Em declarações aos jornalistas após ter visitado a associação Solidariedade Imigrante, em Lisboa, Mariana Mortágua foi questionada se a instabilidade na Rússia, provocada pela rebelião do grupo paramilitar Wagner no sábado, preocupa o Bloco de Esquerda.
Na resposta, a coordenadora do partido referiu "que é óbvio que [a situação] traz preocupações e riscos", acrescentando contudo que essas preocupações "não são de hoje".
"Putin invadiu a Ucrânia, impediu o acesso à autodeterminação do povo ucraniano. Fê-lo alimentando um grupo, como o grupo Wagner - e essa invasão foi feita com o grupo Wagner -, e agora toda a instabilidade criada por Putin na sua onda de violência está a alastrar-se à própria Rússia", sublinhou.
Para Mariana Mortágua, essa instabilidade penaliza "o povo russo, que aliás também é vítima desta guerra, e que luta numa guerra que não interessa a ninguém: nem ao povo russo, nem ao povo ucraniano, apenas aos planos de loucura de Putin".
"O único caminho que nós vemos neste escalar de violência é o de paz e de conversações para a paz. Conversações para a paz implica que a Rússia saia da Ucrânia e que garanta à Ucrânia o direito à sua autodeterminação", disse.
A coordenadora do BE defendeu que essas negociações de paz devem ser feitas sob a égide da Organização das Nações Unidas (ONU), "como é lógico", mas podem também englobar a União Europeia, "que pode ter um papel muito mais importante".
"A Europa pode ter um papel muito mais importante para a paz do que tem tido até agora", reforçou.
Nestas declarações aos jornalistas, Mariana Mortágua foi ainda questionada sobre a garantia, dada hoje por António Costa ao jornal Público, de que não irá aceitar qualquer cargo europeu.
Na resposta, a coordenadora do BE salientou que, "mais importante do que comentar as decisões de carreira política do primeiro-ministro, é falar sobre os problemas do país e as soluções", voltando a desafiar o presidente da Assembleia da República, Augusto Santos Silva, a convidar a presidente do Banco Central Europeu (BCE), que se encontra numa visita a Portugal, a ir ao parlamento.
"O desafio que fazemos é que o presidente da Assembleia da República convide a presidente do BCE, que a presidente do BCE possa sair da sua redoma, do seu palácio de Cristal, e vir à Assembleia da República ouvir os problemas das pessoas que não aguentam a prestação ao banco", disse.
Interrogada, contudo, se as declarações de António Costa não são um contributo positivo para a estabilidade do país, Mariana Mortágua respondeu: "O maior contributo para a estabilidade do país é resolver o problema da vida das pessoas, dos juros no crédito à habitação, da renda que as pessoas não aguentam pagar porque as casas estão demasiado caras".
"Cada vez que o PS, como agora vimos no [pacote] Mais Habitação, faz um recuo e cede aos interesses, nomeadamente nos vistos 'gold', ou que muda as regras de acesso no apoio à renda - deixando milhares de pessoas sem chão - não está a contribuir para a estabilidade do país", criticou.
Leia Também: BE diz que Costa deve esclarecer escala na Hungria para encerrar assunto