Pelo menos 18 pessoas morreram e dezenas ficaram feridas, esta madrugada, na sequência de um ataque russo com 629 drones e mísseis que visou a capital ucraniana. Estão pelo menos quatro menores entre as vítimas mortais, ainda que os números possam aumentar, de acordo com o chefe da administração municipal de Kyiv, Tymur Tkachenko.
O ataque atingiu também a delegação da União Europeia (UE) em Kyiv, o que motivou a contestação por parte de vários líderes europeus. Contudo, a Rússia assegurou estar “a atacar alvos militares e paramilitares”.
O presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, assinalou que o ataque resultou num “assassinato horrível e deliberado de civis”, argumentando que “os russos não estão a optar por acabar com a guerra, apenas por novos ataques”.
“Durante a noite, em Kyiv, dezenas de edifícios foram danificados: casas residenciais, centros de escritórios, empresas civis. Entre eles, também o edifício onde está localizada a Delegação da UE na Ucrânia”, escreveu, na rede social X (Twitter).
Nessa linha, o chefe de Estado considerou ser “crucial […] que o mundo responda com firmeza”.
“A Rússia deve parar esta guerra que começou e continua. Pela rejeição do cessar-fogo e pelas constantes tentativas de se esquivar das negociações, são necessárias novas sanções fortes. Só isso pode funcionar. Os russos só entendem a força e a pressão. Por cada ataque, Moscovo deve sentir as consequências”, complementou.
Now, as our people are dealing with the consequences of one of the most large-scale Russian terrorist attacks, we see yet another attempt by Hungarian officials to portray black as white and to shift the blame for the ongoing war onto Ukraine.
— Volodymyr Zelenskyy / Володимир Зеленський (@ZelenskyyUa) August 28, 2025
In Ukraine, we responded positively… pic.twitter.com/hCdg0rHtRJ
O presidente do Conselho Europeu, António Costa, também condenou a ação "deliberada" da Rússia, tendo dado conta de uma "noite de ataques mortíferos" contra um edifício que tinha civis e pessoal da delegação da UE na capital ucraniana.
"Estou horrorizado com mais uma noite de ataques mortíferos com mísseis russos contra a Ucrânia. Os meus pensamentos estão com as vítimas ucranianas e também com o pessoal da delegação da UE na Ucrânia, cujo edifício foi danificado neste ataque deliberado da Rússia", escreveu, na rede social X (Twitter).
Horrified by yet another night of deadly Russian missile attacks on Ukraine.
— António Costa (@eucopresident) August 28, 2025
My thoughts are with the Ukrainian victims and also with the staff of @EUDelegationUA, whose building was damaged in this deliberate Russian strike.
The EU will not be intimidated. Russia’s aggression… pic.twitter.com/SZNeN31IOo
Na mensagem, o líder da instituição que junta os chefes de Governo e de Estado da UE avisou que o bloco europeu "não se deixará intimidar".
"A agressão da Rússia apenas reforça a nossa determinação em apoiar a Ucrânia e o seu povo", adiantou.
A presidente da Comissão Europeia, por seu turno, disse "estar indignada" com o ataque russo "nas proximidades" do escritório da Delegação da UE em Kyiv, prometendo novas "sanções severas" à Rússia e "apoio inabalável" à Ucrânia.
"Estamos a manter a pressão máxima sobre a Rússia e isso significa reforçar o nosso regime de sanções - em breve apresentaremos o nosso 19.º pacote de severas sanções e, paralelamente, estamos a avançar com o trabalho sobre os ativos russos congelados para contribuir para a defesa e reconstrução da Ucrânia", disse Ursula von der Leyen.
Numa curta declaração à imprensa, em Bruxelas, a líder do executivo comunitário reagiu aos bombardeamentos desta madrugada em Kyiv, e garantiu que a UE vai continuar a prestar um "apoio forte e inabalável à Ucrânia, vizinha, parceira, amiga e futuro membro" dos 27.
"Este foi o ataque com drones e mísseis mais mortífero à capital desde julho e [...] foi também um ataque à nossa delegação, [mas] estou aliviada por nenhum dos nossos funcionários ter ficado ferido", observou.
Entretanto, a responsável anunciou ter conversado com o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e com o homólogo ucraniano, exigindo que a Ucrânia se converta num "porco-espinho de ferro".
"Conversei há pouco com o presidente Volodymyr Zelensky e depois com o presidente Donald Trump, depois de um gigantesco bombardeamento em Kyiv que também atingiu as nossas instalações da União Europeia. Putin tem de vir para a mesa das negociações", escreveu Ursula von der Leyen, nas redes sociais.
A presidente do executivo comunitário europeu acrescentou que é necessário "assegurar uma paz justa e duradoura na Ucrânia", ecoando a principal reivindicação da UE e da própria Ucrânia perante a incerteza da postura de Washington, com "garantias de segurança firmes e credíveis que transformem o país num porco-espinho de ferro".
Já a presidente do Parlamento Europeu, Roberta Metsola, indicou que "o pessoal da Delegação da UE na Ucrânia é a voz da UE no terreno na Ucrânia e, ontem [segunda-feira] à noite, os seus escritórios foram alvo de mais um ataque indiscriminado da Rússia durante esta agressão sem sentido".
"Os meus pensamentos estão com toda a nossa equipa em Kyiv e com o corajoso povo da Ucrânia, que merece viver em paz", escreveu, no X.
The staff at the @EUDelegationUA are the EU's voice on the ground in Ukraine.
— Roberta Metsola (@EP_President) August 28, 2025
Last night, their offices became a target of another indiscriminate Russian attack during this senseless aggression.
My thoughts are with all our team in Kyiv and with the brave people of Ukraine who…
Por sua vez, a chefe da diplomacia da UE, Kaja Kallas, observou que, "enquanto o mundo procura um caminho para a paz, a Rússia responde com mísseis".
"O ataque noturno a Kyiv demonstra uma escolha deliberada de intensificar e ridicularizar os esforços de paz. A Rússia deve parar com as mortes e negociar", adiantou a Alta Representante da União para os Negócios Estrangeiros e a Política de Segurança.
While the world seeks a path to peace, Russia responds with missiles.
— Kaja Kallas (@kajakallas) August 28, 2025
The overnight attack on Kyiv shows a deliberate choice to escalate and mock the peace efforts.
Russia must stop the killing and negotiate.
A responsável informou ainda ter convocado o enviado especial da Rússia para o bloco comunitário, por forma a exigir explicações sobre o bombardeamento.
"Uma missão diplomática jamais deve ser um alvo. Em resposta [ao bombardeamento] chamámos o enviado russo para Bruxelas", escreveu, nas redes sociais.
Portugal descreve ataque como "inqualificável"
O Governo português também condenou fortemente o ataque massivo contra o território ucraniano, que designou de "inqualificável".
Numa nota na rede social Facebook, o Ministério dos Negócios Estrangeiros disse estar “ao lado da Ucrânia”, face à “agressão russa que mina os esforços de paz e agora visa instalações diplomáticas”, o que “é intolerável".
O primeiro-ministro, Luís Montenegro, ecoou estas declarações, mostrando “toda a solidariedade ao povo ucraniano e ao presidente Zelensky”.
“Face ao chocante e intolerável ataque russo à Ucrânia, toda a solidariedade ao povo ucraniano e ao presidente Zelensky. Provocou dezenas de vítimas civis, mortos e feridos, espalhou destruição e intoleravelmente atingiu a delegação da UE. É urgente que a Rússia pare a agressão e respeite a integridade da Ucrânia”, escreveu, no X.
Face ao chocante e intolerável ataque russo à Ucrânia, toda a solidariedade ao povo ucraniano e ao Presidente @ZelenskyyUa. Provocou dezenas de vítimas civis, mortos e feridos, espalhou destruição e intoleravelmente atingiu a @EUDelegationUA. É urgente que a Rússia pare a…
— Luís Montenegro (@LMontenegro_PT) August 28, 2025
Rússia defende ataques: "Os ataques são bem-sucedidos, os alvos são destruídos"
Por outro lado, a Rússia rejeitou as críticas da UE sobre o empenho em negociações, afirmando estar interessada em procurar a paz. Assegurou, no entanto, que continuará a atacar a Ucrânia até alcançar os seus objetivos.
"As forças armadas russas estão a cumprir a missão. Continuam a atacar alvos militares e paramilitares. Ao mesmo tempo, a Rússia continua interessada em prosseguir o processo de negociação, a fim de alcançar os objetivos que foram fixados por meios políticos e diplomáticos", disse o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov.
Peskov disse que é o exército ucraniano que ataca a "infraestrutura pacífica" russa, referindo-se aos bombardeamentos de Kyiv contra as refinarias que fornecem combustível à máquina de guerra de Moscovo.
"Os ataques são bem-sucedidos, os alvos são destruídos. A operação militar especial continua", acrescentou.
O Ministério da Defesa russo disse anteriormente que visou apenas alvos militares nos bombardeamentos com 'drones' e mísseis, incluindo mísseis hipersónicos Kinzhal.
[Notícia atualizada às 14h23]
Leia Também: MNE da UE em Copenhaga para reunião marcada por ataque russo em Kyiv