"Vamos informar a União Europeia sobre a nossa decisão de suspender os pedidos de asilo de migrantes que chegam a bordo de barcos vindos do norte de África durante três meses", disse o chefe do Governo conservador numa intervenção no parlamento helénico, acrescentando que "todos os migrantes que entrem ilegalmente serão presos".
"A passagem para a Grécia está fechada", sublinhou aos deputados.
Referindo que o país está a enfrentar "uma situação de emergência", Kyriakos Mitsotakis explicou que são precisas "medidas excecionais" para enfrentar o atual cenário.
Mais de 2.000 migrantes foram resgatados na pequena ilha de Gavdos e em Creta nos últimos dias, marcando um "pico" no número de chegadas, segundo as autoridades gregas.
O Governo já tinha alertado para a urgência da situação quando, na terça-feira, o porta-voz do executivo, Pavlos Marinakis, referiu na televisão que a Grécia está perante "um fluxo migratório massivo, contínuo e crescente no sul do país".
De acordo com as autoridades gregas, mais de 7.300 migrantes chegaram a Creta e Gavdos desde o início do ano, um número muito superior aos 4.935 registados em 2024.
A Grécia já tinha suspendido temporariamente o processamento dos pedidos de asilo no início de 2020, em plena crise migratória com a Turquia, quando milhares de pessoas em busca de asilo na União Europeia afluíram à fronteira greco-turca.
De acordo com o primeiro-ministro, a suspensão temporária visa também enviar "uma mensagem de determinação (...) tanto aos traficantes [de seres humanos] como aos seus potenciais clientes".
Hoje mesmo, as autoridades gregas anunciaram ter resgatado 520 migrantes que estavam à deriva num barco a sul de Creta.
Esta ilha não dispõe de centros de acolhimento permanentes, com as autoridades locais a enfrentarem dificuldades significativas para acolher os refugiados e para satisfazer as suas necessidades básicas.
De acordo com a Agência das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR), um total de 19.000 pessoas chegaram irregularmente à Grécia entre 01 de janeiro e 30 de junho deste ano. Deste total, 7.140 desembarcaram na ilha de Creta.
O ministro das Migrações grego, Thanos Plevris, reuniu-se na terça-feira - juntamente com os homólogos de Itália e Malta - com o comissário europeu para os Assuntos Internos e Migração, Magnus Brunner, e com o primeiro-ministro do Governo de Unidade Nacional da Líbia, Abdul Hamid Mohamed Dbeibah, em Tripoli, para abordar a questão da migração irregular.
"Creta está sob uma enorme pressão e queremos evitar isso. A Líbia não fica longe da Grécia, por isso o que afeta aquele país também nos afeta", disse Plevris.
Durante a reunião, a Líbia, país de trânsito de milhares de migrantes que querem entrar na Europa, anunciou um plano para combater a imigração irregular no seu território.
"Será lançada uma vasta campanha nacional com o apoio de vários países amigos para combater o tráfico de pessoas", afirmou o chefe do Governo de Unidade Nacional da Líbia, executivo reconhecido pelas Nações Unidas.
A delegação europeia, liderada por Brunner, deveria também reunir-se com o chefe do Governo do leste da Líbia, Osama Hamad, que controla as zonas de onde partem alguns dos barcos para Creta, mas foi expulsa pelas autoridades regionais por terem, alegadamente, entrado na zona sem autorização.
Devido à situação do país, imerso num caos político e securitário desde a queda do regime de Muammar Kadhafi em 2011, a Líbia tornou-se igualmente um terreno fértil para as redes de tráfico ilegal de migrantes e de situações de sequestro, tortura e violações.
A Grécia, a par de Itália, Espanha ou Malta, é conhecida como um dos países da "linha da frente" ao nível das chegadas de migrantes irregulares à Europa.
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