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Na Grécia, "geringonça" será mais difícil de conseguir após as eleições

O próximo governo na Grécia, após as legislativas de 2019, poderá resultar de uma "união das esquerdas" mesmo com uma derrota do Syriza, embora uma "geringonça" à grega seja mais difícil de concretizar que no caso de Portugal.

Na Grécia, "geringonça" será mais difícil de conseguir após as eleições
Notícias ao Minuto

16:55 - 09/03/18 por Lusa

Mundo Alexis Tsipras

O primeiro-ministro Alexis Tsipras, que desde janeiro de 2015 dirige um executivo em coligação com o pequeno partido Gregos Independentes (Anel, direita soberanista), tem referido que a atual experiência governativa portuguesa pode ser um "modelo" para a Grécia após o fim do terceiro memorando aplicado pelos credores, anunciado para agosto, e a possibilidade não é excluída pelo académico e politólogo grego Ilias Nikolakopoulos.

As sondagens de opinião têm indicado que o principal partido da oposição, a Nova Democracia (ND, direita conservadora) ronda os 30% das intenções de voto, enquanto o partido de esquerda Syriza está próximo dos 20%, resultados que não garantem ao partido vencedor uma maioria absoluta.

No entanto, existem diferenças decisivas no cenário político dos dois países. Após o colapso eleitoral do Movimento Socialista Pan-Helénico (Pasok) nas duas legislativas de 2015, que confirmaram a emergência do Syriza, os sociais-democratas gregos avançaram para uma "frente" designada Movimento para a Mudança (KA), que engloba outros pequenos partidos, e pode assumir-se como o "partido charneira" no cenário eleitoral que vai surgir em 2019.

"O objetivo de Alexis Tsipras seria garantir o apoio do KA, mas é muito mais difícil obter o apoio do Partido Comunista Grego (KKE)", como sucedeu em Portugal, assinala em declarações à Lusa Ilias Nikolakopoulos, 69 anos, também especialista em sociologia eleitoral e estudos de sondagens de opinião.

"O KKE não é tão flexível, é mais duro que o Partido Comunista português que fez a opção que sabemos, mas veremos. Após as eleições de 2019, provavelmente antecipadas de setembro para maio e a coincidir com as europeias, teremos uma situação política complicada porque existem diversos elementos em jogo", diz o politólogo.

A estratégia do Syriza, no caso de uma "saída limpa" do memorando, poderá ainda assentar numa campanha para demonstrar que a Grécia está a mudar em definitivo, que os "tempos negros" da austeridade e das imposições da 'troika' terminou, que o país vai crescer, na produção, no emprego, no nível de vida para a população.

A direita grega, que acusa o Executivo de ter aumentado indevidamente a enorme dívida pública (oficialmente, cerca de 180% do PIB), sugestão firmemente negada pela equipa ministerial, diz agora também temer o regresso em força do "clientelismo" para se obterem vantagens eleitorais.

"Ainda estamos a uma grande distância para prever a relação de forças nas próximas eleições. A não ser que exista uma alteração considerável de um mês para outro. Mas de momento não consigo prever exatamente qual será o resultado eleitoral dentro de 15 meses", reconhece o professor emérito de Ciência Política da Universidade de Atenas e atual vice-presidente da Fundação grega de cultura.

O KKE registou um enfraquecimento da sua base eleitoral nos escrutínios de 2015, mas como assinala Ilias Nikolakopoulos, continua a ser relativamente forte, possui uma grande tradição histórica e de momento parece ter conseguido ultrapassar um período de bloqueio.

"O facto de existir um primeiro governo de esquerda desde janeiro de 2015 significou um recuo do KKE. A partir do momento em que o primeiro governo de esquerda assinou o terceiro resgate, em julho de 2015, o KKE começou a recuperar, já foi mesmo percetível nas eleições antecipadas de setembro desse ano", explica este analista.

Neste último escrutínio, o KKE elegeu 15 dos 300 deputados ao parlamento helénico (5,5%) e apenas aumentou 0,1% face a janeiro. Ficou muito perto da aliança eleitoral Pasok-Dimar (6,3%) e ambos atrás do partido neonazi Aurora Dourada (CA), atual terceira força no hemiciclo de Atenas, ao garantir 7% dos votos e 18 deputados.

A contestação a diversas medidas governamentais de austeridade ou de privatizações, negociadas no último resgate de 2015, também tem sido assumida pelo KKE, através da sua organização sindical.

"Possuem uma sólida organização de base, apostam muito nas manifestações antigovernamentais, que na sua maioria foram organizadas pela central sindical, PAME, controlada pelo KKE. Os sindicatos oficiais hoje mobilizam mil, duas mil pessoas, mas a PAME mobiliza 20 mil, é a que tem um impacto na rua", nota o académico e politólogo.

Pelo contrário, uma das fragilidades do Syriza -- que registou uma cisão importante da sua ala esquerda em agosto de 2015 -- reside na sua pouca implantação no meio sindical e na sua organização partidária interna.

"Um dos problemas do Syriza é não possuir uma organização de base verdadeiramente sólida, neste aspeto é fraca. E se comparada com o KKE, também é fraca a nível sindical", reconhece Ilias Nikolakopoulos.

Apesar dos seus recentes descalabros eleitorais, o Pasok, que até 2012 rivalizou no poder com a ND desde o fim da "ditadura dos cornonéis" em 1974, também conseguiu manter a sua estrutura.

"A nível oficial e sindical, o Pasok resistiu aos momentos da crise. Sem membros, sem militantes, mas com as suas direções. Saiu muito enfraquecido da crise, mas mantém redes por todo o país, nos sindicatos, associações setoriais, a nível das municipalidades. E conseguiram formar uma identidade política: 'Não somos de esquerda nem de direita, somos Pasok', como dizem. É uma identificação política", diz este analista.

À margem desta disputa ao centro e à esquerda, a perspetiva de crescimento eleitoral dos neonazis da CA é outro fator que está a ser seguido com particular atenção, como reconhece o académico.

"Estão a crescer eleitoralmente. Ainda decorre o processo dos seus militantes [acusados de homicídios ou espancamentos de ativistas de esquerda ou imigrantes], mas o julgamento ainda não aconteceu. Não é uma tendência espetacular, mas estão a subir. Em 2015 havia a dúvida em saber qual seria o terceiro partido, se o novo centro ou a extrema-direita. Em 2019, será de novo uma das questões. Mas a primeira será sempre quem vai ganhar as eleições", afirma o académico.

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