Pequim anunciou na terça-feira ter cortado relações com o Presidente checo, depois de Pavel se ter tornado no primeiro chefe de Estado em funções a encontrar-se com o líder espiritual tibetano, que o governo chinês rotula de "separatista".
O primeiro vice-primeiro-ministro e ministro da Saúde checo, Vlastimil Valek, rejeitou ingerências chinesas nos encontros das autoridades de Praga.
"Não estamos interessados em que os camaradas chineses nos digam onde os representantes checos podem ou não ir", publicou Valek nas redes sociais.
Também o ministro dos Negócios Estrangeiros checo, Jan Lipavsky, sublinhou que a viagem de Pavel à Índia, onde reside o líder espiritual tibetano, foi privada e que o governo chinês deve tratá-la como tal.
O porta-voz do governo, citado pela Rádio Praga Internacional, minimizou o caso, frisando que "atualmente, não existe comunicação direta entre a República Checa e a China a nível presidencial, pelo que esta medida não irá alterar a situação atual".
Pavel reuniu-se com o dalai-lama em julho, em Leh, no estado de Jammu e Caxemira, no norte da Índia, por ocasião do 90.º aniversário do líder espiritual, acompanhado pela embaixadora checa, Eliska Zigova.
O porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros chinês, Lin Jian, em conferência de imprensa, anunciou a retaliação na terça-feira, justificando que "apesar dos repetidos protestos e da firme oposição da China, o Presidente checo (...) viajou até à Índia para se reunir com o dalai-lama".
Pequim sublinhou que o encontro "contraria gravemente o compromisso político assumido pela República Checa com o Governo chinês" e "viola a soberania e a integridade territorial" do país asiático.
O encontro público de Pavel com o dalai-lama marcou uma rutura com a cautela tradicionalmente mantida pelos líderes internacionais e foi um gesto invulgar no atual panorama diplomático, onde poucos governos ousam desafiar abertamente a posição da China sobre o Tibete, território que invadiu em 1950 e anexou no ano seguinte.
Durante o encontro, Pavel manifestou o apoio à abordagem proposta pelo líder tibetano para resolver o conflito com a China, baseada num "caminho do meio", que não defende a independência do Tibete, mas sim a autonomia religiosa e cultural dentro do país asiático.
O presidente do Governo tibetano no exílio, Penpa Tsering, considerou a visita do líder checo um "marco histórico" e saudou o gesto como um apoio implícito à causa tibetana.
O dalai-lama vive na Índia desde 1959, depois de fugir do Tibete na sequência de uma tentativa de levantamento contra o domínio chinês na região.
Pequim não reconhece o Governo tibetano no exílio e acusa o dalai-lama de separatismo, acusação que este nega, defendendo apenas a autonomia e o respeito pela cultura budista tibetana.
Leia Também: China corta relações com Presidente checo por reunião com Dalai-lama