Noelle Lenoir, ex-ministra dos Assuntos Europeus e membro do Conselho Constitucional de França, foi alvo de uma queixa da associação SOS Racisme por comentários feitos sobre argelinos. Apesar das críticas, a antiga governante manteve a sua opinião.
Em causa está uma entrevista dada à estação francesa CNews, na passada sexta-feira, 8 de agosto, no qual Lenoir, ministra dos Assuntos Europeus entre 2002 e 2004, afirmou que "milhões de argelinos (...) podem sacar de uma faca no metro, numa estação, na rua, em qualquer lugar, ou pegar num carro e atropelar uma multidão".
Segundo o jornal francês Le Figaro, Lenoir, atualmente advogada, reagia à decisão do Conselho Constitucional de invalidar várias disposições fundamentais de um projeto de lei que visa endurecer a manutenção de estrangeiros em situação irregular em centros de detenção administrativa (CRA).
Três dias após a entrevista, na segunda-feira, a organização não governamental (ONG) SOS Racisme, que tem como objetivo combater o racismo e a discriminação na sociedade francesa, anunciou que apresentou uma queixa à Autoridade Reguladora da Comunicação Audiovisual e Digital (ARCOM) "após os comentários racistas de Noelle Lenoir na CNEWS dirigidos aos argelinos".
"Tal estigmatização xenófoba constitui uma ofensa pública de caráter racista, infração prevista e punida pela lei de 29 de julho de 1881", destacou a organização na rede social X.
SOS Racisme saisit l’#ARCOM et dépose plainte après les propos racistes de Noëlle Lenoir sur #CNEWS visant les Algériens.
— SOS Racisme (@SOS_Racisme) August 11, 2025
Une telle stigmatisation #xénophobe constitue une injure publique à caractère raciste, infraction prévue et réprimée par la loi du 29 juillet 1881. pic.twitter.com/HFNUfd1R9h
Em reação, esta quarta-feira, a ex-ministra defendeu que não se estava a referir à "comunidade argelina", mas sim a uma "minoria". E assegurou: "Mantenho as minhas palavras".
"Obviamente, não me referi à comunidade argelina que, no seu conjunto, vive pacificamente em França, mas a uma minoria visada pela OQTF (‘Obrigação de Sair do Território Francês’, em português) e que, no entanto, permanece no território da República", assegurou, em comunicado citado pelo Le Figaro.
"Devia ter dito milhares e não milhões. Corrigido isso, mantenho as minhas palavras", atirou a advogada.
Ex-ministra diz ter sido alvo de "ameaças de morte" após declarações
Lenoir afirmou, ainda, ter sido alvo de "ameaças de morte nas redes sociais e por telefone, insultos e difamações de caráter antissemita e sexista".
O seu advogado, Francis Teitgen, adiantou à agência de notícias francesa AFP que a ex-ministra apresentou uma denúncia pelas ameaças e já foi ouvida pela polícia de Paris.
O Ministério Público de Paris confirmou também à AFP que recebeu a queixa da SOS Racisme e a de Lenoir por assédio online.
Sublinhe-se que a comunidade argelina é uma das maiores comunidades estrangeiras em França. Números oficiais indicam que, em 2024, viviam em França 649.991 argelinos.
No entanto, as relações entre França e Argélia, historicamente tumultuosas, deterioraram-se nos últimos meses, estando agora os dois países à beira de uma rutura.
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