"Erro humano". O que se sabe sobre caso da mulher que deu à luz na rua?

Soraia deu à luz em plena via pública, depois de a linha de Saúde 24 a ter aconselhado a ir de carro para o hospital, em vez de enviar uma ambulância. SNS já reconheceu "erro humano" na triagem e a Ordem dos Médicos considerou a situação "inadmissível".

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Tomásia Sousa com Lusa
13/08/2025 09:50 ‧ há 1 hora por Tomásia Sousa com Lusa

País

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Os Serviços Partilhados do Ministério da Saúde (SPMS) reconheceram, na terça-feira, ter havido um "erro humano" que levou a que a chamada de socorro da grávida que teve o parto na rua não fosse encaminhada para o INEM. A conclusão é de uma averiguação preliminar, que revela que a chamada foi atendida em 17 segundos, mas a triagem foi mal feita. O que aconteceu, afinal?

 

Soraia, de 28 anos, deu à luz na segunda-feira em plena via pública, no Carregado, na segunda-feira. Começou a sentir contrações pelas 9h00 da manhã, quando estava com os pais numa pastelaria. Nessa altura, a família ligou para a Saúde 24, mas foi-lhes aconselhado que fossem até ao hospital de carro, apesar de se tratar de uma doente de risco. Acabaram por ser os pais da mulher a ajudá-la a fazer o parto.

"De acordo com averiguação preliminar solicitada pela SPMS ao operador privado da Linha SNS 24, existiu um erro humano na aplicação do algoritmo de triagem e no encaminhamento, levando a que a chamada não tivesse sido transferida para o INEM - Instituto Nacional de Emergência Médica", lê-se na nota de imprensa da SPMS, enviada ontem às redações.

Segundo o comunicado, foi solicitada a averiguação ao operador privado da Linha SNS 24 - a Altice - para "aferir o sucedido" na chamada no caso da grávida do Carregado, que acabou por ter o bebé na rua, antes de uma ambulância ter chegado ao local.

A chamada feita para a linha dedicada SNS Grávida, às 10h16 de 11 de agosto "foi atendida, por um enfermeiro, no espaço de 17 segundos", acrescentando o comunicado que "o processo de triagem durou cerca de quatro minutos", que resultou no encaminhamento para o Hospital Beatriz Ângelo, em Loures, "o prestador de saúde disponível no sistema de informação".

Segundo a SPMS, a chamada deveria ter sido reencaminhada para o INEM.

Contactada pela Lusa, a SPMS disse não poder prestar mais esclarecimentos adicionais às informações avançadas no comunicado sobre o caso, referindo que a averiguação prossegue e que ainda não foram ouvidas todas as pessoas envolvidas.

"A SPMS lamenta os factos relatados e reafirma o seu empenho e compromisso na melhoria contínua dos serviços prestados pela Linha SNS 24", concluiu o comunicado.

IGAS vai investigar

A ministra da Saúde solicitou à Inspeção-Geral das Atividades em Saúde (IGAS) a abertura de um processo de inquérito ao caso de uma jovem grávida que teve o parto numa rua do Carregado, no concelho de Alenquer.

"O procedimento foi já determinado pelo Inspetor-Geral das Atividades em Saúde para investigar os factos relativos à assistência prestada pela Linha SNS 24 e pelo Centro de Orientação de Doentes Urgentes (CODU), no momento da ocorrência, bem como à assistência prestada pela Unidade Local de Saúde do Estuário do Tejo à grávida", refere o Ministério da Saúde em comunicado.

Governo pede abertura de inquérito a caso de mulher que deu à luz na rua

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Grávida era uma doente de risco, por já não ter um rim. Apesar disso, quando começou a sentir contrações e a família ligou à linha de Saúde 24, em vez de enviarem uma ambulância, pediram-lhe para ir de carro.

Carolina Pereira Soares com Lusa | 13:48 - 12/08/2025

A cronologia dos acontecimentos

A chamada feita pela família de Soraia para a linha dedicada SNS Grávida foi registada às 10h16 de 11 de agosto. A mesma "foi atendida, por um enfermeiro, no espaço de 17 segundos" e o "processo de triagem durou cerca de quatro minutos", tendo resultado no encaminhamento para o Hospital Beatriz Ângelo, em Loures, "o prestador de saúde disponível no sistema de informação".

Segundo a SPMS, a chamada deveria ter sido reencaminhada para o INEM.

Já o Instituto Nacional de Emergência Médica, que os pais da grávida contactaram de seguida, afirmou que a Central 112 encaminhou a chamada de socorro, tendo a mesma sido atendida pelo CODU às 10h29.

O CODU ativou para o local uma ambulância dos Bombeiros Voluntários de Alenquer, às 10h33, e a Viatura Médica de Emergência e Reanimação (VMER) de Torres Vedras, às 10h37, dado que a de Vila Franca de Xira estava empenhada noutra ocorrência.

Segundo o INEM, a mãe e a bebé foram transportadas para o Hospital de Santarém, com acompanhamento do médico da VMER.

O comandante dos bombeiros de Alenquer, Daniel Ribeiro, disse, por seu turno, à Lusa que, a corporação recebeu uma chamada do CODU, tendo saído uma ambulância para a ocorrência pelas 10h30 e chegado ao local pelas 10h38.

Certo é que, quando os bombeiros chegaram ao local, o parto já tinha ocorrido. Mãe e filho estavam bem e foram depois transportados para o Hospital de Santarém.

Mulher dá à luz na rua. Pediu ambulância, disseram-lhe para ir de carro

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Grávida era uma doente de risco, por já não ter um rim. Apesar disso, quando começou a sentir contrações e a família ligou à linha de Saúde 24, em vez de enviarem uma ambulância, pediram-lhe para ir de carro.

Tomásia Sousa | 13:05 - 12/08/2025

Ordem dos Médicos pede esclarecimentos

A Ordem dos Médicos (OM) pediu entretanto esclarecimentos ao Ministério da Saúde, à Direção Executiva do SNS e ao INEM sobre um parto ocorrido na via pública, para "apurar em detalhe" as circunstâncias do caso, que considera "inadmissível".

A OM refere em comunicado que tomou conhecimento da situação de uma mulher que teve o bebé numa rua do Carregado, no concelho de Alenquer, expressando "votos sinceros de plena recuperação e bem-estar para a mãe, o recém-nascido e a respetiva família".

Adianta que, "de forma responsável", solicitou esclarecimentos às três entidades, "com o objetivo de apurar em detalhe as circunstâncias que conduziram a este desfecho e de avaliar eventuais falhas ou necessidades de melhoria no acesso e na capacidade de resposta da linha SNS 24 e dos serviços de saúde".

"Esta situação é inadmissível e é fundamental perceber exatamente em que circunstâncias ocorreu", defende a OM, esclarecendo que o seu propósito "é garantir que, no futuro, situações semelhantes possam ser prevenidas".

Leia Também: Parto no meio da rua? Mulheres Socialistas pedem demissão da ministra

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