, Sanfins e Espargo. Tem dupla nacionalidade (portuguesa e brasileira) e candidata-se para "mudar a forma como se fazem as coisas".

Quando Travanca, Sanfins e Espargo se juntaram a Santa Maria da Feira numa União de Freguesias, "o que aconteceu na prática foi que essas três localidades ficaram um pouco abandonadas e as pessoas estão cansadas disso", considerou.

Quanto à experiência que trouxe da sua atividade cívica no Brasil, o que mais gostaria de ver replicado em Portugal era a obrigatoriedade da participação eleitoral.

"No Brasil é-se obrigado a votar e quem não for às urnas tem que pagar uma multa ou fica impedido de ter passaporte, número de contribuinte", referiu o candidato, acrescentando: "Ora, se em Portugal também fosse obrigatório votar, mesmo que as pessoas só lá fossem para votar em branco, era muito mais fácil medir estatisticamente o grau de insatisfação da população e tentar alterar as coisas".

Portugal tem 9.396.680 eleitores inscritos que podem votar nas próximas autárquicas. Segundo os dados da base central do recenseamento eleitoral estão inscritos 9.369.574 cidadãos nacionais, 13.462 cidadãos da União Europeia, não nacionais, e 13.644 outros cidadãos estrangeiros residentes em Portugal.

Podem ainda ser candidatos os cidadãos dos estados membros da União Europeia, do Brasil, Cabo Verde, Argentina, Chile, Colômbia, Islândia, Noruega, Nova Zelândia, Peru, Uruguai e Venezuela.

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