As eleições legislativas deste domingo atiram Portugal para um período de incerteza, criando grande expetativa sobre o comportamento da nova configuração do Parlamento. Não há possibilidade de o “Luís trabalhar” sem negociar e nenhum dos dois partidos mais votados são opções imediatas.
A AD venceu as eleições e conseguiu mais deputados do que no escrutínio anterior, mas, mesmo assim, só chega para um governo minoritário (por esta altura estão por atribuir quatro mandatos e o partido está com 86, bastante longe dos 116 assentos necessários para uma maioria absoluta).
Deixamos abaixo as ideias mais importantes a reter depois da noite eleitoral:
- Terceiras eleições em três anos e instabilidade continuará. Portugal realizou três eleições legislativas em três anos (2023, 2024 e 2025), refletindo uma instabilidade política persistente. A crise mais recente foi precipitada pela queda do Governo de Luís Montenegro, na sequência do caso Spinumviva, um dossiê que está longe de estar fechado. Ainda assim, Luís Montenegro conseguiu reforçar a sua posição.
- Fim do bipartidarismo? Pela primeira vez desde o 25 de Abril, um partido fora do tradicional eixo PS/PSD igualou o número de deputados de um partido histórico. Aliás, pode até ultrapassá-lo, quando se atribuírem os mandatos dos círculos da emigração. Este resultado é uma mudança tectónica no sistema partidário português.
- Novas eleições em 2026? Com um Parlamento fragmentado e sem maiorias claras, os analistas políticos não descartam a possibilidade de novas eleições antecipadas em 2026, caso não se consiga formar um Governo estável. Havendo dificuldades na aprovação de políticas ou não se chegando a consensos, o Parlamento poderá voltar a ser dissolvido.
- Que pode Luís Montenegro fazer? Luís Montenegro já indicou a intenção de formar um Governo minoritário, tal como em 2024, contando com apoios pontuais no Parlamento. Isto significa que dependerá de acordos e cedências para aprovar políticas. Nesta altura, o social-democrata está 'preso' entre um PS enfraquecido e um Chega com o qual tem divergências ideológicas.
- PS com pior resultado desde 1987. Pedro Nuno Santos apresentou a sua demissão na própria noite eleitoral, depois de um resultado (23,38%) que representa uma queda de 20 deputados em relação às eleições anteriores e coloca o PS empatado em número de assentos com o partido Chega (número que ainda pode mudar, dado que falta contabilizar os votos do estrangeiro). Apenas em 1985 e 1987 o PS teve desempenhos eleitorais piores.
- Participação eleitoral atingiu 64,38%, uma das mais altas das últimas décadas. A participação eleitoral foi de 64,4%, a mais alta desde 1995, refletindo um aumento significativo no envolvimento cívico dos portugueses. A taxa de abstenção baixou nas duas últimas eleições legislativas, depois da tendência de subida durante décadas, tendo alcançado em 2019 o valor mais elevado desde 1975 ao atingir os 51,43%.
- Toda a Esquerda desceu, menos o Livre. À Esquerda, só o Livre subiu de votação, para mais de 87 mil votos (6,87% do total). Enquanto o PS, BE e CDU registaram perdas significativas, o Livre aumentou a sua representação parlamentar para 6 deputados, consolidando-se como uma força emergente à Esquerda. O BE sofreu uma derrota histórica, elegendo apenas Mariana Mortágua como deputada, o seu pior resultado desde a fundação do partido.
- JPP entra no Parlamento. O Juntos Pelo Povo (JPP), com sede na Madeira, elegeu pela primeira vez um deputado para a Assembleia da República, tornando-se o primeiro partido com sede fora de Lisboa a conseguir representação parlamentar nacional.
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