Quase uma semana após o primeiro-ministro espanhol, Pedro Sánchez, ter anunciado a decisão de reconhecer o Estado da Palestina a partir de 28 de maio, a tensão com Israel permanece mais acesa do que nunca. Esta segunda-feira, o governo israelita alertou Madrid que "os tempos da Inquisição acabaram" e que o país "fará mal" a quem lhe fará mal.
"Os dias da Inquisição acabaram. Hoje, o povo judeu tem um Estado soberano e independente e ninguém nos obrigará a converter a nossa religião nem ameaçará a nossa existência: faremos mal a quem nos fizer mal", afirmou o ministro dos Negócios Estrangeiros israelita, Israel Katz, num comunicado onde anunciou que ordenou que o consulado espanhol em Jerusalém encerre os seus serviços a palestinianos a partir de 1 de junho.
Na rede social X (antigo Twitter), Katz defendeu que Israel "não ficará em silêncio perante um governo que recompensa o terrorismo e cujos líderes, Pedro Sánchez e Yolanda Díaz, entoam o slogan antissemita 'Do rio ao mar, a Palestina será livre'".
"Aqueles que recompensam o Hamas e tentam criar um Estado terrorista palestiniano não terão qualquer contacto com os palestinianos", acrescentou.
Esta mañana he ordenado al @IsraelMFA que envíe una nota diplomática a la Embajada de España en Israel, prohibiendo al consulado español en Jerusalén realizar actividades consulares o prestar servicios consulares a residentes de la Autoridad Palestina.
— ישראל כ”ץ Israel Katz (@Israel_katz) May 27, 2024
No permaneceremos callados… pic.twitter.com/TXdXKpAdS1
Numa outra publicação, o ministro defendeu que "o povo israelita e o povo espanhol são povos amigos", mas estão a ser separados pelos governantes. "Não permitiremos que nos separem, nem vocês Pedro Sánchez e Yolanda Díaz, nem os membros do vosso governo", reiterou.
El pueblo israelí y el pueblo español son pueblos amigos. No permitiremos que nos separaréis ni tú, @sanchezcastejon y @Yolanda_Diaz_, ni los miembros de tu gobierno. pic.twitter.com/lVHZ5v84UU
— ישראל כ”ץ Israel Katz (@Israel_katz) May 27, 2024
Na semana passada, Yolanda Díaz, ministra do Trabalho e a número três do governo espanhol, foi criticada por Israel por ter afirmado que a "Palestina será livre do rio ao mar", uma frase ligada ao nacionalismo palestiniano, que não reconhece o Estado de Israel.
"Hoje comemoramos que Espanha tenha reconhecido o Estado palestiniano (...). Não podemos parar. A Palestina será livre do rio ao mar", disse Díaz num vídeo publicado nas redes sociais.
Na altura, o Ministério dos Negócios Estrangeiros israelita considerou ser "uma vergonha que a vice-primeiro-ministro de Espanha tenha apelado abertamente à destruição de Israel".
El reconocimiento del Estado palestino es una cuestión de derechos humanos y legalidad internacional.
— Yolanda Díaz (@Yolanda_Diaz_) May 22, 2024
La situación en Palestina nos obliga a no quedarnos aquí. Tenemos que seguir trabajando para acabar con el genocidio y conseguir un alto el fuego. pic.twitter.com/Tk3fKZw5V2
No domingo, Katz partilhou uma montagem de vídeo nas redes sociais, onde mostrava duas pessoas a dançar flamenco, seguindo-se imagens alegadamente captadas por milicianos do movimento islamita Hamas durante o atentado de 7 de outubro de 2023.
O vídeo é acompanhado por uma mensagem no centro, onde é possível ler "Hamas: Gracias España", aludindo à ideia de que o reconhecimento do Estado da Palestina por parte de Espanha beneficiaria o movimento considerado terrorismo.
.@sanchezcastejon, Hamas thanks you for your service. pic.twitter.com/Pkdp5diHRX
— ישראל כ”ץ Israel Katz (@Israel_katz) May 26, 2024
A publicação do vídeo foi criticada pelo ministro dos Negócios Estrangeiros de Espanha, José Manuel Albares, que o classificou como "escandaloso e execrável".
"Eu vi o vídeo, ainda antes de viajar para Bruxelas [...], é escandaloso e execrável. Todo o planeta sabe, incluindo o meu colega israelita que nós condenámos o Hamas e as suas ações", disse José Manuel Albares, em conferência de imprensa conjunta com o primeiro-ministro da Autoridade Palestiniana, Mohammad Mustafa, em Bruxelas (Bélgica).
Sublinhe-se que a Palestina é atualmente reconhecida por 143 países e amanhã, terça-feira, Espanha, Irlanda e Noruega avançarão com o reconhecimento.
Leia Também: Portugal quer "apoio sistemático" à Autoridade Palestiniana