Hells Angels: Tradutores querem remuneração justa para evitar libertações
A Associação Portuguesa de Empresas de Tradução (APET) apelou hoje à Administração Pública para adequar a tabela de remuneração daqueles profissionais à complexidade dos processos judiciais e prazos exigidos, para evitar casos como a libertação dos Hells Angels.
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País Tradução
Na passada semana, o fim do prazo máximo de prisão preventiva ditou a libertação de 37 dos 40 elementos do grupo 'motard' conhecido como Hells Angels, acusados de vários crimes, alegadamente e em parte, devido a atrasos na tradução da acusação.
"A APET, na sequência da recente notícia da libertação dos Hells Angels, meramente a título de exemplo, que é em parte imputada a um atraso na entrega de uma tradução vital para o processo, não pode deixar de manifestar publicamente a sua posição", explicita.
"Estas situações só ocorrem devido à forma como a Administração Pública decidiu, em 2008, regular a remuneração dos tradutores e intérpretes profissionais", referiu a APET em comunicado, argumentando que a tabela remuneratória não é compatível com a complexidade das traduções em ambiente judicial.
Para a APET, em Portugal, "a tradução e a interpretação são vistas como algo secundário, como um custo desnecessário, uma tarefa que pode ser feita pelo imigrante que chegou ao país, desesperado e desempregado, aprendeu a língua e viu na tradução uma oportunidade fácil de trabalho".
A associação sublinhou que o facto de se falar dois idiomas "nem sequer significa ter competências para traduzir ou interpretar, neste caso em especialidade jurídica e em contexto de tribunal", reclamando um valor adequado à especificidade dos processos e experiência profissional.
Segundo a APET, a atual tabela define a remuneração "independentemente da combinação linguística, prazos ou complexidade do processo", o que significa que, em média, um tradutor ou intérprete profissional ganhe entre seis e oito euros à hora.
"Parece este um valor justo para um profissional experiente e formado? Assim sendo, tirar um curso universitário e investir numa carreira simplesmente não compensa", lamenta a associação, sublinhando que "ninguém quer trabalhar sem receber".
A APET diz "conhecer o desespero" das entidades policiais e judiciais, que procuram este profissionais "e a única resposta que obtêm é um não", pois "não é possível" prestar serviços "pagos a valores a um quarto do preço de mercado e receber em prazos que ultrapassam em muito o razoável".
"As empresas e os profissionais da tradução têm as competências e as ferramentas para dar a resposta que a Administração Pública necessita atempadamente, para que casos como este [libertação dos Hells Angels] não voltem a acontecer", conclui.
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