Com 17 anos, a adolescência de Andriy tem sido marcada pela guerra que, além de lhe roubar aqueles que deveriam ser alguns dos melhores anos da sua vida, levou-lhe também o pai.
As marcas do conflito não tiram folga, mas durante os próximos dias, o jovem vai poder aproveitar a paz em Portugal, ao lado de outros 15 ucranianos cujos pais, como o de Andriy, morreram na guerra.
A iniciativa "Crianças dos Heróis -- aquecidas pelo sol e pelo amor" é promovida pela Associação dos Ucranianos em Portugal e a Associação das Mulheres Ucranianas em Portugal, com o apoio da Junta de Freguesia de Benfica, que convidaram 17 crianças e as mães a passar férias no país durante 10 dias.
Hoje, depois de um primeiro dia de descanso na praia, a manhã foi passada no Oceanário de Lisboa, com uma banda sonora a que não estão habituados: o som da vida marinha entre o barulho animado das famílias.
"Gostamos muito", disse à Lusa uma das mães, no final da visita, contando que o filho mais novo, de 10 anos, gostou sobretudo de ver os tubarões e as raias.
À semelhança das restantes famílias convidadas, Olena é da região fronteiriça de Sumy, no nordeste da Ucrânia, particularmente afetada pela conflito que dura há mais de três anos, depois de a Rússia ter invadido o território ucraniano em 24 de fevereiro de 2022.
Mãe de dois filhos e agora viúva, relata uma vida de medo na Ucrânia -- medo pelas crianças, pela família e "do que possa acontecer".
Sair do país, mesmo que por apenas 10 dias, será uma oportunidade para descansar e quando questionada sobre o que significa para si e para a família a viagem a Portugal, Olena repete a palavra "spokiy" que, em português, significa tranquilidade.
O objetivo da iniciativa é precisamente esse, explica a presidente da Associação das Mulheres Ucranianas em Portugal.
"Precisam de descansar e de viver sem guerra. Dez dias é muito pouco, mas pronto", diz à Lusa Nataliia Varha, que espera que as mães e os filhos regressem à Ucrânia no dia 21 de agosto com a bagagem carregada de "muito amor e felicidade".
De telemóveis em riste para registar todos os momentos, os olhos das crianças brilham com o reflexo do azul dos tanques do Oceanário, sobretudo à passagem dos tubarões e das raias.
À passagem pela zona do Pacífico, detêm-se curiosos à procura das lontras. Num cartaz, lê-se que se não forem avistadas, estão a dormir a sesta, mas pouco depois surgem as duas residentes, gerando entusiasmado.
"Está a ser muito interessante, para mim e para o meu filho", conta Daria, de visita a Portugal pela primeira vez, acompanhada do filho de 4 anos.
Daria reconhece que a situação em casa está mais calma. "Já não é tão perigoso", conta à Lusa, explicando que, apesar de tudo, tem conseguido relaxar.
Ainda assim, a expectativa é que durante os próximos dias possa, verdadeiramente, descansar.
Segundo Nataliia Varha, a ideia de trazer famílias ucranianas a Portugal surgiu, inicialmente, entre amigas -- mulheres ucranianas a viver no país que se propuseram a receber nas suas casas mulheres viúvas e os filhos.
O apoio da Junta de Freguesia de Benfica, que assegurou alojamento, permitiu alargar a dimensão do projeto que Nataliia pretende repetir com outras famílias, de outras regiões da Ucrânia.
Para os próximos dias, o grupo tem a agenda preenchida, com visitas a Óbidos, ao Badoca Safari Park, em Santiago do Cacém, a Fátima e atividades na piscina e ao ar livre.
Questionado se está entusiasmado, Andriy não hesita na resposta: "Sim".
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