Desde que assumiu o cargo de coordenadora nacional do partido, Mariana Mortágua já teve que enfrentar cinco atos eleitorais. Perdeu um lugar no Parlamento Europeu, elegendo Catarina Martins no ano passado, recuperou e perdeu representação no parlamento regional da Madeira, reduziu representação nos Açores e enfrenta agora as segundas legislativas em apenas dois anos de mandato.
Na esperança de voltar aos tempos em que tinha uma bancada de 19 deputados na Assembleia da República -- conquistada em 2015, ano da 'geringonça', e mantida em 2019 -- o partido inovou na estratégia num verdadeiro "ou vai, ou racha".
Convencidos de que os eleitores portugueses estão cansados de eleições e os formatos habituais não dão votos, a direção de campanha do BE excluiu da rota pelo país visitas a feiras, mercados ou as tradicionais arruadas, que a antiga coordenadora Catarina Martins chegou a apelidar de "bolhas de proteção em que só os militantes do partido é que estão".
O caminho escolhido foi outro: primeiro, uma aposta no contacto porta à porta em distritos-chave. Munidos de um "guião", vários grupos de bloquistas, por vezes com Mariana Mortágua, bateram à porta de potenciais eleitores, ações que foram sempre fechadas à comunicação social.
Os bloquistas reforçaram a sua presença nas redes sociais, com vários conteúdos publicados todos os dias, que incluíram 'remixes' originais com as vozes dos três fundadores do BE, que regressaram às listas do partido uma década depois (Fernando Rosas por Leiria, Francisco Louçã por Braga e Luís Fazenda por Aveiro), e foram também um dos grandes 'trunfos' desta campanha.
As ações diárias assumiram três formatos novos. Primeiro, um modelo de comício em formato 'talk show', no qual antes das tradicionais intervenções em púlpito, um dirigente do BE conversava com outros bloquistas ou cidadãos da sociedade civil.
Um segundo formato passou por "aulas", de cariz mais técnico, nas quais Mariana Mortágua ou Francisco Louçã explicaram ao detalhe o porquê de taxar as grandes fortunas e as plataformas digitais. Por fim, o partido apostou num modelo de "conversas", onde juntou trabalhadores por turnos ou moradores de bairros da periferia, para os ouvir e dar-lhes o protagonismo da ação.
Mariana Mortágua fez de tudo para ir ao encontro dos que classificou como "invisíveis" e "esquecidos" da sociedade, incluindo apanhar um autocarro às 05:00 da manhã, no concelho da Amadora, para acompanhar trabalhadoras domésticas no seu percurso até ao trabalho.
A centralidade do trabalho na vida foi um dos temas mais presentes nos discursos da bloquista, além da habitação, com destaque para a proposta de impor tetos máximos às rendas, alvo de várias críticas.
Numa tentativa de limitar danos eleitorais após a polémica de despedimentos de duas recém-mães, em 2022, que abalou o partido, Mortágua fez questão de lembrar diversas vezes o património do BE em matéria de defesa dos direitos das mulheres.
Pelo meio, tentou contrariar os apelos ao voto útil, sobretudo vindos do PS, mantendo-se disponível para dialogar mas com um acordo escrito e em torno de "propostas e programas concretos".
Para este desafio, Mariana Mortágua convocou "todos, todos" e apelou a um "encontro de gerações" para combater a extrema-direita. O objetivo, de acordo com Fabian Figueiredo, é ser "a surpresa eleitoral da noite".
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