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O "nobre" médico português que morreu infetado pela doença que combateu

A coragem e o empenho do médico Aníbal Esmeriz é a memória mais viva da "gripe espanhola" em Sesimbra, onde o clínico morreu em 1918, infetado com o vírus que contraiu a tratar muitos doentes desta pandemia.

O "nobre" médico português que morreu infetado pela doença que combateu
Notícias ao Minuto

07:51 - 28/04/18 por Lusa

País Sesimbra

Para eternizar esta memória, Aníbal Esmeriz dá nome a uma rua em Sesimbra, onde consta uma placa toponímica a recordar aquele que foi médico municipal entre 1914 e 1918, período durante o qual grassou ainda a I Guerra Mundial.

Um busto no átrio do Hospital da Misericórdia nesta cidade foi igualmente colocado como forma de homenagear o clínico que estudou matemática e filosofia na Universidade de Coimbra antes, de se licenciar em Medicina "com distinção", em 1907.

Em Sesimbra, destacou-se no tratamento dos 'epidemiados' - assim designados os doentes com a gripe pandémica, também conhecida por 'gripe espanhola' - acudindo-os dia e noite, segundo relatos da imprensa local.

A dedicação deste médico foi de tal ordem que, em 1923, cinco anos após a sua morte, a associação de socorros mútuos 'O Destino' realizou uma sessão solene que contou com a presença do Presidente da República, António José de Almeida.

Nessa sessão de homenagem ao "grande médico mutualista Dr. António Aníbal de Araújo Esmeriz, grande coração que fez da ciência médica um sacerdócio do bem e do sacrífico da sua vida um exemplo de nobreza", o presidente da direção da associação 'O Destino', Virgílio Mesquita Lopes, referiu-se ao clínico como "um protótipo da honra, da honestidade e do caráter".

Aníbal Esmeriz era "um clínico delicado e bondoso, que tinha como primeiro dever seu animar o doente, dar-lhe antes de qualquer remédio o conforto moral de uma palavra amiga", segundo Virgílio Mesquita Lopes, na sessão de homenagem, em 1923.

"A esta qualidade juntava os conhecimentos vastos que tinha da arte de curar, na forma que da debelação do mal não se impunha só pela assiduidade com que se abeirava do enfermo, mas pelo escrúpulo com que procurava diagnosticar a doença", segundo o mesmo discurso, registado em documentos consultados pela Lusa.

A ação deste médico foi determinante em 1918, "esse período horroroso" da morte "pairando sinistra sobre as cidades, vilas e aldeias".

"Foi ele que quase fez milagres para, sozinho como estava, poder atender em dias e dias sucessivos às centenas de 'epidemiados'", recordou então Virgílio Mesquita Lopes.

Atingido pela doença, o clínico continuou igualmente a acudir as vítimas da pandemia: "Qual outro lobo do mar que na iminência do temporal sabe que morre, mas não desanima de salvar, assim o Dr. Esmeriz, conhecendo perfeitamente o seu estado, foi-se entregando e dando ao tratamento dos seus doentes, como quem trabalha com o maior esmero os últimos períodos do livro da caridade".

Em 1927, o jornal 'O Cezimbrense' publicava na primeira página um preito de homenagem a Aníbal Esmeriz, no qual se destaca "a sua extraordinária ação exercida durante a epidemia de 1918".

"O ato nobre, valoroso e humanitário que cometeu, sacrificando-se até sucumbir, fê-lo circundar duma auréola de prestígio, visto ter demonstrado eloquentemente ser um verdadeiro benemérito, dispensando a sua própria vida em benefício da humanidade", lê-se no artigo.

A gripe pneumónica, assim designada porque as vítimas sucumbiam com uma pneumonia, matou entre 50 mil e 70 mil portugueses. No mundo inteiro, o vírus tirou a vida a 50 milhões de pessoas, mais do que as que tombaram durante os quatro anos da I Guerra Mundial.

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