Manuela Ferreira Leite comentou, esta quinta-feira, na CNN Portugal, a polémica do livro 'O Governador', onde o ex-governador do Banco de Portugal acusa o atual primeiro ministro de intromissão política.
De acordo com a social-democrata, tanto Carlos Costa como António Costa "estiveram muito mal" e protagonizaram "um espetáculo deplorável e constrangedor".
Para a antiga ministra das Finanças, nem um nem outro "percebe a função que tem".
"O ex-governador do Banco de Portugal dá-me a sensação que não sabe o que é uma instituição independente. Uma instituição independente significa que ele não pode ser demitido, portanto, tem a liberdade total para tomar decisões, [...] mas não significa recolher a um convento com um voto de silêncio. São duas coisas completamente diferentes", começou por dizer sobre Carlos Costa, acrescentando que este "pode e deve" ouvir os responsáveis pelo nosso país para perceber as consequências das suas decisões.
"Ele não só deve falar com toda a gente como toda a gente pode e deve falar com ele. Em tempo útil, no tempo em que se está a discutir qualquer assunto. É absolutamente inconveniente que não fale. Por isso, quando um primeiro-ministro fala com um governador e ele considera isso uma interferência isso significa que ninguém pode falar com ele, o que não é verdade. Aliás, ele devia tomar a iniciativa de falar com todas as pessoas que têm responsabilidade no país. E acho bastante estranho que ele tome isso como uma pressão. Isso dá a perceção que ele era suscetível de aceitar essa pressão, aí é que está o erro. Não pode falar em pressões, quando é uma situação que o primeiro-ministro tem todo o direito de falar", atirou Manuela Ferreira Leite.
Já sobre António Costa, a comentadora da CNN Portugal defendeu que este também transmitiu a ideia de que pressionou o ex-governador, porque chamou logo "a Justiça" para a discussão.
"O primeiro-ministro também não teve nenhum sentido institucional. Acha-se dono disto tudo porque quando é criticado chama logo a polícia, a Justiça. A que título?! Ele é que transmite um pouco a ideia que estava a pressionar e não devia. Ele pura e simplesmente só tinha de dizer: ‘Sim senhor, falei, disse e torno a dizer porque considerava que, do ponto de vista do país, isto ou era mau ou era bom'. E depois o governador faz o que entender. Mas ele tinha de transmitir as consequências para o país das decisões do governador", sublinhou Manuela Ferreira Leite.
Recorde-se que no livro 'O Governador', o antigo líder do Banco de Portugal Carlos Costa conta a sua versão dos dez anos em que esteve ao leme da instituição.
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