"O PS não morreu e tem futuro. Tem um armazém de líderes em potência"

A noite de 18 de maio foi de surpresas e, enquanto a AD conseguiu reforçar-se, o segundo lugar e quem irá liderar a oposição é ainda uma incógnita até que sejam conhecidos os resultados dos eleitores residentes no estrangeiro. O politólogo José Adelino Maltez faz uma análise dos resultados eleitorais.

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Carmen Guilherme
19/05/2025 13:56 ‧ há 3 horas por Carmen Guilherme

Política

Legislativas

Portugal foi novamente a eleições no espaço de pouco mais de um ano e os resultados ditados pelas urnas reformulam a política nacional. Enquanto a AD (Coligação PSD/CDS-PP) conseguiu reforçar-se, este ato eleitoral teve um impacto profundo no Partido Socialista (PS), que pode ser ultrapassado pelo Chega, com Pedro Nuno Santos a sair de cena. Para o politólogo José Adelino Maltez, o PS "não morreu e tem futuro", enquanto o Chega "é um partido em construção", recusando assim a ideia do fim do bipartidarismo em Portugal. 

 

Em declarações ao Notícias ao Minuto, José Adelino Maltez considera que "o melhor resultado" destas eleições é "continuar a revolução do sufrágio universal". "Tudo correu dentro da normalidade de há 50 anos, as eleições livres e pluralistas continuam a ser coluna vertebral do sistema português", sublinha.

Quanto a resultados, o professor universitário e investigador aponta que não resta margem para dúvidas e "continuamos europeístas", com os resultados "dentro da normalidade" com o que tem acontecido noutros países, nomeadamente no que diz respeito ao crescimento de partidos como o Chega. 

No entanto, entende que "estamos a exagerar a dizer que é o fim" do bipartidarismo. "Não é bem assim, porque um partido tem de ser forte em autarquias, Parlamento e Presidente. E o que é que acontece? O Chega ainda não é um partido com a implantação organizacional do PSD e do PS. O Chega ainda é um partido em construção. Pode lá chegar, tem de trabalhar. Isto é um problema de operários em construção", diz.

Para o politólogo, apesar do "excelente resultado" que obteve nesta eleições, o Chega "tem de responder agora com candidaturas autárquicas, o que é um trabalho complicadíssimo".

"Ventura tem, agora, um espaço para se construir. Há aqui um trabalho de penetração no território e nas pessoas e de constituição de uma equipa que, por enquanto, não tem. O que seria se Ventura tivesse tido um problema mesmo grave que o afastasse da vida pública, na semana passada? O Chega estava numa situação complicadíssima", aponta ao Notícias ao Minuto.

José Adelino Maltez considera que o Chega estava "sujeito a um cordão sanitário", em que "as pessoas tinham medo de dizer" que representavam o partido. "Isso perdeu-se. Ele tem espaços de construção. Um partido, hoje, para ser poder tem de ser uma federação interna de grupos de interesse, tem de ser plural. O Chega tem de ter uma ala liberal, tem de ter uma ala reacionária, de valores católicos e causas. Têm muito trabalho pela frente e, potencialmente, pode resultar este pluralismo dentro do Chega", explica. 

"O PS não morreu e tem futuro"

Quanto aos socialistas, derrotados neste ato eleitoral, o politólogo não tem dúvidas de que o "PS não morreu e tem futuro", olhando para um partido com um "armazém bem recheado" de potenciais sucessores de Pedro Nuno Santos. Além disso, entende que os "líderes que encabeçam as principais forças politicas portuguesas, não são propriamente homens de génese, são homens comuns". "Não são nada de muito especial. Portanto, eles sofreram com a emergência de lideranças de mais qualidade pessoal e preparação. Há aqui uma falta de destaque carismático no PS e PSD. Está lá este, podia estar outro", aponta.

Na sua ótica, este tipo de questão pode "acontecer". "Há uma semana, Pedro Nuno era gigante, estava com uma campanha ótima, banhos de multidão e, de repente, leu os resultados e verificou que não era o homem certo para os próximos tempos do PS. Coisa que não é complicada porque o PS tem um armazém de líderes em potência, que têm de sair da sua vida privada e ir para o terreno. É só um problema de terem a coragem de ter disponibilidade para a política a tempo inteiro, correrem esse risco", concretiza. 

José Adelino Maltez ressalva que um governo está sempre "sujeito ao desgaste natural, à corrupção, aos casos" e "de, um momento para o outro, pode ter uma falha de ligação ao povo", recordando que o mesmo aconteceu com António Costa. Nessa altura, refere, o "PS tem a sua importância".

Além disso, o professor considera que os socialistas têm uma "responsabilidade que vai além" do próprio partido e que "passa por toda a Esquerda, que teve desastres, como o BE, como o PCP".

"O PS tem uma responsabilidade grande e vai responder a isso, até porque tem esperança, naturalmente", completa. 

De recordar que os resultados divulgados pela secretaria-geral do Ministério da Administração Interna (SGMAI), e referentes ao território nacional, mostram que a AD foi a vencedora destas eleições. Conseguiu eleger 86 deputados (sem contar com os círculos da emigração, que ainda não foram apurados). A estes deve somar-se a coligação que junta PSD, CDS-PP e PPM nos Açores, que conseguiu eleger três deputados.  Assim, ao todo, estas duas coligações têm agora 89 deputados. 

Por sua vez, o PS elegeu 58 deputados, a par do Chega, que conseguiu também 58 deputados. Já a IL tem agora 9 mandatos.

O Livre foi o único vencedor à Esquerda, conseguindo seis deputados, enquanto a CDU (PCP/PEV) passou de quatro para três deputados. 

Por sua vez, o Bloco de Esquerda passa para uma deputada única (a própria coordenadora do partido, Mariana Mortágua), enquanto o PAN 'segurou' Inês Sousa Real. 

Há um estreante, uma vez que o Juntos Pelo Povo (JPP) conseguiu eleger Filipe Sousa.

Esta composição não inclui ainda os eleitores residentes no estrangeiro, cuja participação e escolhas serão conhecidos a 28 de maio.

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A noite foi de surpresas e, enquanto, a AD conseguiu reforçar-se, o segundo lugar e quem irá liderar a oposição é ainda uma incógnita até que sejam conhecidos os resultados dos eleitores residentes no estrangeiro. Pedro Nuno sai de cena e a Esquerda foi a grande derrotada nestas eleições.

Notícias ao Minuto com Lusa | 08:47 - 19/05/2025

Leia Também: Meloni felicita europeísta Nicusor Dan pela vitória na Roménia

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