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Há uma "cultura" de ir às urgências, "mas não é culpa do doente"

Enquanto não houver mais disponibilidade dos cuidados de saúde primários, os esforços para tentar diminuir os tempos de espera nas urgências “serão inglórios”, defende o presidente do Congresso Nacional de Urgências.

Há uma "cultura" de ir às urgências, "mas não é culpa do doente"
Notícias ao Minuto

07:35 - 01/10/16 por Carolina Rico

País Congresso

Portugal é o país da OCDE com mais visitas às urgências per capita. Porquê e o que pode ser feito para diminuir a afluência a este serviço? Para debater estas questões, o II Congresso Nacional de Urgências tem lugar este sábado e domingo, em Braga.

Em entrevista ao Notícias ao Minuto, o presidente deste Congresso e especialista em Medicina Interna, José Mariz, tem uma explicação para o facto de um grande número de pessoas recorrer às Urgências: é o serviço que está sempre presente, quando todos os outros falham.

Além de “um problema de recursos humanos”, há em Portugal uma “cultura” de ir às urgências, mesmo perante problemas “não urgentes”, admite José Mariz. Uma ressalva: “não é culpa do doente”.

O desconhecimento ou falta de “hábito” em recorrer aos cuidados de saúde primários ou ao médico de família são potenciais explicações. Contornar esta situação seria essencial para “diminuir a afluência à urgência” e, consequentemente, os tempos de espera.

Por outro lado, recorda, Portugal tem uma população muito envelhecida e “os idosos são mais propensos a ter problemas relacionados com as suas doenças crónicas”.

Uma rede alargada de “cuidados paliativos” podia ser parte da solução para colmatar as dificuldades sentidas nas urgências, mas neste momento o tratamento através destes cuidados é “deficitáio”, considera.

José Mariz trabalha na linha da frente dos serviços de urgência no hospital de Braga desde 2009 e defende que devia haver “uma maior flexibilidade na organização dos turnos” de urgência para colocar mais profissionais nos períodos onde há geralmente mais doentes.

Os doentes com pulseira verde, considerados não urgentes, também podiam ser atendidos por uma equipa exclusivamente dedicada, defende. “Seria uma espécie de curto circuito e esses doentes já não entram no fluxo de doentes prioritários”, com pulseira amarela ou laranja.

A linha de Saúde 24 também dá uma ajuda para diminuir os tempos na triagem, uma vez que os doentes já vêm referenciados e o hospital tem acesso à queixa mesmo antes de o doente chegar. “Reduzir nem que sejam cinco ou dez minutos tem um impacto brutal”.

Estes seriam apenas soluções temporárias, um tratamento dos “sintomas” e não a “cura” do problema dos tempos de espera nas urgências. “Temos de ser honestos – vai ser difícil e não vamos ter respostas imediatas”, diagnostica o especialista.

“Temos de educar as populações, de resolver os problemas dos idosos, de resolver os problemas dos cuidados paliativos, temos de resolver os cuidados primários”, reitera José Mariz. “Enquanto não solucionarmos isso vai ser inglório”.

Saliente-se que, só em 2015, contabilizaram-se cerca de sete milhões de idas ao serviço de urgência em Portugal.

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