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Assembleia de Lisboa aprova voto de pesar do PCP pelas vítimas da guerra

A Assembleia Municipal de Lisboa aprovou hoje um voto de pesar do PCP pelas vítimas da guerra na Ucrânia, com o PSD e o PS a considerarem que "é cínico" ao tentar "branquear" a invasão da Rússia.

Assembleia de Lisboa aprova voto de pesar do PCP pelas vítimas da guerra
Notícias ao Minuto

20:52 - 05/04/22 por Lusa

Política Ucrânia

Além da abstenção do PSD e do PS, o voto teve também a abstenção de BE, PAN, IL, CDS-PP, Livre e da deputada independente Daniela Serralha (do Cidadãos por Lisboa, eleita pela coligação PS/Livre).

O voto do grupo municipal do PCP, a manifestar "pesar pelas vítimas da violência e da guerra na Ucrânia, quer as mais recentes, quer as que se verificaram desde 2014", teve ainda os votos contra de MPT, Aliança, Chega e da deputada do PS Maria da Graça Ferreira.

A favor, além do próprio PCP, votaram os grupos municipais do PEV e do PPM e o deputado independente Miguel Graça (do Cidadãos por Lisboa, eleita pela coligação PS/Livre).

A assembleia municipal aprovou também dois votos de pesar do Livre e do MPT pelas vítimas dos crimes de guerra cometidos na cidade de ucraniana de Bucha, ambos aprovados com a abstenção do PCP e os votos a favor dos restantes, e ainda um voto do PSD pela morte do realizador lituano Mantas Kvedaravicius, que faleceu no sábado na cidade de Mariupol, na Ucrânia, onde se encontrava a documentar a guerra.

O voto de pesar do PCP começa por afirmar que "é preciso pôr fim à guerra que tem lugar na Ucrânia desde há oito anos e que não devia ter começado".

"As notícias difundidas a partir dos centros do poder ucraniano e ampliadas pela máquina de propaganda que tem rodeado a guerra na Ucrânia a partir da alegação de 'crimes de guerra' ocorridos em Bucha, bem como as alegações russas de que se tratou de uma operação de manipulação desencadeada por forças ucranianas, sendo informações contraditórias, são inquietantes e exigem cabal apuramento", lê-se no voto do PCP.

Numa declaração de voto oral para justificar a abstenção, o deputado do PS Manuel Lage acusou o PCP de "tentar emendar" a posição de "apoiar uma invasão em solo ucraniano na Europa", afirmando que os socialistas não se reveem em "crimes de guerra entre aspas".

"Aquilo que assistimos na Ucrânia são crimes de guerra, são mortes que nós vemos diariamente na televisão, não há forma de escamotear, nem de branquear essa situação", afirmou Manuel Lage, explicando que o PS não vota a favor de votos que "compactuam com branqueamentos" da invasão por parte da Rússia, mas também não votou contra por se tratar de um pesar por vítimas.

Da bancada do PSD, Luís Newton considerou que o voto do PCP "é cínico", questionando como é que "ao final deste tempo todo ainda haja quem queira escamotear o que se passa".

"As constantes violações dos direitos humanos, as constantes chacinas, valas comuns, destruição de propriedade privada e morte em abundância nas ruas das várias cidades ucranianas mereciam de todas as forças políticas democráticas um inequívoco claro voto de repúdio, sem procurar clarificar posições de quem tem sido sistematicamente brutalizado nas últimas semanas", declarou o social-democrata, atribuindo a responsabilidade pelo sofrimento do povo ucraniano à "invasão bárbara" por parte da Rússia, perpetuada pelo presidente russo Vladimir Putin.

A deputada da IL Angelique da Teresa considerou que o voto de pesar do PCP "foi uma excelente oportunidade para se ficar calado", referindo que não se entende a referência de "crimes de guerra entre aspas".

"Não há que negar os horrores que estão a acontecer neste momento na Ucrânia", afirmou o deputado do MPT José Inácio Faria do MPT, salientando ser a primeira vez que vota contra um texto de pesar, por considerar que "é um voto hipócrita".

O deputado municipal do Aliança Jorge Nuno Sá Aliança, que também votou contra, acusou o PCP de "tentar arranjar justificações para aquilo que é injustificável", em que o voto "é uma demonstração de cinismo e hipocrisia".

Já o deputado do PPM Gonçalo da Câmara Pereira votou a favor porque "o PPM nunca votou, nem nunca votará contra qualquer voto de pesar".

Após as declarações de voto, a deputada do PCP Natacha Amaro explicou o uso das aspas e a abstenção nos dois votos de pesar sobre as vítimas na cidade ucraniana de Bucha com "a investigação que tem de ser conduzida relativamente às atrocidades que foram cometidas naquela região", lembrado que as Nações Unidas já exigiram uma investigação independente sobre as mortes de Bucha.

"As Nações Unidas querem investigar e querem que se saiba exatamente o que aconteceu, aqui nesta assembleia a esmagadora maioria das pessoas pelos vistos já sabe garantidamente o que aconteceu e não precisa de investigar nada mais", afirmou a deputada comunista, reforçando que o voto de pesar é sobre as vítimas, pelo que "é inadmissível que isso seja posto em causa".

Natacha Amaro disse ainda que o que separa o PCP dos restantes grupos políticos não tem que ver com esse pesar, mas sim com "a análise dos factos", defendendo que "não é irrelevante" olhar para o que levou à situação que se vive hoje na Ucrânia, inclusive "os mais de 15 mil mortos que ocorreram na região de Donbass entre 2014 e 2021", assim como para "quem ganha e muito com esta guerra".

A Rússia lançou em 24 de fevereiro uma ofensiva militar na Ucrânia que matou pelo menos 1.480 civis, incluindo 165 crianças, e feriu 2.195, entre os quais 266 menores, segundo os mais recentes dados da ONU, que alerta para a probabilidade de o número real de vítimas civis ser muito maior.

A guerra já causou um número indeterminado de baixas militares e a fuga de mais de 11 milhões de pessoas, das quais 4,2 milhões para os países vizinhos.

Esta é a pior crise de refugiados na Europa desde a II Guerra Mundial (1939-1945) e as Nações Unidas calculam que cerca de 13 milhões de pessoas necessitam de assistência humanitária.

A invasão russa foi condenada pela generalidade da comunidade internacional, que respondeu com o envio de armamento para a Ucrânia e o reforço de sanções económicas e políticas a Moscovo.

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